A VIDA DE JESUS: NASCIMENTO, MORTE E RESSURREIÇÃO

O nascimento de Jesus Cristo, na cidade da casa do pão, em Belém, é marcado por extremas dificuldades, desde as dificuldades no seu alojamento (foi colocado numa manjedoura por falta de lugar), até perseguições perpetradas por um rei amedrontado com a descoberta da vinda do messias ao mundo, pelo cruel rei Herodes. No entanto, o Ungido estava destinado a iluminar a humanidade com a luz de seu amor, curando as mais diversas enfermidades com seus inúmeros milagres; e amparando órfãos, viúvas e marginalizados através de sua graça e misericórdia.

Em apocalipse, há uma passagem que desvela a perseguição que Cristo e sua igreja tem sofrido ao longo da história da humanidade por causa da ira do dragão, o qual simboliza, para os cristãos de todos os tempos, a escuridão, a morte, destruição e a iniquidade. Nos versículos de apocalipse 14, versículo 4 em diante, podemos ver o seguinte: ''E a sua cauda levou após si a terça parte das estrelas do céu, e lançou-as sobre a terra; e o dragão parou diante da mulher que havia de dar à luz, para que, dando ela à luz, lhe tragasse o filho. E deu à luz um filho homem que há de reger todas as nações com vara de ferro; e o seu filho foi arrebatado para Deus e para o seu trono. E a mulher fugiu para o deserto, onde já tinha lugar preparado por Deus, para que ali fosse alimentada durante mil duzentos e sessenta dias''.

Como podemos ver, esse filho que precisou fugir para o deserto remete a Cristo, o qual enfrentou, nos braços de sua família de criação, a primeira perseguição. Mas também podemos associar essas imagens as grandes perseguições que a igreja de Cristo têm sofrido na história. Tanto Cristo, quanto sua igreja, podem ser vistos como símbolos da consciência que ilumina o mundo, ou melhor, eles são o sal da terra e a luz do mundo; enquanto o dragão, a besta e o falso profeta podem ser entendidos como manifestações que buscam impedir a parúsia, ou seja, a vinda da plenitude do Reino de Deus sobre o cosmos e o universo.

Em Isaias 9: 2, há uma profecia que nos dá um vislumbre da luz messiânica resplandecendo num mundo onde as pessoas viviam oprimidas pelo jugo dos grandes impérios: ''O povo que andava em trevas viu uma grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz''.

É interessante observar que desde a sua vinda ao mundo, o enviado para ser o redentor da humanidade passou por humilhações e incompreensões; blasfêmias e perseguições por quem deveria honrá-lo. No entanto, por onde passava, realizava curas e trazia consolo aos desamparados, chegando até mesmo a dialogar com aqueles que a sociedade da época considerava como execráveis.

O irônico nessa situação é que muitos daqueles que conheciam a lei e que eram os doutores do conhecimento da Torá, não aceitaram a simplicidade das pregações do messias (o ungido). Pelo contrário, procuraram várias vezes matá-lo e desmoralizá-lo. Já os que não eram vistos com bons olhos, não só abraçaram essa novidade de vida, mas também passaram a viver conforme os ensinamentos do Mestre.

Toda vida de Jesus está muito bem retratada e documentada nos quatro evangelhos (Matheus, Marcos, Lucas e João). Enquanto no livro de Matheus, podemos ler sobre o nascimento de Jesus nos mínimos detalhes, em Lucas vemos os diversos milagres operados pelo messias, ora em pessoas mais pobres e desfavorecidas, ora em pessoas influentes na sociedade. Já em João, temos um melhor entendimento de quem é Jesus e qual a sua missão. Finalmente, em todos os evangelhos sinóticos, conhecemos o martírio daquele que veio ao mundo para salvar a humanidade, bem como a sua ressurreição no terceiro dia.

Antes de iniciar o seu ministério na terra, Jesus Cristo passou pelo deserto, onde foi tentado três vezes pelo adversário, mais conhecido como Satanás. Por quarenta dias e por quarenta noites, ele viveu sob jejum e orações, demonstrando toda sua valentia e se revestindo aos poucos de uma sabedoria decisiva para a consumação de sua obra em favor da humanidade. Logo depois dessa passagem pelo deserto, dizem os evangelistas que Ele foi servido pelos anjos de Deus, onde pode descansar de suas aflições e angústias.

No livro de Matheus, capítulo 4, temos o seguinte testemunho dessa jornada de dor e sofrimento pelo deserto: ''A seguir, foi Jesus levado pelo Espírito ao deserto, para ser tentado pelo diabo. E, depois de jejuar quarenta dias e quarenta noites, teve fome. Então, o tentador, aproximando-se, lhe disse: 'Se és o filho de Deus, manda que essas pedras se transformem em pães'. Jesus, porém, respondeu: 'Está escrito: Não só de pão viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus' ''. Depois dessa provação no deserto, houve mais duas tentações, os quais jesus teve a oportunidade de rechaçar, demonstrando toda sua vitória e glória sobre as hostes do mal, e aprimorando a grandeza de seu testemunho e ministério.

