Depois da comemoração, a Reposta...

Querido,

Como eu havia dito e, de certo modo, prometido, esta é a resposta a sua carta. Não sei ao certo por onde começar, mas vou tentar ser breve, para que esta não seja uma carta de vida, mas uma carta de momentos.

Primeiro, gostaria de agradecer MUITO a carta. Foi o meu melhor presente. De longe nenhum outro foi tão inesperado, tão verdadeiro e tão apaixonante quanto o seu. Confesso que fiquei comovido, mas guardei as lágrimas, mesmo que de felicidade, fiquei com ciúmes de soltá-las para o mundo: queria aquele momento só para mim. Sua carta está salva aqui e nunca será apagada, nunca será esquecida ou perdida.

Confesso também que ao escrever esta carta, faço-o com um nó na garganta, um nó profundo e perdido. Não sei ao certo por que. Mas tentarei explicar porque, porque eu sinto isso.

Bem, começo por falar de mim. Você me conhece não? Sabe que eu ajo como se fosse invencível, como se fosse indestrutível e tento passar essa imagem para o mundo. Só que a verdade é: eu estou confuso. Confuso há tanto tempo, por medo, por falta de coragem de seguir em frente, por vergonha de admitir que errei e que eu devo consertar meus erros. Eu tento levar a vida como se fosse dono de mim, dono de meu destino, mas eu não sou. Tenho medo disso tudo. Dá para acreditar?

Alguém que sabe tanto do mundo, que sabe tanto de tantas pessoas, não saber de si? É possível? Eu fico tão confuso... Eu nunca conheci meu pai. Primeiro, eu mentia, dizia que ele morreu. Hoje, eu digo a verdade, digo que eu não sei quem ele é. De novo eu minto, hoje, ao dizer que eu não sinto falta de ter um pai, pois eu sinto. Sinto tanto que, creio eu, isso se refletiu no meu maior sonho: ser pai. Eu sempre quis ser pai, adotar uma criança e poder dar a ela o amor que nunca tive. Mas como podemos dar a alguém o que nunca tivemos? Como podemos amar alguém, sendo que nunca fomos amados? Nunca conheci meu pai, mas isso não me impede de poder amar a uma criança com todas as minhas forças.

Para isso eu vou vivendo a vida de acordo com coisas que possam tornar meu sonho mais fácil. Algumas escolhas que tomei foram difíceis, mas vieram para corroborar meu sonho e o percurso para alcançá-lo. Outras vezes, eu abandonei sonhos secundários para aquele maior. Vivi uma vida que não sei se é a que realmente a que escolheria se tivesse tempo e sabedoria para escolher. É claro: sou jovem, não entendo muitas coisas, vivi poucas experiências, mas todas intensas.

Em resumo, abandonei sonhos como: passar uma semana de provas na balada, viajar o mundo, conhecer a Disney, amar alguém. Na verdade, de todos esses sonhos, que mais eram vontades, amar alguém foi o que mais me doeu. Sabe por quê? Eu nunca acreditei no amor, sempre o vi como uma fantasia, um luxo do ser humano, mas eu sempre pedi nas minhas preces conhecer alguém para eu poder amar.

Fui levando a vida, vivendo-a. Fiquei com pessoas que hoje eu nem lembro os nomes. Beijei, fiz juras de amor, todas em vão, todas falsas e mentirosas. Nunca senti ISSO por alguém, não de verdade.

Bom, com relação aos estudos místicos, isso você já sabe, vem de outras vidas, de outros momentos. Quem sabe nunca nos esbarramos em outras jornadas? (risos).

Agora, sobre você... Eu reluto há quatro ou cinco dias para escrever esta carta. Primeiro por medo do que vai pensar, segundo por falta de coragem e terceiro por medo de errar.

