Livro Diário da solidão.

DIÁRIO DA SOLIDÃO.

DIÁRIO

DA

SOLIDÃO.

DIAGRAMAÇÃO E CORREÇÃO.

TIAGO PENA.

PARA O ANJO LEDO COMO TUDO MAIS.

NOTA.

Este livro é o relato da vida do poeta Italiano Giovanni Marconi, exilado em uma ilha nas proximidades da costa catarinense, esse misterioso poeta escreveu em um diário dia após dia, falando da sua vida na ilha de suas lembranças e de um amor incomensurável que o persegue levando-o a beira da loucura.

Este diário foi deixado na caixa de correios da minha casa por alguém que não quis se identificar, nele havia parte da história desse poeta, escrita por ele a próprio punho, tive o cuidado e traduzir as suas cinquenta paginas escritas e reunir tudo neste livro.

Quem ele foi não é o mais surpreendente dessa história, mas o que ele deixou.

SUMÁRIO.

DIA 1.

DIA 2.

DIA 3.

DIA 4.

DIA 5.

DIA 6.

DIA 7.

DIA 8.

DIA 9.

DIA 10.

DIA 11.

DIA 12.

DIA 13.

DIA 14.

DIA 15.

DIA 16.

DIA 17.

DIA 18.

DIA 19.

DIA 20.

DIA 21.

DIA 22.

DIA 23.

DIA 24.

DIA 25.

DIA26.

DIA 27.

DIA 28.

DIA29.

DIA 30.

DIA 31.

DIA 32.

DIA 33.

DIA 34.

DIA 35.

DIA 36.

DIA 37.

DIA 38.

DIA 39.

DIA 40.

DIA 41.

DIA 42.

DIA 43.

DIA 44.

DIA 45.

DIA 46.

DIA 47.

DIA 1.

Os meus olhos tristes se perdem no infinito azul do céu, a expressão desoladora da minha face revela uma alma cansada e atormentada. Uma brisa suave começa a soprar neste momento, enquanto eu continuo aqui, sentado no meio do nada, com o olhar perdido no infinito azul deste mar.

Meus dias se arrastam vagarosamente, nada mais faz sentido, tudo se esvai como o orvalho da manhã, sou apenas um poeta, um prisioneiro das palavras, encarcerado nas grades de versos sem rimas, riscados na tábua do meu coração.

Daqui a alguns instantes o dia dará lugar a noite, e este fim de tarde melancólico será engolido pelos braços negros da noite, daqui a poucos minutos, todas as luzes se apagaram, e a minha alma adormecera nas trevas de uma noite sem luar.

DIA 2.

Meu coração é um navegante angustiado nas turbulentas águas desta vida, eu sou apenas um marinheiro sem experiência, sem saber para onde navegar. O dia está indo embora, e a noite o abraça com toda a sua força, eu continuo aqui, sentado no meio do nada, a minha frente apenas o som do mar, com suas ondas quebrando na beira da praia, as águas geladas molham meus pés já cansados.

Procuro em meus pensamentos certo sorriso de anjo ledo, as lembranças daqueles momentos de prazer, dos instantes de descontração, mas o que eu sou se não um velho lobo do mar, um solitário na areia da praia, procurando no reluzir das ondas, a doce luz que ilumina meu coração, enquanto meus olhos cheios de lágrimas se derramam nas águas do oceano.

As lembranças são semelhantes às ondas do mar, veem e vão, trazendo algumas coisas já adormecidas, e levando outras para as profundezas das águas do esquecimento. Lembranças são como o vento, soprando na memória as desventuras de nossas vidas, os nossos momentos de dor, Amor, e angústias.

Desde aquela tarde em que você partiu, eu nunca mais fui o mesmo, naquele dia resolvi me afastar do mundo, das pessoas e da sociedade, agora vivo assim, isolado na ilha solidão, cercado pelas ondas do mar e pelos animais selvagens da ilha, sou mais do que um simples velho isolado, sou um prisioneiro de mim mesmo, dos meus próprios medos, dos meus anseios, de minhas neuroses.

Sou um poeta solitário, escrevendo na areia da praia os seus versos de solidão, até que vêm as ondas e arrastam todos eles para as profundezas sem fim, hoje é apenas mais um dia comum onde o nada é a novidade principal.

DIA 3.

Lembro-me de quando eu era jovem, Lembro-me perfeitamente daquela face mais brilhante do que as estrelas que neste momento contemplo. O seu olhar, ah... Como eu poderia esquecer aquele olhar, maravilho como a noite escura.

Lembro-me das tuas macias mãos tocando meu rosto, Lembro-me com dor na alma, Lembro-me do calor da sua pele, ah.... Como eu poderia esquecer aquela pele que queima, incendeia o peito inteiro, hoje estou velho, atormentando por todas essas recordações, sou apenas um barco sem rumo, Vagando ao leo nesta ilha solidão.

Levanto - me do lugar onde estou, me retiro para minha humilde cabana, feita de tijolos vermelhos, muito aconchegante, adoro o silêncio que faz aqui, é absoluto, silêncio de paz. Abro a porta do meu pequeno palácio, bem ao centro, esta uma pequena mesa de madeira, minha cama fica mais ao lado esquerdo.

Aqui passo meus dias de reclusão, dias inteiros de recordações, sempre caminhando, as vezes na areia da praia, as vezes mais afastado dela. Meu dias nessa ilha não tem hora certa, faço tudo o que me vêem na cabeça.

As ondas do mar,

Se derramam silenciosas na areia da praia,

Suas espumas todas esbranquiçadas,

Dobrando - se por sobre as ondas,

Rodopiando como uma saia,

Águas nuas que não sabem amar.

Ondas de águas geladas,

De um imenso azul fim,

Ondas sem destino navegando errantes,

Ondas de poetas loucos e amantes,

Oceano infinito dentro de mim,

Despertando quimeras adormecidas.

Ondas de pura beleza,

Netuna flor do mar,

Labirinto de angustias e dor,

Alcatras do aedo sofredor,

Falam que ainda não aprendi amar,

É só me expresso em versos de tristeza.

DIA 4.

Encanto é uma palavra que define o estado de uma pessoa mediante a outra. E a condição do coração quando o mesmo não mede o próprio sentimento em relação a beleza da outra pessoa. O encanto é quase mágico, as vezes parece de fato divino, ele nasce sem o percebemos, assim como a semente de uma flor no seio da terra; que em nossos instantes de desatenção desponta na terra, da mesma maneira é o encanto, despontando dentro do coração e da alma.

Basta um sorriso, para que este sentimento venha a desabrochar, basta um singelo elogio, uma conversa descontraída, enfim, o encanto nasce das pequenas coisas da vida, mas que no seu conjunto geral, é de uma riqueza imensurável.

Assim como o encanto tem a sua aurora nas gentilezas da vida, também pode desfalecer com a ausência do mesmo, pode ter o seu alvorecer, na mesma proporção que a simplicidade de um sorriso enriquece, a falta dele mata. A desatenção, a escassez do diálogo, tudo isso é um veneno na flor do encanto, o faz secar e morrer.

Tudo vai depender de como será cultivado no coração, na verdade nos não percebemos o quanto somos detentores do bem e do mau, depende apenas de que será melhor alimentado.

Aurora de infinita beleza,

Raios de luz intensa,

A iluminar a praia imensa,

Desta divina natureza.

Aqui se desfaz minha crença,

Não vejo tronos nem realeza,

Minha alma embora presa,

Vive em viva bonança.

Pássaros cantam alegremente,

No topo de árvores compridas,

Aves raras de asas coloridas.

A vida aqui passa rapidamente,

E as lembranças acabam esquecidas,

Antigos amores, feras feridas.

DIA 5.

Certamente que hoje não é um dos meus melhores dias, chove forte lá fora, é a primeira vez que chove aqui na ilha desde que eu cheguei, não gosto muito de tempestades, principalmente dos trovões, tenho pavor de trovões, e eles não param, a chuva parece mais forte agora, as correntezas formadas pelas águas da chuva parecem pequenos rios, levam consigo todo tipo de sujeiras, ao mesmo tempo que vai deixando pelo caminho outras tantas. Neste momento estou na minha velha cadeira de balanço, na varanda da casa observando a chuva cair, é fim de tarde e devido às nuvens, está tudo escuro, de forma que os raios cortam o céu de um lado a outro, um terrível espetáculo.

Quando eu era criança, morria de medo de chuvas fortes, meu irmão mais velho, o Gustavo, brincava dizendo que ia me jogar na correnteza, para que ela me levasse embora, quantas vezes escondi em baixo da cama de meus pais. A chuva também me fez lembrar do dia da morte da mamãe, era um domingo, chuva muito, mamãe teve um infarto na cozinha da nossa casa, nunca vou esquecer aquilo.

Já é noite, está bem frio agora, sinto falta de alguém para me aquecer, de alguém para conversar, de uma boa companhia. As vezes penso que estar nesta ilha não tenha sido uma boa idéia, mas enfim, aqui estou, e não pretendo voltar atrás agora, o que está feito está feito, não tem como voltar atrás.

Meu único amigo aqui é meu diário, ele é meu confidente, o guardião dos meus segredos, nos falamos todos os dias, sem falta.

Não costumo me atentar aos dias, mas hoje, justamente hoje, domingo, se comemora o aniversário de um certo anjo ledo, que conheci lá na Itália, que saudades dela.

Mas não posso fazer nada, eu estou distante dela, e principalmente, de mim mesmo.

DIA 6.

Amanheceu na ilha solidão, o sol despontou no horizonte deixando o céu em tom rubro, o reflexo do sol sobre o mar é um espetáculo a parte, poucas pessoas no mundo param para contemplar um momento desses, a maioria das pessoas vivem apressadas correndo de um lado para outro, sem tempo para nada, sem tempo para si mesmas.

Poucas pessoas tem sensibilidade para admirar o nascer do sol ou o seu alvorecer, se acham ocupadas demais para essas coisas tão simples do dia a dia, a vida de muitos é uma corrida desenfreada e sem sentido, buscando no vil papel do dinheiro o conforto para suas almas atormentadas; não reconhecem a beleza da vida pela ótica da simplicidade.

Durante muito tempo eu fui uma máquina do sistema, eu alimentava o sistema com meu trabalho, eu era o próprio sistema, um escravo assalariado preso as correntes do capitalismo. Eu nunca tive prioridade que não fossem as do sistema, minha vida se resumia a trabalho, trabalho, e mais trabalho.

O silêncio desta ilha fez com que eu percebesse minha mediocridade, minha idiotice e minha tolice polida. Eu nunca que havia parado para admirar quão bonitas e perfumadas são as flores, nunca havia parado para ouvir o cantar dos pássaros logo nas primeiras horas da manhã.

Acho que meus problemas são heranças da minha infância, um mundo obscuro nas ruas de Roma, sem diversão, sem amigos, sem nada afinal, sei bem o quanto isso tudo me prejudicou, e para falar a verdade, ainda me prejudica. A vida é assim mesmo, ela me transformou no que sou hoje, e para ser sincero, não tenho idéia do que sou de verdade.

De onde é que vem olhos tão tristes,

Diga-me o motivo das lágrimas,

O semblante parece alegre,

Mas esconde um falso sorriso,

Posso vê-lo do outro lado do espelho.

O amor que eu trazia no peito,

O grandioso e sublime amor,

Ficou perdido nas ruas de Roma,

Talvez para sempre.

Saibas que eu te amei com todas as forças,

Que te amei em cada palavra que escrevi,

Que te amei em cada verso,

Com amor verdadeiro,

Com amor desmedido,

Amor para vida toda,

Tu sabes anjo ledo,

Que sempre te amei.

