Lembranças da cozinha espanhola.

Já aviso de saída, não sei cozinhar nem sardinha em lata , rsrsss...mas a minha única intenção é a da recordação, pois quando o Natal se aproxima, a gente vai ficando nostálgico...Sabem como é !

Na Espanha se come "caracoles" (caracóis), é um prato muito comum, e o aroma desse prato é de levantar defuntos, não pensem que é uma comida gosmenta, nada disso, a fervura da água separa a baba do molusco, e o tempero (próprio ),vai fundo nas conchas, é um prato que aproxima as pessoas, que sentadas, esperam que a "olla" (panela), venha à mesa, enquanto bebem do vinho e conversam animadamente. Depois é até engraçado, só se ouve aquele "suif", puxando o molusco goela abaixo, e o papo vai rolando , e "suif", "suif", e vinho da jarra ( como é hábito), e "suif", risos e "suif"...e só se vê as conchinhas vazias pulando fora dos pratos. Tenho esta lembrança na caso dos meus tios, embora a minha mãe fosse a melhor de todas na cozinha ibérica.

Desde que nasci os frutos do mar e os peixes fizeram parte da mesa, aprendi a comer de tudo que o mar nos fornece, de camarão a tubarão, e feito de diferentes maneiras. Temos que lembrar que Espanha e Portugal são dependentes do mar, como península que é ,montanhosa e semiárida, o cultivo agrícola é limitado, e o povo aprendeu a comer carnes diversas: javali, carneiros, aves (diversas), coelhos, e muitos bichos do mar.

Quando estive lá com a minha esposa, achei engraçado, pois havia o "Disque cação", com motoboy e tudo, entregando sob encomenda, e o cardápio trazia as variedades pesqueiras, podia-se pedir caranguejos e lulas com fritas, e bebidas.

A carne de boi é cara, e o pessoal não liga muito, acho que devido ao preço, assim, as seguidas gerações criaram outros hábitos , pois o importante é a alegria do "estar juntos", e nas "barbacoas" (churrascos), levam de tudo à grelha: peixes, carnes diversas, e muito "fandango" para animar. O vinho é muito comum à mesa, e até a jovens menores lhes é permitido um pouco, com olhar atento dos pais. Uma coisa que me chamou muito a atenção foi a participação das crianças entre os adultos, todos eram iguais, dos mais idosos aos mais jovens, pareciam integrar-se com naturalidade e respeito mútuo, há uma consciência de sequência que está subentendida. A paella é típica de Valencia, hoje é mundial, e gosto muito, mas fora essa maravilha, temos o potaje, gaspacho e o puchero, que fazem o dia a dia junto aos mariscos.

Ainda hoje não como bem feijão , por exemplo, porque não fui habituado e não me agrada muito, para mim parece ter gosto de terra, mesmo quando bem temperado, apenas tolero . Adoro grão de bico e lentilhas, não enjoaria nunca, mas tenho que me lembrar que não vivo sozinho. Farinha na comida simplesmente não existe, nem imaginam, e nem banana frita ( detesto ), mas entendo que cada povo tem os seus costumes, mas posso afirmar que a "feijoada" já atravessou o oceano, e é muito conhecida, e apreciada, assim como a nossa caipirinha ( e eu capricho), rsrsss...podem acreditar, fiz para a minha família, e amaram.

Enquanto os meus pais foram vivos, sempre compartilhei da mesa espanhola, porque mantiveram os costumes , mas hoje são lembranças, boas recordações, que no Natal se intensificam, até porque fico mais velho por esta ocasião, e não houve um Natal sequer que meus pais não se lembrassem do meu nascimento , o que marca ainda mais.

Aragón Guerrero
Enviado por Aragón Guerrero em 10/12/2016
Reeditado em 24/04/2018
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