Macaé, numa noite qualquer de lua e solidão do ano 1981






Amiga,


De quanto silêncio tem-se feito os dias, apos aquele em que nos separamos...
Um silêncio destes hospitalares, silêncio do¬ente destes que o Chico cantou “... um silêncio tão doente de o vizinho reclamar...”
E dai? O silêncio das nossas vozes não silencia o mau pensamento que livre voa daqui, ai intermitentemente, liberto, pueril e por vezes irresponsável e se deleita platônico a te enamorar e freqüenta tua intimidade e te ouve e abraça diz as cousas todas que neste ínterim não te disse eu!...
É certo te asseguro que não te fostes!...
Vives aqui, comigo, pois que te vejo adentrando-se, a cada noite, (pe¬lo Zumpy) nas entranhas da minha solidão e te ouço contando as coisas do dia, cantando as coisas da noite e declamando as poesias que ou¬tros solitários compuseram quando naufragas percorreram as madrugadas frias de suas solidões...
Ontem a lua invadiu de tal forma a parte nossa do "Zumpy" que o "Chão de estrelas" do Orestes ficou mais feio que o chão do Zumpy prenhe de luz, de lua, de estrela e de solidão...
Sobre a nossa mesa não as estrelas, mas os olhos de... Luziam e a cada gole maior era o travo da cerveja e maior se fazia a necessidade de quebrar este silêncio.
E, mais que preciso vital, talvez, que nos vejamos a memória que julgo privilegiada já não basta para a recons¬tituição do afago, da caricia amiga e nem aquece o frio da solitária alma... Anda! ...vem! ...Vamos sair por Macaé afora, ate que se vá embora a noite solitária que habita em mim... Vem!... Povoa o sono, o sonho deste tristonho amigo, que se por abrigo teve o teu abraço hoje de cansaço a ti buscar parece já morreu.