DIA 7.

Mais uma bela manhã de terça na ilha solidão, os pássaros cantam na copa das palmeiras, enquanto o mar deita sua água salobra sobre a areia da praia, o meu olhar se perde no infinito azul que existe entre o céu e o mar, meu olhar voa sem direção; enquanto a natureza faz seu espetáculo, diversos sons harmônicos, belas borboletas coloridas entre coloridas flores, uma beleza sem iqual.

Sentado no tronco feito de madeira, apenas observo, alimento minha alma da força que vem da natureza, me alimento do perfume. Tudo em minha há volta, nas minhas disponibilidades, enfim, esse reino encantado e maravilhoso.

Existe uma estrada feita de pedra, provavelmente ela leve ao interior da ilha. Qualquer dia desses eu irei até o interior da ilha. A fibra que me enlaça a dor vivente, está mais frágil agora, lembranças na tela do pensamento.

Me tornei um eremita por opção, estou ilhado nesta terra de ninguém, contudo, fica difícil esquecer minha doce Itália, dói no peito, na alma e no coração.

A fonte do amor,

Nasce dos teus lábios,

Um ardente calor,

Em cada um dos teus Beijos.

Amor eterno amor,

Fonte dos desejos,

O meu clamor,

Em infinitos anseios,

Vivo a sonhar,

Na expectativa de um dia,

Poder te amar.

A minha alegria,

Será poder um dia,

Estar na sua eterna companhia.

DIA 8.

Beleza,

Uma simples palavra de múltiplas definições, de inúmeros significados, com tantas qualidades ao ponto de se tornar quase indefinivel.

Beleza,

Se esconde na simplicidade de um olhar, de um despretensioso sorriso, em pequenos gestos, mas que dizem mais que qualquer palavra.

Beleza,

É a forma que temos para definir o que encanta o olhar, que o faz encher de lágrimas, fazendo o coração bater descompassado.

Beleza,

Que habita na sonoridade da sua voz, capaz de aprisionar o coração, subjugar este poeta a todas as tuas vontades.

Beleza,

Que habita na forma perfeita de suas curvas, na cor atraente de sua pele, cor que desperta avassaladora paixão.

Beleza,

Que machuca a alma e enlouquece o coração, dizendo incessantemente o quão bom é te amar, mesmo na sua impossibilidade.

Beleza,

É esse amor grandioso, que me faz estremecer por dentro ao ouvir o teu nome pronunciado, enfim, não tenho palavras para definir sua beleza.

Doces lembranças, no pensamento,

Doces lembranças, de cada momento,

Doces lembranças, no coração,

Doces lembranças, de cada paixão.

Doces lembranças, de todos os beijos,

Doces lembranças, dos meus gracejos, Doces lembranças, de quem sonhou,

Doces lembranças, de quem amou.

Doces lembranças, na minha alma,

Doces lembranças, presas em mim,

Doces lembranças, Amores sem fim.

Doces lembranças, que vem e vão,

Doces lembranças, a perturbar a razão,

Doces lembranças, que aflige e acalma.

DIA 9.

Nada como um dia após o outro, nada como o silêncio para falar dentro da alma, sou mais discípulo do silêncio do que das palavras, sou do tipo que ouve mais para falar de menos, do tipo fechado, quieto, de poucas amizades, contrariando completamente minha natureza Italiana; para ser sincero, não compreendo a incompreensão dos outros a meu respeito.

Houve um tempo de destruição na minha vida, tempo de crises fortes, me afundei na depressão, perdi quase tudo, embora eu não tivesse nada, mas até esse nada foi embora.

Lembro-me que no ano de oitenta e dois, período esse que morei em Roma, bem próximo a luxuosa residência papal, naquele ano tive que fazer psicoterapia, foi proveitoso, todavia, o meu comodismo de sempre, derrubou tudo o que eu estava construindo, sem dizer na ..... Bom, prefiro não falar sobre isso agora.

Anjo ledo dos meus sonhos, o grande amor entre poucos amores, a grande paixão do poeta, Desenfreado sentimento que me trouxe a ilha solidão, que meus versos cantem o meu silêncio em tortuosas rimas, aqui confesso minhas angústias, nas silenciosas páginas de meu diário.

Na imensidão desse mar,

No infinito azul que se perde,

Vejo barcos a navegar,

Distantes da areia da praia,

Sempre ao norte e sem destino,

Neste anil celeste de solidão.

Sou um observador silencioso,

Um poeta solitário,

Catador de palavras ao vento,

Que despretensiosas,

Aprenderam a voar.

Estou preso a este cárcere envelhecido,

Por isso me faço esquecido,

Não desejando desejar,

Mas o coração teimoso,

Ainda mais vai te amar.

Quem sabe um dia,

Estes versos atravesse o mar,

Quem sabe volte a Itália,

Na intenção de te encontrar,

Enquanto isso sou poesia,

Na salobra água deste mar.

DIA 10.

Nesta noite tive outro sonho com o anjo ledo, semelhante aos outros, fazia tempo que eu não sonhava com tanta intensidade, mas nessa noite tive o prazer de sonhar novamente, infelizmente, como tudo o que é bom na vida, durou pouco, muito pouco, no melhor do sonho acordei.

O sonho foi da seguinte maneira :

" Era a tarde de um sábado, neste sonho eu me encontrava em uma pequena fazenda ao norte de Roma, na fazenda havia uma belíssima mansão no estilo colonial, seu interior era muito bem decorado, com telas na parede de artistas da renascença. A princípio não tinha ninguém ali, tudo era silêncio, quando de repente, ouve-se um barulho, e no mesmo instante, eu já estava dentro de um dos quartos da casa, coisa de sonho mesmo, para minha surpresa, o anjo ledo estava naquele quarto, com vestes brancas transparentes, cabelos soltos e longos, olhar de fogo, lábios vermelhos, ela acenou para mim com os dedos me chamando; quando me aproximei, aconteceu o beijo, ardente Beijo, logo depois acordei......

Havia sentimento,

Alegria, contentamento,

Havia emoção,

Regozijo no coração.

Havia verdade,

Verdadeira amizade,

Havia desejos,

Ardentes Beijos.

Mas tudo passou,

A saudade ficou,

O resto, o sonho levou.

Tanto que amei,

Que sozinho fiquei,

Daqueles belos lábios, nada sei.

DIA 11.

O amor,

É o mais sublime de todos os sentimentos que permeiam o coração e a alma humana, é o mais complexo e o mais completo de todos eles, é o ápice de nossas satisfações, é o mais próximo que podemos chegar da divindade.

O amor,

Nas palavras de um poeta é o fogo que arde sem se ver, é a dor intensa, tão prazerosa em doer, ferida que dói mas o coração não compreende coco dor, afinal, o coração está longe de compreende-lo.

O amor,

É o melhor de todos os venenos, que tomamos de um só gole e não tem o poder de matar, mas desperta dentro da gente um descomunal desejo, desenfreado desejo que nos domina e nos leva a irracionalidade emocional.

O amor,

É aquele sentir despretensioso, que se inicia com um pequeno brilho no olhar, um calafrio na barriga, uma pequena falta de ar, que inadvertidamente nutrimos, cultivamos, e quando damos conta, assusta pelo tamanho, e pela força que exerce em cada um de nós.

O amor,

É a curva de teus lábios, é o negro de teus longos cabelos, é a cor atraente de sua pele, é as tuas formosas pernas, o amor é tudo isso, é muito mais do que se possa imaginar.

O amor,

Também pode ser um carrasco cruel, desejo insano e maléfico, no coração errado pode se tornar a mais mortal das armas, pode iniciar uma guerra, e levar inocentes ao túmulo, afinal, o amor é assim, um pouco de tudo, cheio de indefinições, em um pingo de nada.

Amor, sentimento tão sublime,

amor, sentimento tão supremo,

amor, sentimento tão extremo,

amor, sentimento que redime.

Tão intenso é o amor,

tão divino é o amor,

Tão gracioso é o amor,

Tão majestoso é o amor.

Amor que pode tudo,

Amor que muda tudo,

Amor que realiza tudo,

Amor que transforma tudo.

Não dominaremos o amor,

Não compreenderemos o amor,

Não conheceremos o amor,

não saberemos de fato se é amor.

Amor, que brilha no olhar,

Amor, que brinca com os lábios,

Amor, que é cheio de desejos,

Amor, morada de nossos medos.

DIA 12.

Impaciente meu coração no peito bate, em desespero ele bate de forma desordenada, freneticamente ele flagela meu peito, em constante descompasso. Os dias são tristes e o céu está com nuvens pesadas, o sol esqueceu-se de brilhar, e no delírio de uma tristeza profunda, ele vaga pelo véu, errante e sem destino, caminhando sem direção, passando por todos desapercebidos.

Sou apenas uma sombra esquecida nesta terra de ninguém, ando de um lado para o outro, sem ter para onde ir,sem ter com quem conversar, apenas caminho até doerem meus pés, sou essa sombra esquia a beira da praia.

Felicidade é só uma palavra, nada mais, é tolice crer na existência da felicidade, o melhor a fazer é despreza - lá, afinal, a dor deve ser sentida, essa fera ferida, que machuca sem a vermos, que se projeta no mais profundo da alma, esta, por sua vez cheia de dor e medo; cheia de tudo: fantasma da solidão.

Estou cansado, deveras cansado de tudo e de todos, eu que inúmeras vezes fui ridicularizado, eu que tantas vezes fui desprezado, eu que tantas vezes fui incompreendido, considerando um ridículo, um idiota.

Todos os dias minha alma grita dentro de mim, a dor é grande, quase insuportável, mas não há o que fazer, não há quem possa ajudar, me distanciei de tudo e de todos, me tornei como uma ilha, Somos todos una ilha, e neste inferno verde, tudo parece perfeito demais.

Espumas das ondas,

A deitarem na areia fria,

Minha imagem esquia,

Vinda de muitas vidas.

O sol desperta no horizonte,

Risca o seu de vermelho,

A face da água um espelho,

Refletindo a minha alma descontente.

Todos nós somos uma ilha,

Somos todos filhos da solidão,

Caminhando sem direção,

Tendo a tristeza como trilha.

Risco neste diário,

Meu coração em agonia,

Esta terra tão vazia,

Tão cheia de delírio.

A minha poesia desfalecida,

Nascendo neste peito aedo,

O reflexo de um coração esquecido,

Preso no próprio medo.

DIA 13.

O sol se levanta com lentidão no horizonte, despontando toda a sua majestade, e os seus raios primeiros faíscam os seus matizes na face do mar, de repente tudo fica dourado parecendo um mar de ouro puro, em silêncio contemplo o espetáculo de mais uma manhã na ilha solidão, embora eu não esteja tão só, as mais belas aves me fazem companhia, espalhadas pelas árvores de toda a ilha, todas elas cantam lindamente; belas canções ao surgir da aurora.

Se o paraíso de Adão não foi neste lugar maravilhoso, certamente que este lugar ficou entre uma das escolhas divinas, nada é mais majestoso, simplesmente perfeito, palavras não podem traduzir tal beleza, por mais inspirados e belos que sejam os meus versos, ainda sim são insuficientes para descrever esse lugar.

O som das ondas quebrando nas pedras, os pássaros, enfim, tudo aqui é um quadro da perfeição, talvez até demais. A única coisa que me assusta é a ausência de certo anjo ledo, seria este anjo real? Ou fruto da minha imaginação, da minha loucura, da minha mente esquizofrênica.

