MEMÓRIAS DE NORIKO IZUMI KAWABATA

Iniciei minha vida escolar aos 07 anos, eu era caçula numa família de imigrantes japoneses com mais sete irmãos. Era pequenina, tímida e falava um português meio atrapalhado, pois meus pais só falava a língua japonesa no meio familiar.

Desde que soube da minha matrícula na tão falada escola “Profª Sinharinha Camarinha”, fiquei na maior expectativa, pois meus irmãos, cada um com seu jeito, contava diferentes histórias sobre as salas de aulas, o pátio, os corredores, a temida diretoria e o assustador porão.

Chegou finalmente o grande dia, a minha mãe me arrumou com todo cuidado. Fez mil recomendações, preparou um lanchinho modesto numa lancheira rosa e a minha irmã me levou segurando minha mão com firmeza.

Ao chegar à escola, fiquei bastante impressionada com a altivez do prédio. Os coqueiros da frente e a escadaria eram lindos! Entramos pelo pátio, o barulho das crianças deixou meu coração aos pulos. Tudo era assustador, desafiador e completamente diferente de tudo que lembrava o meu pequenino mundo onde vivia apenas com a minha família.

O sinal soou forte fazendo estremecer meu corpo, segurei mais forte a mão da minha irmã e pedi que não me deixasse, mas ela me abraçou bem depressa e se foi sem olhar para traz. Pensei em chorar, mas a vergonha me fez ficar firme.

Mas, para minha surpresa, veio ao nosso encontro, D. Umbelina, minha primeira professora. Chamou todos para a fila e notando que eu não sabia o que fazer, veio em minha direção pegou carinhosamente a minha mão e me colocou na fila com os outros alunos e fomos para a sala de aula.

Outro grande susto aconteceu no mesmo dia, já na sala de aula ela iniciou perguntando a cada aluno onde eles tinham concluído a educação infantil (o pré primário, na época). Encolhi-me na carteira, pois mal falava o português e nunca tinha tido contato com escola nenhuma. Quando eu lhe expliquei o que se passava, falando toda atrapalhada, misturando as duas línguas e morrendo de vergonha; ela respondeu com toda a calma, “Estamos na escola para aprender e acho isso maravilhoso, pois assim posso te ensinar”, foram às palavras mais doces que eu poderia ter ouvido naquele momento. Tranqüilizaram-me e mostrou que eu tinha sido aceita no grupo. O resto da aula foi uma delícia, com músicas, histórias e brincadeiras!

Foi um fato marcante, pois devido à generosidade e amor de minha primeira professora, D. Umbelina passei a gostar muito da escola, mesmo nas outras séries, apesar de encontrar outras professoras, cada uma com seu jeito, temperamento e métodos peculiares, mas eu passei a enxergar em todas, a doce e terna figura da primeira professora.

A minha turma foi à última que utilizou o prédio, pois logo a escola se mudou para outra sede e o prédio acabou sendo utilizado para diferentes fins. Hoje acomoda a escola ETEC, mas quando passo em frente ao prédio, me recordo das brincadeiras, dos amigos, das minhas queridas e amadas professoras e principalmente da minha grande mestra D.Umbelina.

Quando fui optar pela carreira a seguir, nunca tive dúvidas quis ser professora, mas meu grande desafio é conseguir deixar impressos nas pessoas que passarem por mim, não apenas conhecimento, mas a doce lembrança e a capacidade de saber à hora certa de estender as mãos e falar a linguagem do coração como fez D. Umbelina.

Noriko Izumi
Enviado por Noriko Izumi em 05/10/2016
Código do texto: T5782682
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