É Isso

Não pense que pra mim foi fácil. Joguei as cartas na mesa e estudei com uma concentração do além todas as jogadas vividas e as que viriam a surgir com o tempo e... Vi que não valeriam o esforço empreendido.

Se te machuco é porque estou sendo direto.

Se te ofendo é porque estou sendo sincero.

E, se isso te dói, a culpa é do mundo, que te acostumou com mentiras.

Sim, eu poderia me estender em amenidades e deixar meu intento nas entrelinhas, passível de sua compreensão ou não, forjando uma ilusão sua e do que tivemos tão idílica que ao final eu não me surpreenderia julgando-me um parvo errático.

Suas lágrimas, menos isso.

Esse aperto no seu estômago, menos isso.

Esse nó na sua garganta, menos isso.

Seu ódio por mim, menos isso... Tudo, menos deixa-la continuar fiada à minha teia de mentiras e omissões. Uma aranha má, é isso que sou. E tal como um aracnídeo repulsivo, fico esperando a presa surgir para me refestelar com sua vitalidade para posteriormente largá-la num cantinho qualquer em pura e sorumbática carcaça.

Eu acredito que o que mais valida uma mentira - o que a transforma em plausível realidade - é a crença nela depositada por seu locutor. Em suma, é basicamente isso: não acredito mais na mentira que vivemos.

E se eu nunca te pedi desculpas, não foi - como você sempre insinuou - por orgulho ou teimosia. Foi tão somente porque eu nunca fiz mau juízo das coisas que fiz.

Como agora, por exemplo, que, suponho, qualquer outra pessoa terminaria uma carta deste calibre com um "desculpa, mas é isso".

Fico só com o "é isso".

É isso.

04/11/2011 - 08h37m

Rafael P Abreu
Enviado por Rafael P Abreu em 04/11/2011
Reeditado em 21/09/2020
Código do texto: T3316948
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