Estou condenado nesta situação, a reclusão, as constantes visões com o anjo ledo, o preconceito das pessoas que não compreende minha doença, as vezes quando me deparo diante do espelho, me pergunto se tudo isso é real, se está valendo a pena.

Sinto falta do meu anjo ledo, este paraíso sem o meu anjo ledo não é um paraíso, é uma prisão cercada de água para todos os lados, sou apenas um poeta enlouquecendo, solitário em uma ilha de solidão.

O tempo foi cruel e carrasco,

O tempo foi escasso,

De repente tudo mudou,

De repente tudo passou.

Passou o tempo da fantasia,

Passou o tempo da alegria,

E este velho coração,

Batalha no peito sem emoção.

Vivi em função de amar,

Mas quem vai me explicar,

Este sentimento tão cruel.

A minha alma é cheia de medo,

Chora a ausência do anjo ledo,

O tempo ao volta mais.

DIA 14.

Sou o mais solitário dos homens, o mais triste, o mais amargo, o mais louco; escolher uma ilha deserta ao invés da beleza de Veneza, ah! Certamente que isso é um sinal claro de maluquice.

Tudo começou a dois anos atrás, período esse que morei em Veneza, em um quarto alugado, nesta época eu estava trabalhando em um dos meus livros de poesia, " Lágrimas " .Nesta mesma época eu ainda exercia o ofício do jornalismo, minha vida era corrida, trabalhava na redação do jornal durante o dia, e escrevia durante a noite.

Lembro-me que no mês de setembro, em uma tarde de domingo, muito agradável por sinal, eu passeava de gôndola por Veneza quando tive os primeiros sinais da minha doença, eu a vi perfeitamente, parada sobre a água, linda como uma deusa, mas não era uma deusa, era o meu anjo ledo, quase enlouqueci naqueles dias.

Depois daqueles episódios de alucinações, de medicamentos médicos e tratamentos inúteis, resolvi abandonar tudo; primeiro foi o jornalismo, depois os amigos e por fim a Itália.

Demorou até eu encontrar esse lugar, essa ilha maravilhosa, perfeita para minha insanidade, perdi tudo o que eu tinha, hoje não tenho nada, sobrou apenas retalhos, e algumas folhas em branco desse diário, e uma angústia interminável no peito.

Tenho também alguns livros aqui, gosto deles, qualquer dia desses falo de meus livros.

Lá estava ela,

Brilhando como o sol,

Lá estava ela,

Surgindo na aurora.

Lá estava ela,

Anjo ledo dos meus sonhos,

Lá estava ela,

Na manhã do meu domingo.

Lá estava ela,

Roubando de mim a sanidade,

Lá estava ela,

Roubando de mim a pátria.

Lá estava ela,

Suspensa entre o céu e a terra,

Lá estava ela,

Meu amor de ilusão.

DIA 15.

Hoje o dia estava lindo, o sol mais uma vez desfilou imponente sobre o céu, com toda a sua magestade, com toda a sua glória; acordei bem cedo, as seis da manhã, como de costume fiz o meu café, no forno havia pães caseiros que eu tinha feito no dia anterior, ficaram bons.

Após o café, que não demorou, fiz minha caminhada costumeira pela praia, tudo estava calmo e tranquilo, uma paz reinou hoje, silêncio total, até os pássaros resolveram fazer silêncio, apenas o mar tocava a suas notas musicais, em sua envolvente dança com a praia.

Depois da caminhada retornei para casa, eram quase nove horas, neste horário a partir de hoje, vou reservar alguns minutos para leitura, minha biblioteca tem vários livros de vários autores, de várias nacionalidades. A leitura de hoje foi Fernando Pessoa, um dos seus heterônimos, Alberto Caeiro, que leitura fabulosa, a simplicidade das palavras tão bem colocadas, o homem do campo, de sua relação com a natureza, gostei muito de ler os poemas de Caeiro, são belíssimos.

Após a leitura, fui a outra parte da ilha, que até o presente momento eu ainda não havia relatado neste diário, há um pequeno cais, aqui perto, nele tem uma pequena casa, onde fica um senhor, um pescador, é o único ser humano que eu vi aqui até o presente momento, combinei com ele de uma vez por mês, me trazer algumas coisas da cidade, creio que o dinheiro que tenho de para mais de um mês, depois disso, não sei como vou fazer.

Como eu havia dito, somente esse senhor da qual não vou dizer o nome, é o meu contato, por assim dizer, com o mundo lá fora.

O resto do dia fiz o de sempre, fiquei a beira da praia, esperando pelo anjo ledo, mais ela não apareceu hoje.

O mar beijou a praia,

A praia beijou o mar,

E o vento forte a soprar.

Sentado neste lugar,

Com olhar preso ao horizonte,

esperando o amor ausente.

Nada além do silêncio,

No pensamento lembrança,

Uma vaga esperança.

Meu anjo ledo não veio,

Então recolho a face a chorar,

Fios de lágrimas a derramar,

Na salobra água deste mar.

DIA 16.

Hoje o dia nasceu com mais beleza, nasceu com mais cor, e no canto das aves há uma melodia diferente.

Hoje o céu está com um azul muito mais intenso, e os raios do sol não queima na face, antes a beija documente.

Hoje este meu coração enlouquecido resolveu cantar, ao invés de bater dentro do peito.

Hoje, especialmente hoje; eu a vi, nas primeiras horas da manhã, eu vi o meu ledo anjo sobre as águas do mar.

Hoje eu li Shakespeare, me embebedei de seus versos apaixonados, misturei aos meus versos apaixonados.

Hoje aquele amor antigo outrora esquecido, despertou novamente, e solo dou dentro do peito.

Cantem o amor,

Que seja ele celebrado,

Este poeta apaixonado,

Arrancou do peito a dor,

A dor da ausência,

Aquele anjo de divina aparência,

Surgiu Majestosa como bela flor.

Cantem o amor,

Amor sem defeito,

Ardendo no peito,

Amor do mais puro amor,

Era ainda cedo,

Quando vislumbrei o anjo ledo,

Amor do mais excelso amor.

DIA 17.

Hoje eu vi uma pessoa, isso mesmo, uma pessoa, quando eu caminhava pela praia; isso me deixou bastante assustado. A coisa toda se deu da seguinte maneira:

" Como estava uma manhã muito agradável, fui fazer a minha caminhada costumeira a beira da praia. A principio nada vi, mas de repente, a uns vinte metros de mim, lá estava aquela figura esquia, sem camisa, parada de costas para mim; fiquei observando, no inicio pensei que fosse o senhor que fica no cais da ilha, mas não era, essa figura estranha era mais alta do que o senhor lá do cais. Ele então começou a caminhar, lentamente, me coloquei a segui-lo, sempre mantendo uma distancia segura para que ele não percebesse que eu o sequia; caminhamos por volta de meia hora, em momento nenhum ele olhou para traz. De repente ele parou, eu também parei; ele virou o rosto levemente para o lado contrario do mar, assustado me escondi para que não fosse visto, eu continuava a observa-lo. No momento em que fechei os olhos para limpar o suor do meu rosto, veio a surpresa; aquela figura estranha desapareceu, simplesmente desapareceu; eu o procurei por todos os lados, nada encontrei, e o que mais assustou é que nem pegadas dele havia na areia, é como se ele nunca estivesse passado ali. Seria ele um fantasma, uma visão, ou mais um dos delírios de minha mente doente? Eu não sabia o que pensar."

Retornei para casa, confesso que muito preocupado, pela primeira vez me questionei, se realmente era certo o que eu estava fazendo, me isolando do mundo naquele lugar estranho.

Talvez seja esse o momento de sair um pouco dessa ilha, pegar o barco no cais e ir até a cidade mais próxima, ter contato com pessoas de verdade, ter diálogos com pessoas de verdade. Era isso o que eu faria não me custaria nada tentar me socializar, ver de perto a alma humana.

A sombra esquia estranha,

Caminhando na areia,

Sombra alheia,

Sombra medonha.

Vestes rasgadas ao vento,

A passos curtos sem direção,

No meu peito o coração

Batia temeroso sem entendimento.

A sombra esquia,

Fúnebre e sombria,

Desapareceu tão de repente.

Caminhou sem deixar pegada,

Seria o reflexo de minha doença?

Vagando sem esperança.

DIA 18.

Permita-me falar do amor, hoje eu quero falar do amor, deste sentimento tão precioso que nos enlaça a alma, e nos arrebata o coração, que nos transporta a dimensões superiores e nos faz sonhar de olhos abertos.

Permita-me falar do sonho desta noite, quero compartilha-lo com você meu diário, falar como ela surgiu, resplandecendo como a aurora.

O sonho se deu assim:

Lá estava o meu anjo ledo, a beira da praia, vestida de majestade e beleza, as ondas molhavam os seus pés, e o vento balançando os seus cabelos; negros e longos fios, tremulando ao vento, caindo por sobre os olhos. Ela é o grande amor da minha vida, eu a vi a beira da praia, com o seu olhar cheio de paixão, e os lábios cheios de desejos, a voz de anjo ledo me chamando para dançar,

O meu corpo junto ao dela, o calor do nosso amor nos aquecendo, nos incendiando, as minhas mãos sobre aquele corpo maravilhoso; a face ela deitada sobre os meus ombros, dançamos ali mesmo, nos beijamos ali mesmo, nos amamos ali mesmo.

Permita-me chorar neste momento, quero derramar todas as minhas lágrimas, meu coração está cheio de dor , e minhas lágrimas inundam o mar, hoje não quero nada além do silencio, ela desapareceu de repente, no exato momento em que acordei, era apenas um sonho, apenas um sonho, um sonho.

Onde você está meu amor?

Eu te desejo tanto meu amor,

Eu te procuro todos os dias,

Procuro-te pela extensão da praia.

Onde você está meu amor?

Eu desejo os teus lábios,

Anseio pelos teus toques,

Procuro-te pela extensão do mar.

Onde você está meu amor?

Não me deixes aqui sozinho,

Permita-me ouvir sua voz,

Procuro-te entre as estrelas do céu.

Onde você está meu amor?

Não tenhas medo, volta pra mim,

Desfrute do meu amor,

Amor melhor não há.

DIA 19.

A noite na ilha solidão é uma das mais belas que já vi, é possível ver milhares de estrelas, todas cintilando no céu, desfilando seu lume no manto escuro; entre elas, entre tantas, está você, anjo ledo dos meus sonhos.

Descobri que nem todos os anjos possuem asas, você é um deles, fico a me perguntar quando a verei novamente, quando os meus olhos pousaram sobre os teus negros olhos; quando por Deus, verei estes teus lábios divinamente esculpidos sobre os meus, fico a me perguntar quando a verei novamente.

A lua toda prateada, surge no mais alto do céu, a dama da noite, ela desfila na passarela de estrelas cintilantes, majestosa, imponente. Lua que tantas vezes presenciou as minhas noites em claro, minhas lágrimas, meu desespero de poeta apaixonado.

O agradável som dos seres da noite, a sinfonia de grilos cantantes, ébrios das madrugadas, e o mar com suas ondas sobre a areia, numa eterna procura de um pelo outro, essa atmosfera toda me traz recordações.

Lembro-me, muito vagamente.

" Itália, cidade de Roma, praça de São Pedro no vaticano, enquanto eu observava as esculturas dos santos, você então apareceu, nos trombamos naquela hora, foi de repente: no coração da fé católica o meu coração despertou para o amor. Você tão jovem, tão bela, tão cheia de vida; caminhamos até a basílica e lá ficamos por algumas horas. A sua voz de anjo ledo em meus ouvidos, seus cabelos soltos por sobre os olhos, eu era apenas um poeta solitário, buscando no vento as minhas palavras de inspiração. Tudo mudou depois daquele dia, tudo mesmo, foi amor eu sei, um grande amor, maior do que tudo e do que todos, doces lembranças."

