Amigo(a) eventual,


Já reparou?
Quantas correntes, longas, robustas, a se arrastarem pelo comprimento da vida, a fazerem de condenados os naturalmente inocentes? Talvez até mesmo você esteja num desses momentos. Por dentro muito barulho, que não se libera. Provocações e apelos com respostas guardadas.

Deixei de falar, de conversar, de dialogar, de cumprimentar e essa falta de barulho em mim não é normal. O que houve?, perguntam alguns. Não sei. Eu me pergunto o mesmo. Parece que estou isolada numa margem e que o mundo todo passa pela margem oposta. Se eu gritasse ouviriam, haveria um eco, talvez respondessem. Nem isso. Calei-me. Notei que estou (ou sou, de fato) muito diferente das pessoas que passam, convivem e cruzam comigo. O que significa isso? Nada. Nem caberia na descoberta algum preconceito ou análise de qualidade (caberiam?). Ocorre que de repente percebi o abismo que nos separa, o mundo diverso em que me encontro... meu mundo ainda com valores que, posso perceber, já não valem mais. Como as pessoas se barateiam e se vendem barato! Como se nivelam por baixo, pelo mínimo do mínimo que se espera!
Fendas largas, margens equidistantes, um vale (de lágrimas e espanto). Eis-me.

E a poesia?
Peguei para mim uns versos do meio. Apenas o recheio.
Sim! Eu bem me lembro de quando o pedaço da noite parecia bem mais longo que o do dia e que nele tudo cabia.
Hoje ambos se esprementem, dilatam ou anulam.
O tempo. Desimportou-se, desintegrado está.
Como eu e meu mundo. Como o seu mundo, talvez...

Inté!
Kathleen

*Quem caminha descalço não deve semear espinhos.* (G.Hebert)
Copyright© 2012 Kathleen Lessa. Direitos Autorais Reservados, Lei nº 9.610/ 1998

KATHLEEN LESSA
Enviado por KATHLEEN LESSA em 03/02/2012
Reeditado em 22/03/2012
Código do texto: T3478385
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