Vou descer, então, né? Fazer o que...

Ah, Iá...

Há, Iá? Há mesmo isso tão lindo assim em Punta, ali embaixo?

Tá bom, eu desço. Desço pela imagem, pelo tema, desço em sua poesia, vou no rastro da cena.

Estava bom ali em cima. Nem tanto lá, nem tanto cá; ao meio, um quase em cima do muro sem que assim parecesse.

Usar a linha do Equador, mesmo com todo aquele calor, como apoio do meu balanço é algo tão bom que passa ideia de impossível ou de surreal. Não é para qualquer pessoa, precisa de mente que voa. Que voa e não tenha vertigens. Sim. Sabe o que é o giro de 360° na Terra, em velocidade alucinante? Era o que eu mais gostava de fazer quando o tédio ameaçava. Bastava um clique no botão mágico da cordinha do balanço e pronto, virava carrossel, brinquedo de parque feito pra gente grande. Sobrevoava três oceanos num piscar, com direito a tocar as águas com os pés. África de oeste a leste, desértica, gigante estonteante; umas terrinhas salpicadas da Ásia e o topo da nossa América do Sul. Uma beleza sair da rotina fazendo isso, dando essa voltinha!

Mas eu desço. Eu cedo, antes que seja tarde.

Bom seria se conseguisse deslizar por um meridiano desavisado; houvesse um que me desse, descida direta, livre, sem escalas, até Maldonado. Crise aérea é coisa do passado.

Agora, deixando de lenga-lenga, eu vou. Punta del Este que me aguarde. Quero ver gaivotas disputando peixes com leões-marinhos, quero sentir o ar, a brisa, o azul do céu, o mar de qualquer cor parecida com cor-de-mar. Tentar sondar o que ronda o pensamento e a inspiração de um poeta quando se defronta com essas imagens, sabendo das variações sobre duas margens resolve nos contar que "ainda há lugar neste pequeno cais, para a enorme vontade de ficar um pouco mais". Quero experimentar a ousadia de tentar perceber "que miragem amamos, pois, ano a ano: o que somos divide em dois, o mesmo oceano."

Pronto. Pisquei. Nessa hora piscar também funciona, aciona. Pisquei, imaginei, viajei, pasmei... Iá, meu amigo, meu irmão, já fui. Conheci. Conferir in-loco passa a ser mero detalhe. Conheci quando li, reli, suas palavras entre as linhas e nelas tentei captar as entrelinhas. O poder da leitura está também nisso: transportar, quase literalmente. Literaturamente: levitar, flutuar.

Punta del Este que me aguarde (ou não). Enquanto isso, eu que não me reenfie numa gaveta e lá de novo me guarde.

Obrigada pelo passeio sugerido e doado!

Beijo,

(respondendo, comentando as poesias En Punta del Este*, Punta del Este: variações sobre duas margens, e No cais de Punta del Este, livro Viavária, de Iacyr Anderson Freitas, Editora Nankin, 2010 - páginas 102, 103 e 104, respectivamente // *Esta, compondo a foto da Seção Foco -a pág. que sempre publica belas fotos, Revista Caras de 24/09/2010, Edição 881)

Recomendo: http://www.nankin.com.br/imprensa/Releases/Release-viavaria.htm

Lucia Sant ini
Enviado por Lucia Sant ini em 01/10/2010
Reeditado em 14/09/2016
Código do texto: T2531112
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