Para sempre vou te amar,

Com todas as forças vou te amar,

Mesmo que o sol negue sua luz,

E o luar não apareça mais,

Eu sempre vou te amar.

Saiba anjo ledo, é grandioso esse amor,

Amor que nasceu de teus olhos,

Amor que está em teus lábios,

Em cada pedaço do seu ser.

Saiba anjo ledo, Eu vou te encontrar,

Não importa o quanto demore,

Eu sei, vou te encontrar,

Juro por esse grandioso amor.

Saiba anjo ledo, que te quero tanto,

Mais do que você possa imaginar,

O meu amor é uma chama,

Que nunca vai se apagar.

DIA 20.

A alma humana é mesmo complexa, incompreensível eu diria, cheia de mistérios, cheia de segredos, afinal, não há novidade nenhuma nisso, muito pelo contrário; o anormal seria o contrário disso.

A minha alma é uma das mais complicadas equações de todos os tempos, um poço de mistérios insolúveis, cheia de esconderijos secretos.

O amor por exemplo: no meu caso então; é ainda mais misterioso.

Mas o que somos neste mundo vil, meros bípedes ambulantes caminhando sem direção, corações errantes neste mar de pessoas isoladas, afinal o que somos?

Hoje eu li Jonathan Swift, as viagens de guliver, que livro maravilhoso, gostei da forma como Jonathan aborda as coisas, a sua crítica ao ser humano de uma forma geral, usando de uma linguagem sofisticada e humorística. Quem nunca leu recomendo que leia.

Já é fim de tarde na ilha solidão, e a noite se apressa em abraçar o dia, e o envolve em seus longos braços escuros

Amanhã se tudo correr bem estarei indo até a cidade, pela primeira vez, no fundo no fundo não quero, mas tenho que ir, não me agrada nada a presença das pessoas, todas te olhando, posso estar sendo radical eu sei, a até maluco também, mas o fato é que sou assim.

Eu só quero o anjo ledo,

Assim tão perto de mim.

Eu só quero o anjo ledo,

É o seu amor que não tem fim.

Eu só quero o anjo ledo,

Meu amor primeiro.

Eu só quero o anjo ledo,

A encantar o coração cancioneiro.

Eu só quero o anjo ledo,

É seus beijos de amor.

Eu só quero o anjo ledo,

Sentir o seu calor.

Eu só quero o anjo ledo,

Que a muito já perdi,

Eu só quero o anjo ledo,

Quero agora é bem aqui.

DIA 21.

Acordei cedo, muito cedo, antes que os primeiros raios do sol rompesse o horizonte. Fiz o meu café como o de costume, bem forte, bem doce, comi uma torrada do dia anterior.

Quando os primeiros raios do astro rei rompeu no horizonte do mar, no céu tons avermelhados faiscando para todos os lados, na copa das palmeiras, alguns pássaros, saudando com o seu canto esse novo dia que começava.

Tomei um banho, escolhi a melhor roupa, um bom perfume, e sai; parecia até que eu estava indo para um encontro e de certa forma era mesmo. Era o meu encontro comigo mesmo, meu coração estava asselerado, lembranças vieram na memória, recordações da minha Itália.

Aproximei do pequeno cais da ilha, lá estava meu barco, o senhor que por ali ficava, o que trazia para mim algumas coisas quando eu lhe pedia, ele parecia mais solitário do que eu, mais amargo do que eu.

__ Bom dia seu Alberto, tudo bem com o senhor__ Estendi a mão para comprimentar.

__ Bom dia Giovanni, que bom ver você por aqui, tá precisando de alguma coisa da cidade.

__ Sim meu amigo, estou sim.

__ É só dizer o que é que busco para você__ Disse o velho lobo do mar como sempre fazia.

__ Dessa vez eu mesmo vou buscar o que eu preciso, mas quero sua ajuda, nunca fui a cidade, não conheço ninguém por lá, você pode me ajudar.

__ Mas é claro Giovanni, será um prazer lhe ajudar.

Entrei no barco, eu sentia meu coração asselerado no peito, uma inquietação dentro da alma, meu olhar fixo na ilha que aos poucos ficava distante, mais distante, eu estava com medo; o mesmo medo das outras vezes, medo da alma humana espelhada em mim, mas enfim, era preciso fazer aquilo.

Ela é um anjo

Que desperta todas as manhãs

Beija a aurora

Derramando o brilho do seu olhar

Pela extensão do mar.

Ela é um anjo

De uma beleza sem iqual

Ledo anjo

Dessas que palavras por mais belas

Não consegui explicar.

Ela é um anjo

É o meu pensamento transformado

É a gota do orvalho

Sem o seu amor de salvação

Nada sou

Além de um velho solitário.

DIA 22.

A ilha já estava tão distante que a única coisa que era possível ver era só um pontinho, nada mais; a nossa frente já era possível ver prédios, casas, ruas, carros e é claro pessoas, muitas pessoas, senti meu coração apertar no peito. O tempo em que fiquei sozinho sem falar e ver ninguém foi maior do que os dias na ilha, antes de vim para cá eu já desfrutava da solidão, eu vivi mais de um amo isolado das pessoas.

O senhor que trouxe o barco nada falava, apenas observava, depois de me deixar no cais combinei com ele que na parte da tarde eu retornaria para ilha.

A cidade que eu fui parece um pouco com uma cidade onde morei na Itália, por um minuto me senti um pouco em casa, sai pela cidade, tombando entre as pessoas, eu tinha perdido o costume de estar no meio de tantas pessoas, procurei fazer tudo o que eu tinha para fazer o mais rápido possível.

Primeiro fui a uma agência bancária, antes de ir para ilha, por segurança, abri uma conta em um determinado banco, por segurança, e transferi minhas economias todas; saquei o que eu achei necessário.

Depois comprei algumas roupas, cadernos novos, frutas e outras coisas supérfluas, fiquei por alguns minutos na praça da cidade, apenas observando, na verdade pensando no meu anjo ledo, na possibilidade dela aparecer novamente, fiquei quase uma hora ali e nada do meu anjo ledo.

Já estava na hora de retornar para ilha, para o meu pedaço de solidão, meu canto no meio do nada.

Lá estava ele, com seu barco me esperando, uma figura muito interessante, tão misteriosa quanto eu, tão silencioso quanto eu; quais será os segredos que ele guarda? Qualquer dia desses o convido para um café na minha casa. Entrei no barco e retomei o caminho de volta.

DIA 23.

O medo está em todo lugar, ele surge de dentro para fora, despedaçando - nos de todas as formas e de muitas maneiras; o medo me impulsionou ao abismo.

Hoje eu tive medo, eu fui consumido por esse medo, meu coração foi aprisionado na torre desse medo, Trancado no mais alto e escuro, a chave foi jogada no abismo.

Hoje eu tive medo, o barulho do mar me trouxe medo, o som das ondas quebrando na praia, a espuma na praia sendo absorvida pela areia, tudo isso me traz medo, muito mais do que medo, pavor eu diria.

Hoje eu tive medo, da luz do sol ao nascer, dos matizes avermelhados nas nuvens, das folhas verdes recebendo a luz, tudo isso me trouxe medo, esse novo dia que nasce com tantas incertezas, quanto medo existe em mim?

Hoje eu tive medo, quando os pássaros cantavam na copa das palmeiras, as suas penas multicoloridas, o som agudo de seus cânticos fúnebres, eu tive medo dessa sonoridade rompendo o meu silêncio.

Hoje eu tive medo, quando me deparei com o cara refletido no espelho, meu espelho, aquela expressão de dor, aquela face envelhecida, onde está o sorriso? Onde está a alegria? Quem é essa pessoa desconhecida no espelho quebrado? Quem é meu Deus, quem é? Não o conheço mais, não o conheço.

Foi apenas um sonho,

Foi apenas ilusão,

Foi apenas engano,

Foi simplesmente em vão.

Foi a falta de vontade,

Foi a falta de determinação,

Foi a falta de alegria,

Foi simplesmente em vão.

Foi meu dia mais escuro,

Foi o meu momento de desatenção,

Foi no mais profundo da minha alma, foi simplesmente em vão.

Foi puro medo eu sei,

Foi puro pavor eu sei,

Foi o meu próprio eu,

Foi simplesmente em vão.

Foi meus dias silêncio,

Foi meus anos solidão,

Foi a vida imperfeita,

Foi tudo simplesmente em vão.

DIA 24.

Os dias passam lentamente na ilha

Os dias se alongam como as ondas

E como as ondas deitam - se na praia,

E de forma lenta, retornam ao mar

Somos todos assim, extensão do mar

Nos derramamos lentamente na vida

Escorrendo por entre as fendas do dia

Mas, diferente do mar, nem sempre é

A mesma calmaria das águas salobras as vezes, muitas vezes, somos detidos

Aprisionados pelas circunstâncias .

A vida nos impõe muitas coisas, ela,

A vida, é repleta de segredos, muitos,

Além de segredos, inúmeros mistérios que nos assombra o tempo todo.

Além do que, existe certo anjo ledo

Que por vezes resolve aparecer a mim

Sem avisar, me assustando, comove,

Move meu coração, mexe na alma

Dilacera o meu pobre coração aedo.

O que fazer então, mediante tal coisa

Me digam o que devo fazer, por favor o que eu devo fazer?

Não quero enlouquecer nesta ilha

Embora eu acredite piamente, já

De certa forma estar completamente

Louco, sim, louco, simples assim.

Eu a vejo, a desejo, a todo instante

A todo momento, a cada segundo

Onde estará o meu anjo ledo?

Por favor alguém me diga

Onde estará o meu anjo ledo.?

DIA 25.

Todos precisão de solidão, nem que seja uma vez na vida, embora eu acredite que a solidão seja recorrente nas nossas vidas, afinal, quem nunca se sentiu só. Muitas pessoas sentem solitárias mesmo estando no meio de uma multidão de pessoas, isso é perfeitamente normal; acreditem, perfeitamente normal, eu diria até que neste particular sou um perito. Estar só no meio de outras pessoas é um dom, uma ciência, não uma doença como muitos pensam, não sou tão doente assim, a solidão não é a minha doença, não é o meu problema, me dou bem com a solidão, o meu verdadeiro problema é o anjo ledo, esse sim é um grande problema. Está na hora de falar um pouco do anjo ledo, afinal, onde estará o anjo ledo? Onde estará?

Tu que arrebatas o meu coração,

Tu que me dominas por inteiro,

Tu que me conheces tão vem,

Tu que és minha eterna ilusão,

Tu que és minha grande paixão,

Tu que surges ao luar,

Tu que desapareces na aurora,

Tu que de repente reaparece,

Tu que és meu delírio e tormento,

Tu que és a minha sombra,

Tu que és o meu vento,

Onde tu estás anjo ledo?

DIA 26.

Itália, 1941 domingo de manhã, nas proximidades de Veneza, uma mãe chora de dor, a dor do parto, o pai preocupado sai para procurar ajuda, duas senhoras, as mais experientes parteiras das redondezas, lutam junto a mulher de olhos azuis, gemidos, suor e lágrimas. Não havia muito o que fazer, era apenas esperar, mas de repente, um milagre aonteceu, aos berros, todo sujo de sangue, quando todas as vozes se calaram, a doce voz daquela criança ecoou na forma de choro, era o primeiro filho de D'accomo e Anita.

Foi uma grande festa segundo minha mãe dizia, depois vieram os outros filhos, dois homens e uma mulher, família numerosa alegria e trabalho dobrado.

