Um novo dia...

Meu amor,

Quisera eu ter-te novamente. Ter seus lindos olhos tocando minha face, como suas mãos, que me faziam arrepiar e ter sensações indescritíveis. Quisera poder saber como vai você. Como tudo está indo. Se você está bem, depois de todas as coisas. Se você ainda pensa em mim, nem que seja com um pouco de ódio. Se tudo melhorou. Se você está curado. Se ainda sente saudades de mim. Se a minha lembrança ainda assola teus pesadelos ou quem sabe esteja em seus sonhos.

Sabe, meu amor, eu não sei amar. Definitivamente, eu não sei. Sei que deve ser como nos filmes: onde todos ficam felizes para sempre. Mas você, melhor que ninguém, sabe que eu não gosto desses filmes. Eu sou do tipo que chora em filmes, para que mentir, se nada mais me resta, senão a verdade. Mas os filmes que eu choro são os amores imperfeitos: onde o amor sempre termina com a morte. Um morre, os dois morrem, o amor morre. Talvez seja por isso que não sei amar. Não consigo amar, sentir os calores e ardores de uma paixão. Vivo amores de dias. Mas nunca de semanas. Nunca de meses, tampouco de anos. Quiçá um dia, quem sabe do futuro, eu viva, ou não, um amor por toda a vida.

Eu perdi você tantas vezes. Perdi você de um jeito, por raiva. Depois por ignorância. Quem sabe quantas outras tantas eu perderei? Medo, ausência, desafeto, prioridades, são tantos os motivos que podem te afastar de mim. Que não sei mais se quero ou se preciso ficar enumerando-os. Só quero que você saiba que foi o melhor presente que recebi em toda minha jornada. Não digo por desmerecer meu filho – mesmo porque ele sempre estará acima de tudo – mas digo de tudo, você foi o melhor presente.

Aquele presente que veio dentro de uma linda caixa. Não aveludada, não de ouro. Não cara, não barata. Apenas dentro de uma caixa. Uma caixa de madeira, simples como a minha infância. Simples como as tardes que passamos juntos. Como o amor que brotava de nós. Como o pôr-do-sol perto do lago, como a tarde no teatro ou ainda à noitinha no sofá do seu apartamento. Eu sei o que dizem: as melhores coisas da vida são dadas de graça. Eu discordo. Custou muito ter tudo isso, e depois por medo ou por erros banais perder. Eu custei em te encontrar. Poderia, no dia que lhe conheci, ter perdido você.

Lembra-se? Estava em um chat, mas meu computador desligou. E tentei desesperadamente voltar, quando voltei, feliz ou infelizmente, você estava lá. Disse-me que sabia que eu voltaria. Naquele dia eu sabia que teria de ser você. Que deveria ser você. Hoje, eu já não sei. Sei somente que meu coração ainda bate forte quando te vê. Quem sabe um dia não, hoje, sim.

Eu sinto por ter depositado em você, uma responsabilidade, que talvez não fosse sua. Mas agradeço por estar ai. Por ter nascido, agradeço muito. Sem você, eu não teria conhecido o amor. Não saberia o que sentir. Não teria inspiração para escrever cartas de amor. Tampouco, poemas.

Só que com o passar dos anos, dos meses e dos dias, o tema mudou. Passaram de amores e ardores, para dores e rumores. Prostitutas e viúvas. Tudo mudou. Você também. Eu? Se tudo mudou, eu mudei. Não sei se para melhor, não sei se progredi se conquistei minha marca de “Progresso.” Sei apenas que mudei. E aqui estou.

Você mudou, mas continua lindo. Eu sei que agora estou mais bonito. Mas você me amou feio, ou assim eu achava, e agora? Sei que nossos corações foram partidos. Que eu pisei no amor que você me deu, sei de tudo isso. Mas de que adianta ficar remoendo pequenos pedaços. Fragmentos que podem ser colados, não perfeitamente, eu sei, mas ao menos uma cópia daquele amor. A pirataria é crime, mas agora peço a Deus que me permita fazê-la.

Quero uma cópia de seu amor. Uma cópia de você, alguém que tenha um pouco de você. Alguém que pareça com você. Alguém que seja você.

Mas é como no passado. Eu perdi você. Perdi uma vez. Duas. Três. Não sei ainda quantas vezes terei de perder.