A partir daí, foi se cumprindo fielmente a sua missão sobre a humanidade, atingindo o seu ápice no madeiro da cruz. Muitos dos seus discípulos acreditavam que ele seria uma espécie revolucionário, capaz de destruir o jugo romano sobre o povo judeu. No entanto, sabemos pela escritura que a sua missão foi outra: o sacrifício na cruz como forma de perdoar os pecados dos homens e resgatar inúmeras vidas pela via do arrependimento e do perdão (sempre enfatizando a necessidade de perdoar o próximo 70 x 7 vezes). Daí o cordeiro servir como símbolo de um ser puro e imaculado, e que, portanto, é capaz de morrer de uma morte dolorosa e agonizante para dar vida em abundância aos que aceitam o seu testemunho.

Nos instantes finais que precederam a sua morte, o filho de Deus ainda passou por muitas angústias e tentações, a fim de que ele parasse com essa obra, lugar conhecido como Getsêmani, um jardim localizado no sopé dos montes das oliveiras. Porém, fiel a sua missão, Jesus permitiu que um dos seus discípulos o entregasse às autoridades. Então, foi levado até o seu destino final (aos olhos humanos) por um caminho difícil e tortuoso, ao ponto de ser obrigado a levar a sua própria cruz sem qualquer contestação e resistência. Mesmo nessa situação, ainda teve a nobreza de espírito de redimir um dos ladrões que iam ser mortos ao lado dele. ''Amanha estarás comigo no paraíso'', disse o mestre para aquele que creu nos seus instantes finais.

Após a morte do Messias, houve ainda tremores na terra e a própria constatação de muitos que ele era o messias profetizado em Isaias. Também está escrito que o véu do templo se rasgou em duas partes, de alto a baixo (Mc 15:38; cf. Mt 27:51 e Lc 23:45). Num de seus capítulos vemos: ''Porque foi subindo como renovo perante ele, e como raiz de uma terra seca; não tinha beleza nem formosura e, olhando nós para ele, não havia boa aparência nele, para que o desejássemos. Era desprezado, e o mais rejeitado entre os homens, homem de dores, e experimentado nos trabalhos; e, como um de quem os homens escondiam o rosto, era desprezado, e não fizemos dele caso algum. Verdadeiramente ele tomou sobre si as nossas enfermidades, e as nossas dores levou sobre si; e nós o reputávamos por aflito, ferido de Deus, e oprimido'' Is 53:2-4).

Certamente, o arquétipo de salvador dos homens pecadores (para usar um termo empregado por Jung) é algo que se encaixa perfeitamente em Cristo. O mesmo disse que veio ao mundo para dar a cada um uma novidade de vida, um renovo para todos os seres humanos. No livro de Jean-Yves Leloup, O apocalipse de João, há uma bela reflexão sobre o nascimento do novo iniciado pela vinda do messias prometido: ''O nascimento do novo na alma é o nascimento do outro, daquilo que transcende nossa natureza. Ou seja, o nascimento de um ser que não morre (um não tempo--um não espaço) no coração de um ser mortal (todo espaço e todo tempo que têm um início e um fim: a natureza humana 'mundana' e cósmica). 'Eis que faço todas as coisas novas'! Não se trata da criação ou da manifestação de uma novidade qualquer, sempre possível de desaparecer, mas da irrupção do novo, ou seja, o Incriado naquilo que é 'criado, feito, nascido, composto''.

Para a esperança de muitos cristãos, está escrito que Cristo ressuscitou no terceiro dia, comprovando no coração de muitos fieis que ele é o salvador da humanidade, o messias prometido que veio ao mundo para resgatar os homens da maldição do pecado. Em seguida, após a sua subida ao céu, o messias prometeu a vinda do consolador, o espírito santo no coração dos homens, uma prova de sua graça e fidelidade a todo homem contrito e quebrantado.

No livro Interpretação do Dogma da Trindade, Jung nos apresenta uma bela reflexão sobre Cristo e a indispensável vinda do Espírito de Deus para guiar e iluminar os caminhos dos homens: ''A vida de Cristo constitui apenas um breve intervalo dentro da história, um simples anúncio e proclamação da mensagem, mas é também uma demonstração exemplar daquelas vivências psíquicas ligadas à realização de Deus ou, mais precisamente, do si-mesmo. O essencial para o homem não é o que foi mostrado e o que foi feito, mas o que vem depois da vinda de Cristo, isto é, o fato do Espírito Santo ter-se apoderado do coração dos homens''. Essa manifestação do espírito Santo de Deus se tornou pleno no milagre do pentecostes retratado no livro dos atos dos apóstolos, um dia que marcou profundamente a Igreja de Cristo, o qual é a noiva preparada para o seu fiel e justo esposo, O messias ressurreto, símbolo do si-mesmo e da totalidade no homem.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 18/02/2021
Reeditado em 10/03/2021
Código do texto: T7187276
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