O motivo de estar contando isso nem eu mesmo sei, é minha história, minha vida, não estou me despedindo, nada disso, são apenas lembranças que resolveram aparecer no coração deste poeta.

O dia de hoje está calmo, uma chuva fina cai lá fora, uma sensação gostosa que a muito tempo eu não sentia, uma paz dentro da alma, talvez seja o anjo ledo, sim claro, o anjo ledo; mesmo porque todas as vezes que o anjo ledo estava perto de mim, eu sentia essa mesma paz, talvez seja isso, talvez seja ela.

Vem anjo ledo,

Vem até minha presença,

Quero ver tua face,

Te envolver no meu amor,

Vem anjo ledo,

Não tenhas medo de aparecer,

Eu te quero tanto,

Eu te amo tanto,

Vem para os meus braços,

Vem agora, não demores,

Eu te amo anjo ledo,

Com todas as forças do meu coração,

Em cada palavra que escrevo,

Eu te amo anjo ledo,

Se algum dia o mundo ver meu diário saberá o quanto eu te amei,

Mas nunca saberá,

Quem tu és de verdade,

Saiba anjo ledo,

Que eu sempre te amei,

E te amarei até o fim de meus dias.

DIA 27.

Não foi nada como eu planejei, tudo aconteceu completamente diferente do que eu previ, a vida tem dessas coisas, nem sempre as coisas acontecem como planejamos.

Eu pensei que na Itália eu realizaria o meu grande sonho, mas não foi assim, o meu desejo era ser reconhecido como um bom escritor; apenas isso, vender bem, ter retorno financeiro, tudo isso seria uma consequência, mas, como todo o escritor, meu objetivo principal era ganhar o coração de meus leitores, e proporcionar - lhes prazer e satisfação ao ler meus livros.

O mercado editorial é um mundo complexo, difícil de ser conquistado, Lembro-me do meu primeiro livro de poemas, de toda a dificuldade, o livro não saiu como eu esperava, teve uma divulgação ruim, e por consequência vendeu pouco, meu segundo livro foi melhor aceito, mas ai veio os problemas, para ser mais preciso, veio o anjo ledo, minha vida tão tranquila desmoronou, o anjo ledo me perseguia, em todos os lugares que eu ia, até durante a noite em meus sonhos, eu não comia direito, eu não dormia direito, tudo ficou confuso, tudo ficou triste, me transformei em um escravo desse amor impossível.

Depois de tanto sofrer, com tratamentos inúteis, medicamentos caros, decidi sair da Itália, e aqui estou, em uma ilha, que eu pensava que era deserta, mas acabei por descobrir que não é, aqui viverei até o meu último dia de vida.

Anjo que veio do céu,

Veio de repente,

Invadindo meu pensamento,

Fazendo morada no meu coração.

Anjo de beleza sem iqual,

De olhar feiticeiro,

De olhar envolvente,

De olhar atraente.

Anjo ledo que enlouquece,

De lábios ardentes,

De corpo perfeito,

O que eu faço para te esquecer?

Anjo que traz inspiração,

Minha proibida paixão,

Roubastes minha vida,

Roubastes minha paz,

Anjo ledo, que foi e não volta mais.

DIA 28.

A vida passa rápido demais, de modo que não a percebemos, os dias são como sombras, que num instante desaparece, mas o que somos senão meros fantoches no palco da vida.

Houve um tempo em que eu estava morando perto de Roma, nesta época eu dividia uma pequena casa com outro amigo, o nome dele era Lorenzo, um artista excepcional, como nunca vi, todas as manhãs Lorenzo ia para as praças fazer seu trabalho, fazia pintura de paisagens, figura de animais, desenhava o rosto das pessoas que ali ficavam, uma pena que não lhe davam o que ele realmente merecia, mas tudo bem, isso de certa forma é normal, todo artista tem esse problema, nunca é reconhecido como deveria.

Certo dia, quando ele retornou para casa depois de um dia exaustivo, como de costume foi tomar banho, eu nunca havia reclamado, mas ele sempre demorava demais no banheiro, eu nunca liguei, mas naquele dia eu acabei brigando com Lorenzo, foi então que ele me contou o seu segredo, algo que ele escondia a muito tempo, os seus dois pés eram cheio de feridas, chagas horríveis, e por ficar o dia inteiro na rua trabalhando, as meias grudavam nas chagas, de forma que durante o banho ele chorava para arranca - las, por isso a sua demora nos banhos.

Pouco tempo depois Lorenzo faleceu, ele tinha câncer no pulmão e nunca disse nada a ninguém, nunca que eu imaginava que aquela pessoa tão sorridente tinha tantos problemas, Lembro-me que antes de falecer, ele me deu um presente, que até hoje eu guardo, uma bonita bíblia de capa de couro, com o seu nome assinado.

Hoje faz vinte anos de seu falecimento, quantas Saudades este grande amigo deixou, ainda tenho algumas de suas telas, ser humano como ele é raro de se ver, mas tenho certeza que ele foi para o céu, sem escalas para o céu.

DIA 29.

Este não é o momento mais propício para visitar meu diário com minhas palavras, mesmo porque são três horas da madrugada na ilha solidão, mas dadas as circunstâncias, abro uma exceção, tive uma noite atribulada, sonhos ruins, na verdade nem vou classificar isso como um sonho, na realidade é um pesadelo.

Neste momento uma brisa suave entra pela janela do meu quarto, o barulho do mar, o quebrar das ondas sobre a praia, me traz um certo sossego na alma, embora eu ainda esteja sem sono, devido ao pesadelo, bom sem mais delongas vamos ao sonho, ou melhor, ao pesadelo.

A coisa se deu da seguinte maneira, neste tenebroso sonho, eu estava aqui mesmo na ilha, mas não era apenas eu; havia mais quatro pessoas, totalmente desconhecidas, pessoas que eu nunca vi, todos homens, e todos estavam de joelhos assim como eu, estávamos com as mãos para trás e amordaçada, o local e um pouco para frente da minha casa, bem de frente para o mar, na verdade só eu estava de frente para o mar, os outros quatros estavam de costas para o mar. De repente, do nada surge uma figura sinistra, toda de preto, capuz na cabeça e nos olhos um óculos escuro que não permitiu ver seus olhos. Aquela figura estranha, que parecia mais um terrorista, veio primeiramente em minha direção, na sua mão esquerda, uma faça enorme, que reluzia com a luz do sol, ele apontou a lâmina para mim, aproximou, posicionou - se atraz de mim, eu sabia que iria morrer naquela hora, pedi ao meu algoz que tivesse misericórdia, ele nada respondeu. O aço reluzente daquela lâmina encostou no meu pescoço, a sua mão direita segurava meus cabelos inclinando meu pescoço levemente para traz, lentamente senti a lâmina fria escorregar no meu pescoço, senti a dor do corte, senti o sangue escorrer, senti o fôlego ir embora; eu estava morrendo pelas mãos de alguém desconhecido.

O mais bizarro desse pesadelo, é que no momento em que ele terminou de passar a lâmina no meu pescoço, que eu cai, meus olhos permaneceram abertos, eu não sentia mais o meu corpo, eu não ouvia mais nada, mas conseguia ver o que acontecia, eu vi os quatro homens na minha frente serem mortos da mesma forma que eu fui morto, coisa horrenda, depois despertei desse pesadelo. Isso era duas horas da madrugada, depois disso não consegui dormir, virei - me na cama de um lado para o outro e nada de sono.

Uma hora depois resolvi levantar, e aqui estou, diante do meu único confidente, meu diário, não sei o porque deste sonho, não sei o que está acontecendo ou o que vai acontecer, de uma coisa eu sei, neste momento estou com muito medo, medo de algo desconhecido, medo de mim mesmo talvez, medo de minha mente doentia.

Como eu gostaria de estar na minha Itália neste momento, na minha velha choupana, e de preferência ao lado do anjo ledo, mas nem tudo é possível, nem tudo nesta minha vida é real.

DIA 30.

Nada tenho a declarar neste dia tão escuro, tão negro, tão triste, quero apenas o silêncio, calmo silêncio, aterrorizante silêncio.

Não quero o mar com suas ondas

Não quero as ondas em meus pés

Não quero a sombra me acolhendo

Não quero o som dos pássaros

Não quero a brisa que assopra

Não quero palavras ao vento

Não quero nada

Não quero o medo

Não quero a angústia na alma

Não quero sofre

Não quero chorar

Não quero mais

Não quero

Não

Basta a tristeza deste dia anjo ledo, basta isso é nada mais, talvez eu diga adeus, talvez anjo ledo, talvez.

DIA 31.

Houve um tempo, quando eu vivia em Gênova, que eu tinha a falsa sensação de felicidade, é esquisito isso, difícil de compreender, aliás eu sou alguém difícil de ser compreendido, talvez seja normal isso, ouvi dizer que os grandes artistas eram muito instáveis emocionalmente, vejo que eu não fujo a regra, sou apenas mais um. Bom, como eu estava dizendo, eu tinha uma falsa sensação de felicidade, eu morava sozinho nessa época, eu sempre morei sozinho, é estranho isso, sem dizer que é outra característica dos instáveis emocionais. Minha rotina era a mesma todos os dias, acordava cedo, fazia meu café, depois ia para o trabalho, na parte da manhã eu trabalhava em um jornal local, eu era um dos redatores, mas este emprego não durou muito, na parte da tarde eu trabalhava em uma pequena biblioteca, esse sim era um emprego que eu gostava, mas também durou pouco tempo, mas eu nunca que vou ter outro emprego daquele, para mim era perfeito, um trabalho solitário e rodeado de livros, um amigo chamado Alberto certa vez me disse que eu era um constante depressivo, hoje eu sei que o que ele disse é verdade, dolorida verdade.

Hoje é o meu trigésimo primeiro dia nesta ilha, eu que pensei que não fosse durar uma semana, mas aqui estou, diante dessa praia extensa, cercado de verde, cercado de mistérios, essas ilha é muito misteriosa, durante o dia é completamente silenciosa e deserta, durante as noite e cheia de sons esquisitos, cantos e vozes estranhas, algo de errado tem aqui, ou é a ilha, ou talvez seja eu.

Qualquer dia desses eu vou sair a noite para descobrir o que está acontecendo, vou investigar esses sons estranhos.

Outro dia eu vi de relance, o anjo ledo, parecia estar na beira da praia, corri até o local para vê-la, mas quando cheguei ao local ela não estava mais lá, fiquei muito triste, chorei muito.

Devolva o rude mar,

As lágrimas que derramei,

Devolva a tristeza que era minha,

A tristeza que se derramou dos meus olhos.

Devolva rude mar,

O sorriso que lhe dei,

Naquele tarde chuvosa,

Devolva - o por favor,

Aquele era o meu único sorriso.

Devolva rude mar,

O meu anjo ledo,

Sei bem que o tens tomado para si,

Não me deixes tão só,

Por favor rude mar,

Devolva meu anjo ledo.

DIA 32.

As lembranças vieram assaltar meus pensamentos, logo nos primeiros minutos dessa manhã, o sol já nasceu com todo o seu esplendor, Reluzindo no horizonte do mar seus matizes multicoloridos, escorregando pelas nuvens e tomando todo o céu em um tom rubro muito bonito, estou encantado com a beleza e o espetáculo da natureza, estou encantado da forma como as flores dessa ilha se entregam apaixonadas ao beija flor e as abelhas, tal coisa é maravilhosa demais, muito difícil de se compreender, mas nos humanos somos meros espectadores neste palco da vida; são as primeiras horas de um dia diferente.

