Cartas de Um Retornado... ( A Ladeira do Cansa-Burros!!!)
    
De: S.S. Potêncio,   "A Ladeira do Cansa-Burros!!!"...
 
(Não confundir com os políticos em Campanha no Interior do Portugal Telúrico-Provençal-Boçal-Animal-Xuxial!...)
 
 Após analizarmos muitos dos pronunciamentos que por aí andam na boca dos políticos, na sua grande maioria da minoria que os botou lá, uns,... práticamente todos!!!,... com vontade de entrar... e outros tantos, em luta para não sair do poleiro, e também dos formadores de opinião, além de vários filósofos anônimos em favor do bem colectivo, nós encontrámos algumas explicações que não queremos guardar só para nós, para uma boa parte do que "aí está"!...

Amigo nosso, virtual critico de alguns escritos que nós lançamos no ar, através da internet, ele entrou em contacto recente comigo e me pediu as coordenadas da “Ladeira do Cansa-Burros” lá na minha  Aldeia,... pois ele e alguns amigos da turma dele, estavam a planear de ir lá fazer uma caminhada "é Cu lógica"!... (foi assim que ele falou!)

- Dentro das minhas fracas, paupérrimas possibilidades actuais, nós então entramos em contato com as bases familiares que ainda labutam por lá (é sempre bom saber que ainda tem alguém lá butando... o pior vai ser quando ninguém lá butar) e as noticias não são boas nem ruins, antes pelo contrário, confirmam aquilo que todos já sabíamos... ‘nosotros no lo creemos en brujos!... todavia que los hay, es berdad!!!” ... iii   aatão lá bai!...

Natal, 13 de Janeiro de 2010,

Meu Prezado Amigo e Senhor António Freire,

Tive muito gosto pela sua lembrança de me fazer “retornar” no tempo (não no espaço) e, sobretudo pela sua idéia de visitar os caminhos da minha infância, muito antes de eu e alguns irmãos meus, termos ido a tirar as “sortes” para cumprir o serviço militar.

Como deve saber, a origem de todas as coisas materiais ela vem da terra, e para lá volta inexorávelmente tarde ou cedo, mas... não lhe quero importunar com os meus pensamentos mais profundos e, como se diz por lá, “bamos o´kintresssa”!...

 A “Ladeira do Cansa-Burros” era um pedaço de caminho íngreme utilizado naquele tempo em que ainda não existiam estradas de IP ou AA em “macdame” nem empedradas,  e muito menos asfaltadas!... e, por ideologia, quando se precisava subir a serra para trabalhar, qualquer ladeira cansava... homens e mulheres, não raras vezes as crianças,... pois a comunidade familiar era democrática; e a filosofia na prática dizia que... “quem não presta p’ra comer, não presta p’ra trabalhar” sendo que a recíproca era sempre verdadeira.  

O facto é que, quando eu mencionei este lugar nos meus escritos, que o Amigo leu,  eu o fiz na intenção de demonstrar que na vida de qualquer ser humano existem sempre ladeiras para suplantar.
- - - Existem sempre burros para se cansarem, uns por vontade própria e outros por imposição das necessidades da sobrevivência!
Ainda dentro desta linha de pensamento posso lhe afiançar que elas existem aonde o sujeito quiser... e, por isso, eu espero que não se tenha decepcionado ao ter chegado lá e não ter encontrado a tal “ladeira” – talvez nem os burros já existam por lá!!!... pois, ao que sei os tempos modernos trouxeram-nos os vários tipos de motores que são puxados por cavalos e nunca por burros, logo os Burros lá da Aldeia já não se cansam como no nosso tempo, carago!...
 
Quanto à minha Aldeia de Caravelas de Mirandela é aonde eu imagino ser!... a nossa terra é aonde cada um sonha que deve ser o melhor lugar do mundo!... porque, algum dia lá voltaremos como simples  e  mansos burros “retornados”.

Ainda, e também para complementar a minha resposta à sua carta, eu gostaria de acrescentar que – talvez por causa dessa Ladeira do Cansa-Burros – a minha Amiga e Conterrânea Ti Graziela Vieira, excelente referência para dichotes regionais, para poemas singelos do sentir Transmontano, ela me questionava porquê se diz que;  “andas de lado como os de Caravelas”???!!!... ao que eu respondi que,  tal expressão na boca do povo, ela  se deve ao facto de que o dono do burro costumava tanger o animal de tal forma que a cada nova “Verdascada” no lombo, ele (o animal, claro!...)  andava de lado! ... e lá continuava a subir a ladeira.

Aqui para nós que ninguém nos escuta (só lêem o que escrevemos) isto era mais ou menos parecido com as políticas partidárias que deram origem aos actuais donos do povo!,... dão-nos cá cada jasteirada no lombo, que nós continuamos a andar de lado, e não adianta mudar de partido!...
- a descolonização foi uma delas; mudamos do lado de lá do mar, para o lado de cá do mar da palha, mas os burros continuam os mesmos!
- Olhe... amigo... deixo-lhe aqui uma lembrança extraída do meu Livro de Trovas Comentadas “Curriças de Caravelas” , que espero lhe amenize esse azedume gástrico que fica depois de cada ida ao curral das vacas para tirar o Leite Nosso de cada dia...

(I)
Caravelas minha aldeia!,
Encostada ao pé da serra;
 O teu nome em mim semeia,
Saudades da minha terra!

- Quando posso a ti regresso, 
Tão feliz a pular de contente;
- Por ti, a Deus, eu sempre peço,
...E também por toda a gente!
(VII)
Temos tantas tradições,
Da Fé em Deus, e da distração;
Com amêndoas e pinhões,
Se joga ó par e ó par-não!
- Lá no ribeiro do Cóbo,
Ali por debaixo do “mourado” (4)
- O linho velho fica novo,
P’ra depois ser bem malhado.

(VIII)
Do "Barreiro" ao "Cansa-Burros",
Havia uma ladeira grande e estirada;
Bem assada e com dois murros,
A batata é colhida da "Sarnada".
(in: “CURRIÇAS DE CARAVELAS – TROVAS COMENTADAS 
  
Lembranças aos seus, e receba um forte abraço com a velha amizade de sempre!...  Abraço!  > Silvino Potêncio

Notas do Autor:
1 - estes versos foram  extraídos do meu Livro "Curriças de Caravelas - Trovas Comentadas" e publicado no site do Saudoso Amigo Poeta  Joaquim Evônio.