CARTAS AO LEO
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Lagoa da Cruz, dois de Agosto de 2008
Os anos de contato com a literatura desenvolveram-me a capacidade de observar e de intimamente prezar o que nossos poetas, em meu subjetivismo, têm de mais fino; e entre eles está Augusto Frederico Schmidt (1906-1965), um poeta da segunda geração modernista, obcecado com a idéia da morte, cujo sentimento escapa em muitos de seus poemas, onde há coisas assim:
Quando Eu Morrer
Quando eu morrer o mundo continuará o mesmo,
A doçura das tardes continuará a envolver as coisas todas.
Como as envolve agora neste instante.
O vento fresco dobrará as árvores esguias
E levantará as nuvens de poesia nas estradas...
Quando eu morrer as águas claras dos rios rolarão ainda,
Rolarão sempre, alvas de espuma
Quando eu morrer as estrelas não cessarão de acender-se
no lindo céu noturno,
E nos vergéis onde os pássaros cantam as frutas
continuarão a ser doces e boas.
Quando eu morrer os homens continuarão sempre os mesmos.
E hão de esquecer-se do meu caminho silencioso entre eles,
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer os prantos e as alegrias permanecerão.
Todas as ânsias e inquietudes do mundo não se modificarão.
Quando eu morrer a humanidade continuará a mesma.
Porque nada sou, nada conto e nada tenho.
Porque sou um grão de poeira perdido no infinito.
Sinto porém, agora, que o mundo sou eu mesmo
E que a sombra descerá por sobre o universo vazio de mim
Quando eu morrer...
Com efeito, Leo, quando eu, você, morrermos, o amanhã será o mesmo de ontem, porque aqueles que se vão, vão-se depressa.
Receba um forte abraço do velho amigo
Ricardo Sérgio.
Outras Cartas (clique no link):
Em Que Consiste a Verdadeira Sapiência.
Velhice a Partir dos Trinta Anos.
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