As lembranças são barcos jogados ao mar, levados pelo sabor das marés e a doce luz do luar, as lembranças alimentam nossa alma, impulsionam o nosso coração, durante essa madrugada, eu tive um sonho; doce sonho com o anjo ledo, sonho carregado de lembranças, como é bom sonhar, como é bom lembrar.

Hoje sou um exilado nesta ilha de mistérios, assim fiz no intuito de fugir de mim mesmo, e das constantes aparições do anjo ledo, mas veja só que coisa; acabei por descobrir, no meu exílio de silêncio, que o problema não estava no local onde eu morava, que na ocasião era a Itália, o problema está sim dentro dessa minha cabeça maluca, mas tudo bem, já está feito e pronto.

O sonho dessa noite deu -se da seguinte maneira: No sonho eu estava na beira da praia, quase no final dela, próximo aos rochedos, que dá início a mata fechada, lá eu estava a rabiscar meus poemas na arei, como sempre faço vez ou outra, de repente, eu avistei um pequeno barco se aproximando da praia, logo reconheci aquela figura que estava de pé na pequena embarcação, que deslizava suave sobre as águas, era o anjo ledo, sim era ela, resplandecente como o sol pela manhã, sua face irradiava luz, seus cabelos longos e negros, os olhos brilhantes como duas estrelas, no corpo, uma veste transparente, deixando o seu lindo corpo quase a mostra, devido o reflexo do sol e a transparência do tecido, ela foi chegando, ancorou seu barco na praia, e veio ao meu encontro, ah... Não existe ser mais belo que o anjo ledo, eu tenho certeza que não, nem no templo de Afrodite existe ninfa mais bela, o seu perfume enebria a alma e enlouquece o coração, seus toques queimavam minha pele, nos beijamos ali mesmo, nos amamos ali mesmo, naquela fofa e branca areia.

Logo depôs despertei, parecia que eu ainda sonhava, parecia que ela ainda estava na minha frente, com toda sua beleza, Dona do meu coração, razão do meu viver, pode até parecer loucura, mas sei que ela vai aparecer, mais cedo ou mais tarde ela vai aparecer.

Eu te amo anjo ledo,

Com todas as forças do coração,

Com toda minha alma,

Eu te amo anjo ledo,

Não sei viver sem você,

Por favor volte logo,

Não me deixes aqui solitário,

Estou te esperando no mesmo lugar,

Meu olhar se prende ao mar;

Na inesgotável esperança,

De um dia te ver,

Uma vez mais,

Te amo anjo ledo.

DIA 33.

Hoje pela manhã, resolvi caminhar um pouco, mas dessa vez eu não fui pela beira da praia, decidi adentrar na mata é explorar um pouco, sempre faço caminhadas matinais, mas nem sempre no interior da ilha, hoje pela manhã resolvi desbravar o interior da ilha e fiz grandes descobertas que eu mesmo demorei para assimilar, descobertas que me fez ter uma ponta de esperança, que fez ver que talvez o impossível possa de fato acontecer; eu já havia falado da entrada da mata no final da praia próximo aos rochedos, mas não foi por ali que fui, dessa vez tomei outro caminho.

Resolvi tomar o caminho oposto, o do outro lado, no outro extremo da praia, no lado que o sol nasce, não há pedras ali, apenas a mata, a diferença em relação ao outro lado é que nesta parte as árvores são bem mais altas, de forma que é possível caminhar no interior do mata tranquilamente, no outro lado há muitos arbustos, é difícil caminhar sem ter um bom facão em mãos, aqui não há necessidade de nada, parece até com algumas partes da Itália, um amigo meu, tem uma propriedade nas proximidades de Gênova, e lá há muitas matas, muito semelhantes a essa aqui.

Tomei um caminho reto, não demorou muito e encontrei um pequeno riacho, de águas cristalinas, provei daquela água, que por sinal é maravilhosa para se beber, havia pequenos peixes naquele riacho, passei então a seguir o pequeno riacho que ia ilha adentro, eram ainda nove horas da manhã, caminhei um pouco mais, quando de repente ouvi um barulho estranho, como de fosse de uma pequena queda de água, aproximei um pouco mais, o som ficou mais forte, agora parecia o barulho de uma roda de água, na Itália tem muito disso, aproximei um pouco mais.

Foi quando o inesperado aconteceu, foi quando meus olhos não quiseram crer no que estava diante de si, a princípio, uma roda de água coberta por uma pequena cazinha de telhas vermelhas, e um sistema de encamento de água que ia na direção, acreditem, de uma bela casa, feita de madeira e tijolos, uma belíssima casa, não era velha, e não havia sinal de estar abandonada, muito pelo contrário, era uma casa muito bem cuidada por sinal, um espaço ao redor da casa muito bem limpo, era possível ver pelo vidro da janela da casa que havia móveis lá dentro.

Aproximei um pouco mais, andei ao redor da casa, na parte da frente havia um belíssima varanda, toda enfeitada, e o que mais chamou a minha atenção eram as belas flores que haviam ali, flores que me fizeram sentar ali mesmo, no meio do quintal, e chorar, sim eu chorei, havia dois tipos de flores, Tulipas vermelhas e uma espécie rara de rosas negras, as duas flores prediletas do meu anjo ledo, flores que ela fazia questão de ter, será que por algum milagre do acaso aquela casa era do meu anjo ledo? será que ela estava assim tão próxima de mim? Será meu Deus?

Essa seria minha missão, sondar a casa e descobrir se realmente era do meu anjo ledo.

DIA 34.

Passei todo o dia pensativo, conjecturando sobre a casa das Tulipas, Permita-me chama - lá assim, fiquei o dia todo me questionando, é claro que aquela casa pode perfeitamente ser de qualquer outra pessoa, que também goste de Tulipas e rosas negras, mas é aí que vem as dúvidas e os porquês.

Uma coisa é bem certa, aquela casa, pelos cuidados e pela arrumação tanto externa quanto interna, é de uma mulher, isso é muito claro, cortinas rosas nas janelas, na parte de dentro, o que deu para perceber é um ambiente repleto de pequenos detalhes típicos das mulheres.

Como pode, o anjo ledo ter uma casa bem aqui, nesta ilha a quilômetros da Itália? E o porquê dela escolher esse lugar específico? A casa dela, se é que é dela, além de ser muito mais aconhegante que a minha, sem dúvidas é muito mais afastada, e muito mais escondida, se eu soubesse dessa casa, eu a teria negociado ao invés da outra, mas tudo bem, ela não fica tão longe assim, basta caminhar um pouco, sem dizer que essas árvores altas e as folhas secas no chão, dão um charme a esse lugar incrível, é de uma beleza sem tamanho.

Boas lembranças também vieram nos meus pensamentos, lembranças de Gênova, Itália, cidade portuária, seu cais é belíssimo, suas ruas estreitas é um charme. Certa vez, me perdi em uma dessas ruas estreitas, mas não tem muito que se preocupar caso isso um dia aconteça, se por ventura alguem estiver em Gênova perdido em suas ruas estreitas, é só descer, e descer e logo vai acabar chegando no cais, Gênova é uma cidade montanhosa, com prédios bonitos, tenho saudades de lá, enfim, as vezes sinto saudades da Itália de um modo geral, da Roma dos papas com todos os seus monumentos, da bela Veneza, e suas Gôndolas, engraçado que tudo isso me faz lembrar do anjo ledo , isso mesmo, do anjo ledo , ou Safira, esse é o verdadeiro nome dela, daquela que conquistou meu coração, bela mulher, de encantos sem iguais, Magestosa como o luar, radiante como o Orion, como ela é bonita, lábios bonitos, carnudos, ah... eu nunca vou me esquecer daquele bar, a vez primeira que nos vimos, ela estava um pouco embreagada, curtindo a noite, eu era apenas um solitário andarilho, que resolveu entrar naquele bar, quando meus olhos pousaram sobre os dela, a chama do amor se ascendeu dentro de mim, naquela noite depois de uma longa conversa, ficamos juntos, Beijos, Abraços, Inesquecível momento, depois disso ela se foi, mas deixou no meu peito um rombo, um descomunal amor que não tem explicação lógica, nem plausível, sei que a amo, muito mais do que as palavras podem explicar.

Eu a procurei, ela fugiu, eu então enlouquecido fugi, e ao que me parece a encontrei, não entendo o amor, sempre nos pregando peças, nos fazendo de fantoches.

Já é tarde agora, faz frio, embora o peito esteja queimando, vou tentar dormir e pela manhã retornar à casa das Tulipas, quem sabe eu tenha uma agradável surpresa, quem sabe, eu espero que sim.

DIA 35.

Raios e trovões cortaram o céu de um lado a outro, vendavais tão fortes que fizeram as palmeiras dobram-se, quase a quebrar - se, uma forte chuva estava para cair, eram nove horas da manhã, o tempo feio e escurecido não me impediu de ir até a casa das Tulipas, mas eu ainda não havia chegado lá, eu estava bem debaixo das árvores grandes, de forte que era os ventos que muitos galhos vieram a cair, um deles quase me atingiu, por um instante fiquei sem saber para onde ir, voltar para casa era um grande risco, ir para a casa das Tulipas era outro maior ainda, o que fazer então?

Decidi por ir à casa das Tulipas, é uma completa maluquice da minha parte, mas eu tinha que fazer isso, nem eu mesmo sabia o porque eu estava fazendo tal coisa, comecei a caminhar um pouco mais rápido, o vento se intensificou, pedaços de galhos eram arrancados das árvores, os raios iluminavam todo o interior da mata, os primeiros sinais de chuva já eram visíveis, apertei o passo quase a correr, cheguei então na varanda da casa das Tulipas, e ali fiquei, observado o temporal que parecia mais forte.

As primeiras gotas grossas da chuva começavam a cair no telhado da casa, fiquei apreensivo com receio de voltar para casa, um certo medo e arrependimento vieram ao meu coração, a chuva começou aumentar, de modo que seus respingos adentravam na varanda, molhavam as Tulipas e as rosas que balançavam com o vento, se elas continuassem ali onde estavam certamente seriam danificadas, coloquei - as mais próximas da porta, impedindo assim que suas belas folhas viessem a se machucarem, a última coisa que eu queria é ver as flores do meu anjo ledo todas quebradas, imagine a tristeza dela, ou seja lá de quem fossem.

No momento em que me curvei para arrumar as flores, encostei na porta da frente, a porta então se abriu, levei um tremendo susto, pensei que houvesse alguém ali, mas não havia, talvez por um descuido deixaram a porta destrancada, diante de mim estava uma porta aberta, que poderia bem ser a casa do meu anjo ledo, entrar ou não entrar? Eis a questão, minha razão dizia que não, mas o coração dizia que sim, por alguns minutos fiquei parado sem saber o que fazer, foi então que tive coragem e tomei a decisão de ouvir o que o coração falava.

A chuva aumentou muito naquele momento, agora já não era nem questão de ouvir o coração, mas a própria razão, percebendo o perigo de ficar ali cedeu ao coração pela primeira vez, adentrei na casa, fechei a porta, e logo todas as minhas suspeitas estavam corretas, era mesmo a casa de uma mulher, depois de observar um pouco mais cada detalhe, eu não quis explorar muito a casa, mas quando adentrei na cozinha, eu vi um pequeno porta retrato sobre a mesa, e acredite, era ela, sim era ela, o meu anjo ledo, a minha Safira, aquela era a foto dela, bem ali diante de mim, ah... meu coração quase parou, sentei-me para não cair, meus olhos estavam cheios de lágrimas, e o coração cheio de esperança, ver o anjo ledo, agora era só uma questão de tempo e paciência, afinal, aquela era de fato a casa dela.

