JUNQUEIRA FREIRE, O POETA DA AMARGURA

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Notas Biográficas

 

Em Salvador da Bahia nasceu, no dia 31 de dezembro de 1832, Luis José Junqueira Freire, o poeta das Inspirações do Claustro, livro onde encontraremos vibrantes e fundos sentimentos, nascido não da imaginação ou de leituras, mas de sofrimentos reais.

Junqueira Freire teve uma vida doentia, pois padecia de problemas cardíacos, fato que o levou a concluir os estudos primários de forma irregular. Fora isso, Junqueira tinha hábitos muito peculiares. Contou ele próprio em sua autobiográfica, como em certa ocasião se entregou ao vício da cânfora:

"O primeiro de meus prazeres era fumar um bom charuto depois de ter enchido a boca de cânfora. Esta resina transparente costuma, como se sabe, deixar um suave frescor no órgão paladar. Eu então sentia um gozo esquisito no tomar da fumaça, que parecia lutar, da quente que é, com essa substância ainda na maior parte desconhecida em seus efeitos. Eu gastava muitas horas em desvanecer-me poeticamente nesse sainete agradável, que sempre nos produz o gosto contrastado do fresco e ardente, de uma vez."

Atormentado por uma vida familiar extremamente infeliz, por uma paixão amorosa mal-aventurada, aos dezenove anos, Junqueira procura abrigo no refúgio do claustro, ou melhor, na "Ordem dos Beneditinos" (1851). Fez-se frade não por vocação, mas para fortalecer-se contra aquele pensamento “gentil de paz eterna”, como assim chama o pensamento da morte:

"Um mosteiro pareceu-me um ermo verdadeiro. Ali eu podia retrair-me tanto, que ninguém soubesse de minha existência. Eu acreditava que uma cela ocultava melhor que o interior de uma campa."

Mas o jovem Junqueira estava enganado, e seu desengano foi cruel desde os primeiros dias de noviço. Foi um período de sua vida repleto de amarguras, revoltas e arrependimentos, conforme descreve nos versos A profissão de frei João das Mercês Ramos:

Mas eu não tive os dias de ventura

Dos sonhos que sonhei:

Mas eu não tive o plácido sossego

Que tanto procurei

[...]

Tive o tormento dos cruéis remorsos

Que me parece eterno.

Tive paixões que a solidão formava

Crescendo-me no peito.

Tive, em lugar das rosas que esperava,

Espinhos no meu leito

[...]

Iludimo-nos todos! — Concebemos

Um paraíso eterno:

E quando nele sôfregos tocamos

Achamos um inferno.

Os seus versos são esses. Versos em que o frade Junqueira Freire, sem vocação religiosa, nos fala de sua revolta, do seu arrependimento pela decisão irrevogável que tomara. No entanto, foi na clausura que ele dedicou-se as suas leituras preferidas e a escrever seus poemas, além de atuar como professor atendendo pelo nome de Frei Luís de Santa Escolástica Junqueira Freire.

Ao desespero amoroso a que a vida monástica não dera remédio:

Sentir teus modos frios,

Sentir tua apatia,

Sentir até repúdio,

Sentir essa ironia,

Sentir que me resguardas,

Sentir que me arreceias,

Sentir que me repugnas,

Sentir que até me odeias, (fragmento de Martírio)

Ajuntou-se lhe logo o desespero da vida, para a qual não nascera, e com ele a revolta contra o seu estado de frade e até contra o estado monástico em geral. Assim, no ano de 1853, pediu à secularização que seria outorgada apenas no ano seguinte. Este recurso que lhe permitiria libertar-se das disciplinas monásticas, embora ainda permanecesse sacerdote por força dos votos perpétuos. Assim, recolheu-se a casa de sua mãe onde redigiu uma breve autobiografia, ao mesmo tempo dedicou-se a reunir uma coletânea de seus versos, a que chamou de Inspirações do Claustro, publicada em 1855, pouco tempo antes de sua morte, devido à moléstia cardíaca, de que sofreu por toda a vida.

José Veríssimo, em História da Literatura Brasileira, comenta que “o título é impróprio, pois faz erroneamente supor que lhos inspirou a religião do claustro, quando os motivaram o desespero e a revolta contra ele”. Com efeito, os acontecimentos são todos interiores: o desgosto na casa paterna, as ilusões sobre a vocação religiosa, as dúvidas e desesperos nos dois anos que permaneceu na ordem. Daí o valor de testemunho que assume a sua única obra de poesia. Dessa coleção, cabe destacar os poemas, Amizade, Temor, Louco, Martírio, Morte:

Pensamento gentil de paz eterna

Amiga morte, vem. Tu és o termo

[...]

Por isso, ó morte, eu amo-te e não temo:

Por isso, ó morte, eu quero-te comigo.

Leva-me à região da paz horrenda,

Leva-me ao nada, leva-me contigo.

Luis José Junqueira Freire, o poeta das Inspirações do Claustro, morreu em 24 de junho de 1855, aos 23 anos. ®Sérgio.

Leia Também: (clique no link)

Paulo Eiró: Entre a Poesia e a Loucura.

Augusto dos Anjos, O Poeta Brigão.

O Grande Amor de Gonçalves Dias.

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Ajudaram na composição do texto: BOSI, Alfredo – História Concisa da Literatura Brasileira, 3ªed., São Paulo, Cultrix. / BANDEIRA, Manuel – Seleta de Prosa, Rio de Janeiro, Nova Fronteira, 1997.

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