Ontem a dor era tão grande que não podia sequer dormir. Hoje estou melhor. Sei que parece breve, mas meu ontem durou tantos dias. Tantas semanas. Tanto tempo, que não sei se tive tempo de contar o tempo passar. Talvez meu hoje dure só hoje. Talvez dure um segundo. Mas de uma coisa eu sei: se posso ficar bem. Eu ficarei. Não é sua culpa minha projeção. Não é. Mas é sua culpa meu amor: eu te amei pelo que você é. Por quem você é. Por aquilo que me deixou ver. Por aquele homem maravilhoso, forte e invencível que está ai, dentro desse mundo desolado.

Pensei em morrer. Mas lembrei que minha vida é sagrada demais para desperdiçá-la. E outra: morto eu não poderia escrever, ou poderia? Não poderia cumprir aquilo que me presto. Que é contar ao mundo o que sinto. Expressar o que os outros, e eu – acima de tudo –, sentimos. Sei que parece hipocrisia ou prepotência me achar representante de sentimentos tão íntimos. Mas você, meu lindo psicólogo, sabe melhor do que ninguém sobre isso: ajudar o mundo a expressar seus sentimentos. Seus anseios e receios.

Odeio psicólogos. E a culpa, disso sim, é sua. Você me mostrou um eu que eu queria não ver. Mostrou-me a ser outro. E agora sou. Estou forte, mudei. Sou apenas um recorte, daquilo que em outrora fui. Não sou mais um lindo garotinho. Sou um lindo homem. Um homem forte, mas que tem dentro de si um garotinho que ainda tem medo do escuro. Que não quer dormir sozinho. Que tem medo que as estrelas sumam. Mas o homem que me tornei, está aos poucos suprimindo ele. Não o subjugando, mas o ensinando. Amadurecendo-o. Tornando-o forte e homem. Agradeço por ter me feito maduro. Por ter me ensinado a lutar, ser forte. Não dar o que tenho de bom. Mas mesmo com toda essa força, que me permite ajuda os outros, ajudar os doentes do amor, existe uma coisa que ainda não aprendi: a suportar você.

Sou um adicto a você. Dependo de você. “I need you.” Não tanto quanto antes, não tanto quanto o dia que virá. Mas preciso. Não, prefiro mudar. Não sou dependente de você, sou viciado em você. Nos seus olhos verdes, no seu brinco, no seu cabelo tingido, suas mãos, suas costas. Seus braços, pernas, pêlos, tudo. Sua voz vem na minha mente, como se fosse uma linda sinfonia. Antes pensava ser de Tchaikovsky hoje, creio ser de Bach. Seu jeito de falar é um ritmo que me enlouquece, que me deixa – por que não – excitado. Queria abraçá-lo tanto. E um pouco mais.

O tempo passa, as pessoas mudam. Eu era um garotinho. Hoje sou homem. Um dia serei fertilizante de narcisos. Com tempo serei esquecido. Serei apenas adubo. Mas em minha alma, como um marca d’água, você estará. Sempre lá. Sempre. Não vou esquecê-lo. Pode ser que deixe de amá-lo, mas me esquecer, isso nunca. Nem que eu precise me lembrar todos os dias que não posso esquecê-lo, não esquecerei.

Por fim, quero dizer que: eu não amo mais você. Eu ainda gosto muito. Mas não é mais amor. Não é mais aquela chama. Meu peito não dói quando me lembro de você, nem minha garganta dá um nó. Eu apenas fico com o coração acelerado e uma dor no estômago, como um soco. Mas o resto voltou ao normal. Um dia tudo volta. Tudo volta a ser o que era. Tudo se torna calmaria de novo.

E como dizem os alquimistas: “Escuro e nebuloso é o inicio de todas as coisas, mas não o seu fim...”

Portanto, baseado nisso, eu afirmo que uma nova fase está começando. Que uma nova jornada vem ai. Talvez você retorne a minha vida. Talvez não. Mas isso é um longo assunto, não tenho tempo para pensar nisso hoje. Pensarei amanhã. Afinal de contas, amanhã é um novo dia. Um novo dia...

Le Vay
Enviado por Le Vay em 20/07/2010
Reeditado em 21/01/2012
Código do texto: T2390167
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