DIA 36.

Como descrever tal formosura,

Se nem as ninfas alcançam tanto,

Afrodite queima tamanha inveja,

Só de ver a face dela,

A face dela brilha como a aurora,

Os cabelos negros e longos,

Soltos por sobre os ombros,

É de uma maciez sem iqual,

E seus grandes olhos brilhantes,

Tão azuis quanto o céu.

É impossível que estas palavras,

Dimensionem toda sua magestade,

Palavras não são o suficiente,

Sempre existirá um vago,

Algo que ainda não foi dito,

Não é fácil transformar sentimentos,

Aquilo que está no âmago da alma,

Em versos de uma poesia,

Pois este anjo; é pura perfeição.

Ela surgiu de repente em minha vida,

Veio fulgurante como estrela,

Em uma noite escura sem luar,

Eu nunca imaginei que o amor,

Fosse capaz de me aprisionar,

Ela me acorrentou a seu olhar,

No calabouço daquele coração,

E lá estou desde então,

Lindo anjo ledo a me encantar,

Bela Safira que me faz sonhar.

Minha Itália agora é lembrança,

Deixou no peito muitas saudades,

Me fiz fugitivo de muitas cidades,

Um andarilho errante,

Na terra estranha poeta delirante,

Risquei na arei de solitária praia,

Minha poesia de medo e dor,

Poesia que o mar vem buscar,

Que num instante desaparece,

Nas profundezas do mar.

E lá no distante reino dos sonhos,

Sou o teu cavaleiro aventureiro,

Cavalgando em extenso reino,

Onde obstáculos não existe,

Somente o meu coração de amor.

Certo dia no reino dos sonhos,

Algo extraordinário aconteceu,

Um ser trajado de luto,

Morador da mente muito astuto,

Adentrou no reino sem permissão.

Tudo então começou a mudar,

Mudou as leis do meu reino,

Leis que foram modificadas,

E as luzes chamadas encantadas,

Foram apagadas da imaginação,

Temeroso estava este cavaleiro,

Com tamanha balbúrdia feita,

O nome desse odioso ser,

Fez o meu coração tremer,

Todos o conhece como razão.

Dura batalha foi travada,

Dia após dia, noite após noite,

Não seria possível imaginar,

Quem a batalha iria ganhar,

Tamanha era a confusão,

Este poeta do reino dos sonhos,

Ajuntou todos em assembleia,

Todos estavam presentes,

Dali a poucos instantes,

Todos ouviriam palavras do coração.

Os moradores dos Reinos dos sonhos,

Ouviram atentos os discursos,

A proposta votada foi a melhor,

Na intenção de evitar mais dor,

A proposta foi a votação,

O reino seria dividido,

Assim evitaria mais lutas,

E buscariam cultivar o amor,

Assim como cultiva uma bela flor,

Tulipas e rosas de grande valor.

A razão analisou atentamente,

Observando cada vírgula e ponto,

E todos que a razão se aliou,

Todos quantos arrebatou,

Aceitou a proposta sem objeção,

A proposta passou a vigorar

E o reino todo foi dividido,

Em cada uma das metades,

Reinaria grandes verdades.

Desde muito tempo isso foi feito,

Guerra em meu peito foi travada,

No meu pequeno universo,

Reinos distintos estão imersos,

Desde os meus tenros primórdios,

Seja conhecido por ti anjo ledo,

Que por sua causa não tenho paz,

Habita dentro de mim,

Sentimento sem fim,

Pois sou hoje razão e coração.

Este é um dos muitos poemas que escrevi na areia, infelizmente este foi o único que não permiti que o mar levasse, e não sei por qual motivo resolvi transcreve - lo aqui.

Te amo anjo ledo.

DIA 37.

Sentado na beira da praia, logo nas primeiras horas da manhã, quando a luz do sol é ainda fraca, fiquei a observar o movimento das ondas e das marés, no rosto uma brisa suave, no pensamento uma única certeza, a de que hoje, vai ser mais um dia de monotonia.

Passei então a refletir no amor, afinal o que é o amor, senão este sentimento confuso, que nos domina e nos aprisiona, pensamos que temos controle do amor, mas a grande verdade, é a de que somos seus escravos, presos em seus poderosos domínios, acorrentados em seu calabouço.

O amor é essa coisa louca, muitos tentaram defini-lo, mas não há definição para ele, muitos tentaram fugir dele, mas não tem como fugir, o amor é senhor de si mesmo, fazendo de nós meros fantoches nas suas mãos, não é nós que escolhemos o amor é ele que nos escolhe, ele brinca com nossos sentimentos, nos faz amar as impossibilidades, só para nos ver sofrer, e aflitos choramos e clamamos por ele. O amor é assim, sempre foi e sempre vai ser, fugir dele é besteira, arranjar um novo amor para curar um velho amor, também é besteira, eu sou prova disso, eu que tanto amei ou melhor, que tanto amo.

Ontem fui até a casa das Tulipas, e adivinhe minha surpresa, quase enfartei, chegando lá, como de costume, fui até a varanda colocar água nas flores, belas flores, pequei um baldinho e comecei a jogar água, primeiro nas Tulipas, depois nas rosas, lá estava eu, tranquilo, Assobiando e cantarolando, quando de repente fui surpreendido por uma voz feminina, voz meiga, suave, que me disse assim :

__ O que você está fazendo aqui, quem é você?

Eu está de costas e abaixado, levantei lentamente, me virei, e para minha surpresa era ela o meu anjo ledo, o grande amor da minha vida, bem ali diante dos meus olhos, a minha vontade era de abraça - lá ali mesmo, de cobri - lá de beijos, mas eu não poderia, ela talvez nem fosse se lembrar mais de mim, então apenas respondi sua pergunta.

__ Calma tudo bem, eu moro próximo daqui, na beira da praia, é que achei por um acaso essa casa, e vendo essas flores tão bonitas, passo aqui todos os dias para cuidar delas, desculpe se te assustei, você mora aqui?

Ela me olhou fixamente, como se estivesse tentando se lembrar de algo.

__ Na verdade não, eu não sou daqui, sou italiana, mas comprei uma casa na costa, e essa aqui também, venho aqui nas férias, eu nunca te vi aqui antes, mas o seu rosto parece familiar, de onde será que te conheço.

__ Bom, eu também sou italiano, meu nome é Giovanni Marconi, sou poeta, comprei a casa lá perto da praia, tem um pouco mais de um mês, mas você, eu me lembro bem de você, Safira é seu nome, não é mesmo, nos conhecemos a alguns anos atrás, em um bar lá na Itália.

__ Um bar, perai, ah tá... Agora estou me lembrando, vagamente, bebi muito naquele dia, era um bar bem movimentado, você chegou depois, mas que bom né, seremos vizinhos, foi bom te reencontrar Giovanni.

Meu sorriso cortou a face de um lado a outro, agora era só ter paciência, afinal, ela se lembrava de mim, isso era um bom sinal.

DIA 38.

Quem disse que o impossível não pode acontecer na vida de alguém, não só pode como acontece, até na vida de um italiano exilado em uma ilha deserta, Somos todos assim, extensão de nossos próprios sonhos, os tornamos reias a medida que eles se intensificam. Depois de tanto imaginar, de sofrer, depois de tantos vislumbres, finalmente, algo de real aconteceu, uma bela casa de Tulipas vermelhas e rosas negras muda tudo na vida de uma pessoa, passei toda noite em claro, imaginando, em tudo o que seria possível com ela tão próxima de mim, meu anjo ledo voltou.

Logo pela manhã retornei a casa das Tulipas, ela já havia acordado, quando ela me viu do lado de fora, convidou-me para entrar, eu aceitei o convite; entrei na casa como se fosse a primeira vez, eu não disse a ela de que já havia estado ali, a casa estava perfumada, muito mais do que isso, a casa estava toda iluminada, era a luz que emanava de seus belos olhos azuis, luz que ilumina minha vida, luz que me arrancou das trevas, luz que me fez sonhar novamente, luz do amor, luz de uma desenfreada paixão.

Diante de mim estava a mulher da minha vida, ela estava ainda com as roupas com que dormiu, um pijama rosa, bem curtinho, colado no corpo, delineando suas coxas, os seios fortes pareciam querer arrebentar a parte superior do pijama, foi uma tortura estar ali, será que ela não percebeu o quanto ela estava provocante? Será que ela fez de propósito, só para me torturar? De uma coisa eu sei, o corpo dela é perfeito, em cada curva em cada detalhe, eu inutilmente tentei disfarçar meus olhares, mas não conseguia, era mais forte do que eu.

Ela nada dizia, mas não trocou de roupa, se fez de inocente, de desentendida, e continuou naquele jogo de tortura, meu olhar a desejava, meu corpo todo a desejava, meus lábios desejavam os lábios dela, e todo o corpo também, ela sentou-se bem perto de mim, seu perfume me fez delirar de paixão, ela percebeu o domínio que exercia sobre mim, ficamos a manhã toda conversando, ela falava da vida dela, de suas muitas festas, de como fez para comprar aquela casa, de que as vezes ela gostava de solidão, de sumir um pouco, e ali era o lugar perfeito para isso, eu apenas ouvia tudo atentamente, absorvia cada palavra, daquela mulher maravilhosa.

Alguma coisa me dizia que ela se lembrava da noite em que ficamos juntos, alguma coisa me dizia que ela de certa forma desejava terminar aquela noite, talvez seja só impressão desse poeta apaixonado, mas como as impossibilidades estão se tornando possíveis, eu aderi ao seu plano de sedução, e me deixei ser seduzido, e também comecei a provocar, mesmo nos meus cinquenta anos, eu ainda desfrutava de um corpo forte, e de uma boa aparência, estava na hora de provocar também, dizer que eu também estava interessado, dizer sem palavras, dizer com o próprio corpo, assim como ela fazia com o dela.

DIA 39.

Meu coração é um navegante solitário, mas neste momento tem necessidade de um cais de um porto onde possa descansar, talvez seja ela, talvez seja o anjo ledo, a única coisa que sei é que essa mulher mexeu com minhas estruturas, mudou meu coração, durante muito tempo fiquei perdido sem saber o que fazer, eu vagava de um lado para outro, me escondendo aqui e ali, até o dia que resolvi fugir, ou melhor, fingir na verdade que estava fugindo, mas não se pode fugir do que está lá dentro de você, é impossível eu sei.

Da Itália ao Brasil, de Veneza a uma ilha Catarinense, de vislumbres de loucura a realidade da presença dela, tanto que corri que a encontrei, lá está ela, na casa das Tulipas, vestida de magestade, magnífica como as estrelas, irradiando beleza por onde passa, até as flores se curvam diante a sua beleza, sua voz é uma canção de amor, até o seu jeito de andar é magestoso, delicado, sempre falei do amor, mas nunca havia provado do verdadeiro amor, e o sabor de um grande amor é indescritível, embebeda a alma enlouquece o coração, é o hidro mel dos deuses nórdicos.

A minha vontade é de ficar na casa das Tulipas, noite e dia, mas seria inconveniência da minha parte, ontem depois do café, ela deu uma demonstração de seu intento provocativo, depois de saborear um de suas iguarias caseiras, levantei-me para levar a xícara e o pires até a pia, eu havia comido um pedaço de doce, meu objetivo era lavar para ela a louça que eu tinha sujado, ela levantou de onde estava, colocou as suas delicadas mãos sobre as minhas dizendo:

__ O que você está fazendo, por favor deixe isso aí, você é meu convidado?

__ Permita-me ajudar, é o mínimo que posso fazer para retribuir tão saboroso café__ Respondi.

__ Por favor Giovanni__ Ela disse__ sente - se vamos conversar um pouco.

Neste momento deixei o talher cair, antes que eu o pegasse, ela mais rápida do que eu, abaixou-se bem na minha frente, quase delirei, aquele pijama curto e transparente, delineado a perfeição de suas nádegas, e acredite caro diário, ela não usava a roupa íntima, e no momento em que ela pegou o talher, propositadamente esbarrou-se em mim, imagine a minha situação, aquilo foi um ato covarde de provocação a um coração apaixonado.

