Ramona

Quais seriam os meios decentes de conseguir me inserir no domo do seu coração? Prometer cuidar dele direitinho? Uma pista, uma pista; preciso saber de alguma peculiaridade imperceptível sua e enaltecê-la, e, por meio dela, fazê-la perceber que é com a minúcia dos olhos da cega devoção que te observo passar ao meu lado feito um raio, tão poderoso, efêmero e eletrizante quanto arrebatador e indiferente. Um sorriso seu que desse forças às minhas lânguidas, lânguidas projeções seria o suficiente para sacudir a poeira mortuária que se acumula sobre meus dias e pensamentos; como seria a possibilidade desse enlace aí, sob esse macio e sarapintado seio? Deve ser estranho passar os olhos pelos nervos expostos de um estranho... Mas, imagine o quão estranho é sentir e ver a estranheza dos próprios nervos sendo expostos numa catarse suscitada por uma estranha. Será que ressalto que a aspereza da minha pureza está mais do que maculada? Conquanto eu ainda sinta que posso ressuscitar por dentro, que posso reavivar algo de interessante em mim, tendo você por perto, um tal altruísmo não pesaria sobre seus ombros? Os sentimentos alheios exarcebados sobre nós, quando nos julgamos desmerecedores, ganham requintes de forca: sufocam, apertam, angustiam, afugentam; a inércia de uma falta de reciprocidade acaba por nos machucar se não estivermos aptos a sermos frios e incisivos. Contudo, óbvio, se não há o abandono e a preguiça imediata, se aquilo nos faz bem, traz paz e calma, a gente fica, se aninha, se debruça nos melindres, se deixa conquistar e ama de um jeito felino e ferino. Somos gatos interesseiros. Que correm atrás de um pedaço de carne e que, depois, querem o máximo de descanso e solidão possível.

Não sei lidar com você. Quero enquanto fujo.

Petrifico-me diante de seus olhos e me derreto quando, longe, ambiciono-os cravados nos meus.

Fujo querendo.

Queria uma resposta que te fizesse cair no ostracismo.

Ou nos meus braços.

É.

23/08/2012 - 18h15m

Velvet First Floor - The Flipside.