MARANHÃO SOBRINHO - Um Simbolista Sonhador
O universo da lieratura é repleto de sonhos e de sonhadores que, vivendo aquém e além do tempo e do espaço, projetam e constroem um mundo orientado pela Ética e pela Estética. Trilham o caminho do certo e do belo para realizar o Amor. Amor Universal. Só assim os sonhadores conseguem, mesmo contingenciado por adversidades tidas por muitos como insuperáveis, singrar por revoltos mares. E ao navegar, às vezes sem norte, sem vento ou contra o vento, alcançam paragens onde reina a emoção mais pura e bela.
Maranhão Sobrinho é o paradigma de vate que marcou o caminho do Simbolismo de forma indelével. A beleza de seus versos é realmente inquestionável e reconhecida pelos estudiosos da literatura pátria. A propósito, Raimundo de Menezes, membro da Academia Maranhense de Letras, em seu rico Dicionário Literário Brasileiro, segunda edição, LTC, Rio de Janeiro, página 406, dedica ao poeta barra-cordense verbete que merece transcrição na íntegra:
"Maranhão Sobrinho (José Augusto Américo dos Albuquerque) - N, em Barra do Corda (MA), a 25 de dezembro de 1879, filho de modesto lavrador. Ao lado de Xavier de Carvalho, Antônio Lobo, Astolfo Marques Correia de Araújo, fundou, em 1900, a Oficina dos Novos; em 1908, a Academia Maranhense de Letras. Com Artur Lemos, diretor de A Província do Pará, participa de movimento literário na capital do Estado. Na ocasião, entrou em contato com Carlos D. Fernandes. Boêmio, escrevia "em qualquer parte em que houvesse álcool, papel e tinta". Seus versos tiveram grande popularidade no Norte. No dizer de Antônio Reis Carvalho, se simbolismo "é menos extravagante, mais sensato, menos bizarro, e mais enigmático e mais sentimental: lembra a musa de Verlaine, talvez o mais poeta dos poetas malditos. Mas se nele a idéia é simbólica, o sentimento é romântico e a forma parnasiana". Publicou parte de sua obra literária, bastante volumosa, apesar de desigual. O resto permanece esparso nos jornais e revistas. F. em Manaus (AM), no dia do aniversário, 25 de dezembro de 1915.
Bibliografia: Papéis velhos ...roídos pela traça do símbolo, Maranhão, 1908. Estatuetas, Maranhão, 1909. Vitórias-régias, Maranhão, 1911.
Fontes: Andrade Murici, Pan. do mov. simb. brás., vol. II, p.323.
Fernando Góes, "O Simbolismo", in Pan. da poesia bras., p. 281.
Múcio Leão, Autores e livros, nº 19 (21.12.1941), 1º vol., pp. 420 e segs. Péricles Eugênio da Silva Ramos, Poesia simbolista (antol.), pp.382-85. José dos Santos Lins, Seleta lit. do Amazonas, pp 79-83."
Por sua vez, Jomar Moraes, da Academia Maranhense de Letras, em seu excelente livro Apontamentos da Literatura Maranhense, fonte de consulta obrigatória para os amantes das letras, registra:
"José Américo Olimpio Cavalcante dos Albuquerques Maranhão Sobrinho nasceu em Barra do Corda (MA), a 20 de dezembro de 1915. Fundou, na Academia Maranhense de Letras, a cadeira 19, de que é patrono Teófilo Dias. Após sua morte, foi escolhido patrono da cadeira 21."
Barra do Corda se tornou pequena diante da genialidade e do espírito irrequieto de Maranhão Sobrinho. A falta de opção em sua terra o levou a buscar novos rumos. Corria o ano de 1900. Jovem, aos 21 anos, o aedo muda-se para São Luís, em procura de condições mais favoráveis a seu crescimento cultural.
De São Luís parte para Santa Maria de Belém do Bom Pará, onde participa do movimento literário sob a liderança de Artur Lemos. Na época publicou poesias no jornal A Província do Pará. Ficou pouco tempo em Belém. Levantou vôo rumo a Manaus.
Em 1911, Manaus vivia uma quadra de intensa atividade econômica e cultural. Foi quando Maranhão Sobrinho publicou seu último livro, Vitória-Régia. Foi mais um sonho realizado pelo poeta de estro marcado pelo uso intenso de substantivos e adjetivos.
Em brilhante artigo publicado no jornal O Imparcial, em 01.01.1937, o renomado escritor Josué Montello, literato de inexcedível saber, afirma sobre Maranhão Sobrinho:
"Não era, 'como toda gente, um bacharel formado.' Estudou para o magistério primário, diplomando-se pela Escola Normal de São Luís, mas o que ele verdadeiramente ensinou foi a arte de fazer belos versos, desses que, na declaração original de Anatole France, lembram dedos delicadíssimos ternamente tangendo a harpa de nossa emotividade."
E prossegue dizendo que o que distingue Maranhão Sobrinho é a clareza simbólica, para depois, em conclusão, registrar:
"Escreveu muito, em Manaus, e eu mesmo li, na coleção de um amigo, uns versos inéditos do grande aedo, por sinal que escritos num caderno ordinário de compras de balcão."
Como se vê, Maranhão Sobrinho, mesmo tendo partido para o Oriento Eterno com apenas 36 anos, nos legou uma obra poética que merece um lugar de destaque no cenáriodas letras. Cabe, portanto, aos operadores da cultura divulgar os sonhos do grande ícone do Simbolismo no Brasil.