CARTAS AO LEO

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Lagoa da Cruz, dois de Setembro de 2008

O Entalhe para mim, Leo, já foi muito mais do que uma distração, um passatempo, ou seja, um hobby. Houve época que tive um atelier ou ateliê, comercialmente bem localizado, onde além dos artísticos, aceitávamos encomendas para entalhar portas a serem fixadas em certas residências; enormes tabuletas -com o logotipo e o nome da fazenda - para serem fixadas em portais que davam entrada as fazendas, enfim, o entalhe tinha também um lado comercial.

Às vezes, pessoas que iam observar meus trabalhos na sala de exposição, diziam-me, diante de alguns deles em que havia figuras humanas:

— Mas uma pessoa não é assim! Essa figura é desproporcional!

Eu ficava sem saber o que responder e um tanto chateado com isso, até que, certo dia, li uma máxima de Matisse:

Conta-se que uma vez Matisse mostrou a uma senhora um quadro em que havia pintado uma mulher nua; sua visitante retrucou: “Mas uma mulher nua não é assim”. E Matisse: “Não é uma mulher, minha senhora, é uma pintura”.

Era a resposta aos meus anseios, Leo.

O mesmo serviria de resposta àquela senhora, que a respeito de seu poema, lhe disse que você exacerbou na idealização de sua musa.

Já que toquei no assunto da escultura, há uma história, provavelmente francesa, de um escultor que encomenda um grande bloco de mármore e se põe a trabalhar. Alguns meses mais tarde, ele acaba por esculpir um cavalo.

Uma criança, que o havia observado enquanto trabalhava, lhe pergunta: - Como é que você sabia que havia um cavalo dentro da pedra?

É por isso, que aquele velho deitado dizia: criança tem cada uma! É ou noé, Leo?

Ia por ponto final no noé, quando me veio à memória um fato acontecido com Miguelangelo. Perguntaram-lhe como é que fazia uma escultura, ao que ele respondeu: "Como faço uma escultura? Simplesmente retiro de bloco do mármore tudo o que não é necessário."

Forte abraço deste amigo pantaneiro

Ricardo Sérgio.

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Agradeço a leitura e, antecipadamente, qualquercomentário.

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