Carta para um Poeta II

Olá“Tuninho”; primo poeta

Aplausos para o seu acervo!!!!

Fazendo um apanhado de todo escrito recebido da sua lavra, pude eu, constatar, que o primo poeta percorreu a terra, conheceu os dígnos e os imortalizou com o lirismo dos seus versos. Você falou de tudo e de todos, “Mestre Tuninho”. Todos foram lembrados; pelos menos os que não poderiam ser esquecidos.

Nos seus solilóquios, lembro-me, pois, de ter-lhe visto verbalizando com os Filósofos e, tentando através da poesia, interagir nos pensamentos dos mais notáveis gregos, e, aos moldes de São Thomaz de Aquino, harmonizar os reinos separados da fé, sem, contudo, mascarar a verdade...

Com Aristóteles, discípulo de Platão e mestre de Alexandre o Grande, parece-me ter ouvido a sua manifesta vontade de ajudar na recuperação de parte da sua obra perdida, principalmente a que enfatizava a observação da natureza...

Com o francês, Rene Descartes, decerto aprendestes os métodos matemáticos de conhecimento para buscar a certeza e, não entediar-se por não encontrá-la. - Afinal ele disse que somos um ser pensante por excelência; por isso nós existimos...

O seu falar sozinho com os grandes vultos fôra deveras extenso. Hengel, Hobes, Kant, Johon Loche e Jacques Rousseau faziam silêncio de oração para ouvir suas indagações feitas a Sócrates, a propósito de Diógenes pedir-lhe para sair da frente do Sol. Tudo isso eu testemunhei e aplaudi...

Na acrópole de Atenas, no alto do Parthenon, também lhe vi confabulando com os Gregos Deuses. - Hermes, guardião dos oradores e escritores, juntou-se a Apolo, que como patrono da música e da medicina, versou a seu respeito com conhecimento tão catedrático, que lhe fez adormecer... Até Poseidon, tido como um deus traiçoeiro, recebeu das mãos de Dionísio, uma taça de vinho para brindar a beleza dos seus versos que deixou Afrodite embriagada de amor. E, quando menos se esperava, poeta, uma bola dos Céus descia iluminando toda a acrópole para anunciar a chegada de ZEUS, o principal governante do Olimpo, Rei dos deuses que bradava: “Tuninho” também é Deus, vindo da antiga Cidade de Ifé, ao sudoeste da Nigéria! Dar-lhe-ei todas as honras merecidas e farei com que o mundo conheça o seu relicário de poesia...

Tudo foi por mim registrado com galhardia, poeta amigo e parente. Contudo, ainda, não posso epilogar o meu escrito, sem antes, porém, suplicar-lhe o obséquio de conhecer o panteísmo do Candomblé e dialogar, também, com os Orixás. Não lhe assiste razão, pois, desconhecer a magia dos povos Nagôs, Ketu, Bantu, Angola e do Congo. Nossos ancestrais...

Como arauto da família “Rocha”, quero lhe ver sentado no centro da Mandala, ouvindo a liturgia dos “Babalorixás” e “Yalorixás” sobre as forças da Natureza e a epopéia da sua cultura, esbulhada pelos Faraós da Casa Grande, que ainda mantém suas senzalas...

O primeiro a usar o púlpito será o Orixá OGUM, deus da guerra e dos caminhos, de cujo sincretismo é Santo Antonio; Santo que inspirou o nome do poeta e do seu genitor. - Com a sua “obé” empunhada, dançando no compasso do atabaque para saudar-lhe com uma saudação de paz franciscana e, dizer-lhe que todas as terças feiras “Ele” é contigo e levar-te-á a perspicácia de versar o amor.

Depois é a vez de XANGÔ, Senhor da Justiça, com o seu machado de dois gumes empunhado, que sabendo da sua dúvida e curiosidade, de pronto responderá: A Justiça é, antes de tudo, uma característica possível, porém não necessária, de uma ordem social...

Seguido por ERÊ, o deus protetor das crianças, trajando-se na cor verde e dourado, tendo-o nas mãos, palma de Santa Rita, pronto para felicita-lhe pelo seu mister pediátrico e ungir a sua cabeça com ungüento santo. Tenho certeza que terás muito a perguntar e a dizer ao deus Erê, que no sincretismo é também conhecido por Cosme & Damião. Boa oportunidade, poeta, para questioná-los sobre o padecer das nossas criaturinhas, que não bastasse nascerem defeituosas, são abandonadas à própria sorte por determinação dos Faraós...

Na seqüência, você conhecerá, os Orixás OXUM, NANÃ, IANSÃ e OXOSSI. Deuses que dominam as águas doces, as matas, a fertilidade, a riqueza, os ventos, as tempestades, as paixões e aventuras, a vida e a morte. Conhecerá também OMOLÚ, o deus protetor dos leprosos, que atende também por São Lázaro. Ele repetirá para você, poeta, as palavras do Mestre: “Deixe que os mortos enterrem seus mortos”, fazendo uma patente alusão ao caráter necrosado dos Faraós dos nossos tempos e, na oportunidade pedir-lhe-á para usar a poesia como um bálsamo para os que padecem...

Á esta altura, a sua voz entrecortada não mais ecoa uma frase inteira. Tomado de êxtase, aos poucos o Menestrel da Tijuca se refaz para receber a protetora dos Lares, Mãe de todos os Orixás, com seu reluzente vestido azul e branco, instrumentado com o seu Abebé (abano de prata), pronta pra lhe explicar tudo do que é composto o Cosmo. Você está diante de YEMANJÁ, a Nossa Senhora da Conceição; da concepção; que concebeu o filho de Deus... Diga-lhe: Ave Maria! Bendita sois dentre as demais!..

Ela enxugará as suas lágrimas de emoção e lhe mandará olhar pra cima e ver quão lindo é a ribalta iluminada para apresentar-lhe o Novo; o Eterno; o Pai Celeste chamado OXALÁ. - Pai de todos os deuses, criador dos céus e da terra e, que lhe dirá, firmemente, em poucas palavras, que Eça de Queirós foi feliz quando afirmou: - "É na natureza que se deve procurar a religião: não é nas hóstias místicas que anda o corpo de Jesus - é nas flores das laranjeiras." - Ao que eu completaria: ...E nos versos lírico do poeta “Tuninho”.

Por todo o exposto, suplico que conheça e dialogue um pouco com os Orixás, deuses dos nossos ancestrais, vez que hoje, não carecemos mais nos esconder na fumaça negra do sincretismo nefasto e inquisitório da Igreja. Se o Candomblé tivesse nascido na Europa, decerto, a maioria dos brasileiros seria adepto e devotos dos Orixás... Com a palavra, o Senhor Preconceito Racial que habita entre nós...

Por derradeiro, resta-me pedir-lhe desculpa pelo meu devaneio literário e, reafirmar, que de poeta e louco, todos tem um pouco; no meu caso, eu possuo com abundância a loucura... Mas para parabenizar o poeta, eu arrisco um escrito sem temer o ridículo.

Parabéns poeta!!.

C/meu carinho,

Leonam Obol

Manoel Rocha Lobo
Enviado por Manoel Rocha Lobo em 24/10/2011
Código do texto: T3295339
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