Quando eu te conheci, o primeiro dia que te vi, confesso que fiquei confuso. Confuso sobre o que seria você. Um segredo? Aquele foi, de longe, melhor que o melhor primeiro encontro que eu já tinha tido. Eu aqueci-me de novo aquele dia. Fui embora sorrindo e perdido, pulando pela rua. Como se fosse uma faísca solta no meio da rua. Até hoje eu tenho saudades daquela chuva. Juro que nunca sonhei com algo tão bonito como aquilo. Só que eu fiquei travado quando me disse não. Em termos eu gostei. Em termos não. Mas foi a melhor resposta, nas dadas circunstancias, que alguém poderia me dar.

Nas outras vezes, toda a vez que pensava em você meu coração acelerava. Sentia falta de você, vontade de ver. Às vezes sentia como se fosse toda a luz do dia. Outra vez, me sentia um nada. Mas era bom. Eu gostava. E então fomos levando, até que aquele dia você me deu um beijo. Confesso que foi bom, melhor do que eu esperava. Queria ter ficado preso naquele dia eternamente. Só que ai veio o dia que você disse que havia acabado.

Naquele dia eu queria te matar – serei sincero. Eu fui embora, cheguei e chorei tanto. Chorei como não chorava há tantos tempos. Mas os dias foram passando e a cada dia eu tentava esquecer. Voltar a ser como era, mas não dava. Não entendo até hoje como pode você mexer tanto comigo. Não entendo o porquê. Nem sei ao certo a razão disso tudo. Só que eu nunca esqueci.

Não estou te pedindo nada, nem te obrigando a dizer nada.

Nunca encontrei ninguém que me visse como você vê.

Nunca encontrei ninguém que me tratasse como você me trata.

Nunca encontrei ninguém que conhecesse tão de perto tantos pedacinhos da verdade.

Quando li isso, eu pensei: eu conheço pedaços da verdade que eu procurei e todos eles eu te dei e os pedaços que não dei, darei.

Agora, sabe por que eu te vejo como ninguém vê? Sabe por que eu te trato como ninguém trata? É porque o que eu sinto não é normal. Eu sempre te entendi porque não podemos esperar dos outros nada além do que eles podem dar. Sempre fui assim. Mas com você é diferente. Confesso que eu espero de você coisas que não sei se poderia me dar, não por falta de capacidade – pelo contrário. Mas não sei se você poderia me dar porque, talvez, não seja o que você sente.

Todos os dias quando você me liga, eu fico te ouvindo, esperando que você diga algo, que você diga algo que eu possa guardar para sempre. Um tom novo na sua voz. Eu não sei, mas eu tento te entender até hoje. Você é diferente de tudo que eu já vi. É bom.

Eu não sei, já disse para mim mesmo que eu não sei o que é isso. Não sei se é amor, se é paixão, se é amizade, o que é – eu ainda não sei. Não sei por que eu nunca vivi isso.

Desculpa te dizer tudo isso. Desculpa-me sei que você não está tão bem e que não devo levar problemas a mais para que vida, só que eu já não agüento mais guardar isso para mim.

Quero de verdade que você encontre e mantenha todas as situações que te fazem feliz. Que seja sempre feliz na busca. Na verdade foi isso que eu quis dizer. Que você consiga sempre o que quer e sempre em busca de novos interesses... Enfim, acho que deu pra entender que quero muito o seu bem. Esteja ele onde for. ^^

Eu irei. Prometo que irei. Só que tem uma coisa que não depende de mim: você. Você me faz bem. Faz-me feliz. Então, não vai poder ir embora da minha vida, afinal se quer minha felicidade (risos) – vai ter que me engolir.

Bom, obrigado de todo o meu coração por estar na minha vida. Por fazer parte dela e por nela, se assim for, permanecer nela. Estou com saudades de te abraçar – quero, logo, aquele prometido abraço...

“Foi como ver o mar.

Saber que mesmo depois da sua imensidão,

Ele não acaba.” [...]

Gustavo da Silva Andrade.

Le Vay
Enviado por Le Vay em 25/08/2011
Reeditado em 21/01/2012
Código do texto: T3182336
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2011. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.