Hoje pela manhã eu a vi na praia, com um biquíni vermelho, que corpo perfeito, que mulher, realmente ela é um anjo de medidas e proporções perfeitas para um mortal comum. Caminhamos pela beira da praia, conversamos sobre diversos assuntos, coisas do dia a dia dela, coisas da minha vida, mas é claro que tive que mentir sobre a maioria das coisas relacionadas a minha vida, ela não sabia que eu estava ali por causa dela, mas se bem que pelo jeito dela falar comigo, pelo jeito que ela me olhava, devo sem dúvidas considerar que há por parte dela um interesse por mim, isso é bom, muito bom, o que eu tinha que fazer era manter o jogo de sedução.

DIA 40.

O amor é qualquer coisa surpreendentemente magnífica que não entendo, amar é ser açoitado silenciosamente, sem marcas, sem gritos, mas com uma dor na alma que palavra nenhuma pode traduzir, o amor é assim, faz o que bem lhe apraz, somos seus fantoches, dominados e não dominadores, o amor está doendo muito agora em meu peito.

Era oito horas da manhã, quando alguém bateu em minha porta, eu terminava o meu café, levei um tremendo susto, minha mente racional logo formulou a pergunta: Quem será a essa hora, nessa ilha deserta? O meu coração rapidamente se prontificou a responder: É ela, o grande amor da sua vida.

Sim era ela, abri a porta da minha casa, pois a porta do meu coração a muito já estava aberta para Safira, meu anjo ledo, meu olhar se iluminou, meu sorriso foi de orelha a orelha, o coração disparou dentro do peito, as pernas tremeram.

Ela estava vestida de magestade, magnífica como uma deusa no Olimpo, o perfume dela quase me fez flutuar, aquele corpo maravilhoso, perfeito em cada curva, um desvario aos olhos, e o seus olhos azuis, ah... Deus meu! Como são belos os olhos da minha Safira, o jeito que ela me olha, me sinto um adolescente quando se apaixona pela primeira vez. Ela adentrou na minha casa pela primeira vez, sorte minha que estava tudo perfeitamente arrumado, um dos meus grandes defeitos, ou qualidade não sei, é o perfeccionismo, tudo tem de estar no seu devido lugar, eu sempre fui assim.

Como na minha maluquice eu a muito já aguardava ela em minha casa, tratei de conseguir algumas flores, não eram Tulipas belíssimas como as dela, mas eram Tulipas, só não encontrei as rosas negras, essas são difíceis de ser encontradas, as arrumei na sala da casa, ficaram lindas.

__ Que flores lindas, onde você as conseguiu, eu sou apaixonada por Tulipas Giovanni __ Ela disse sorrindo, e o sorriso dela de tão encantador roubou - me o fôlego, por alguns minutos fiquei parado, anestesiado pela beleza daquele anjo.

__ Essa flores são mesmo muito bonitas, mas não mais que você, até minhas flores se rendem ao seu encanto, se me permite dizer.

Ela sorriu novamente, fazendo aquelas covinhas nas bochechas, linda mulher.

__ Assim você me deixa envergonhada Giovanni, nem é para tanto vai.

__ Realmente não é, minhas palavras são pobres demais, não tem condições de expressar toda sua beleza, toda sua magnificência.

Ela sorriu pela terceira vez, colocou suas delicadas mãos sobre meus ombros, senti um arrepio dentro da espinha, meu corpo todo tremeu com aquele toque, eu estava sem camisa, senti o calor de suas mãos me incendiar inteiro.

__ Quero sua companhia hoje Giovanni, para caminhar pela praia, hoje é sempre viu.

__ Mais claro __ Respondi __ Sou todo seu, hoje é sempre serei seu escravo para o que for necessário.

__ Que bom, é bom saber disso Giovanni, vamos então, o mar nos espera, o dia está lindo, e estou animada hoje.

Saímos para caminhar a beira da praia, eu não acreditava que aquilo de fato estava acontecendo comigo.

DIA 41.

Te amei pela manhã,

Antes do sol se levantar,

No momento em que mar,

Marcou delicadamente

A arei fofa da praia,

Te amei despretensiosamente.

Te amei no meu silêncio,

Sem que as aves percebessem,

Sem que oceano entendesse,

Te amei como marinheiro ao mar,

Te amei com coração na mão.

Te amei quando ainda estava distante

Nas pequenas ruas de Gênova,

Te amei sendo um fugitivo,

Um navegante apaixonado,

A esmo nas águas de Veneza.

Os teus lábios são labirintos,

Os teus lábios são perdição,

Os teus lábios são mistérios,

Que enlouquece o coração,

Te amo como a abelha a flor.

Na manhã de ontem, eu fui surpreendido com a visita de um certo anjo ledo, que traz no seu olhar a beleza da Safira, que traz no seu peito, um mistério que ainda não compreendo, de braços abertos eu a recebi, a minha humilde casa foi agraciada com a presença desse doce anjo que embora sem ter asas, me fez voar a alturas imensuráveis que nenhum mortal ainda pode chegar, hoje a noite está sem luar, mas eu dispenso o luar por hoje, eu dispenso tudo hoje, basta apenas o olhar de Safira ao céu, e o céu inteiro se ilumina.

Como eu havia dito, ontem saímos bem de manhã para caminhar, a pedido dela. Quantas vezes caminhei solitário pelas areias dessa praia, sonhando de olhos abertos que um dia a teria ao meu lado, quantas vezes meus olhos molharam a areia fria, tamanha era a minha angústia, tamanha era a minha dor, mas de repente, Como diz um poeta brasileiro: " Do riso fez-se o pranto," Mas no meu caso foi diferente, aconteceu o contrário. "Do pranto fez-se o riso," isso é para mim maravilhoso demais, o amor é maravilhoso demais e cheio de surpresas.

A praia da ilha solidão é muito extensa, em uma das pontas e apenas bancos de areia, como se fosse uma pequena duna que se formasse, na outra extremidade, fica um leito rochoso, com uma mata fechada bem atrás, um local muito bonito, mas perigoso também, por diversas vezes caminhei sobre as pedras, a ponto de quase cair delas, só para ter o prazer de sentir o quebrar das ondas sobre o meu peito, uma rajada de água de força incalculável, ficar no lugar errado e o mesmo que assinar o atestado de óbito, por muito pouco, não fiz daquelas pedras o minha sepultura.

Caminhamos a passos preguiçosos, saímos da minha casa, fomos até a pequena duna em uma das pontas, depois caminhamos a beira mar, pés na água, caminhamos até a outra extremidade, no leito rochoso, caminhamos lado a lado, como se fosse dois namorados, meu coração parecia que ia explodir dentro do peito; principalmente quando já no leito rochoso, ganhei meu primeiro beijo depois de tanto tempo, depois de tanto sonhar, senti a doçura de seus lábios molhados nos meus, senti o calor do corpo dela ao encostar no meu, fui da terra ao céu em fração de segundos, aquilo não parecia real, definitivamente não, perdoe-me as lágrimas diário, mas nesse momento falta - me as palavras, perdoe-me....

DIA 42.

Hoje quero falar do amor, vou tentar definir tal sentimento abundante em mim, estou cada vez mais apaixonado pelo anjo ledo, pelos seus olhos, os seus toques queimando em mim, machucando dentro da minha alma.

Enfim, ontem caminhamos a beira da praia, conversamos bastante, ela tocou em minhas mãos, eu senti o fogo nas delicadas mãos dela, durante uma parte do caminho ficamos de mãos dadas, eu me senti como se fosse o namorado dela. Quem sabe não seja esse o desejo do coração dela, talvez eu não esteja percebendo a verdadeira intenção dela, talvez eu deva ser um pouco mais ousado, apesar, de que, ousadia no momento errado pode afasta - lá de mim, isso eu não quero, em determinado momento ela me pediu para definir o amor.

Eu defini o amor da seguinte maneira.

O amor,

É este fogo que nos queima por dentro sem deixar vestígios, é essa ardência no peito, incontrolável sentimento que nos domina, que nos aprisiona em si mesmo; subjuga nossas ações, nossas vontades e nossos desejos.

O amor,

É essa tempestade forte, de nuvens escurecidas e de vendavais impetuosos, que mexe com nossas bases, abala com nossas estruturas, nos deixando mais emotivos, mais sensitivos.

O amor,

Não é racional, não é previsível, não avisa quando vai chegar; e quando chega entra no coração sem avisar, ele é assim, impulsivo inconsequente, destemido, não é previsível.

O amor,

Fala sem ter palavras, seu diálogo se resume em meros olhares, o amor é assim, essa coisa misteriosa que nos atormenta a vida toda.

O amor,

Nos engrandece, nos torna gigantes, nos faz voar sem termos assas, mas quem pode compreender este sentimento tão insano? Quem tem força para domar o amor? A força do amor é incomparável, não há na terra poder superior, pois o amor não é só força, é poder também.

O amor,

Se esconde de várias maneiras e de muitas formas, ele se esconde no néctar de uma flor, ou nos beijos do beija flor, a flor por sua vez se entrega a ele em um êxtase de amor. Assim também somos nós, neste jogo de sedução, ele também se esconde atrás de um sorriso, ou na simplicidade de um olhar.

O amor,

Está no mais profundo de nossos corações, ele necessita de ser despertado, ser provocado, e não há nada melhor do que seus belos olhos azuis, para despertar esse amor.

O amor,

Me deixou sem palavras, como posso então defini-lo, como posso compreende - lo, este sentimento é grandioso demais, iluminou a minha vida, me fez sonhar de olhos abertos.

Essas foram as minhas palavras para definir o amor para Safira, meu anjo ledo, ela chorou, apertou ainda mais forte minha mão, colocou a outra sobre minha face, e me deu um beijo que me fez ir da terra ao céu, agora pergunto, a você querido diário, Meu confidente silencioso. Se isso não for amor, o que mais pode ser?

DIA 43.

No horizonte o sol se esconde, lentamente ele desce ocultando a sua face nas profundezas do oceano, da janela do meu quarto contemplo tudo, toda a beleza da natureza ao entardecer, todos os tons coloridos cintilando nas nuvens e nas copas das palmeiras, até as aves param para contemplar tal formosura.

As vezes paro e reflito na minha vida, nas venturas e desventuras que compõem a minha confusa história, Lembro-me perfeitamente de todas as angústias e lutas, de todos os momentos difíceis, as lembranças ruins são mais frequentes dos que as boas, mesmo porque as boas são poucas, isso faz parte da vida.

Durante muitos anos eu pensei que soubesse alguma coisa sobre o amor, eu que tantas vezes escrevi sobre o amor, tentando defini-lo, durante muito tempo me enganei, achando que conhecia os mistérios da paixão, mas enganei - me, hoje, com meio século de vida, descobri que nada sei do amor.

Tudo começou na Itália, minha descoberta do anjo ledo, linda Safira, no auge de seus vinte anos, o primeiro encontro, os primeiros beijos, o despertar do amor naqueles doces lábios, uma única noite, foi apenas isso, e o estúpido menino com flechas nas mãos me alvejou, destilou o veneno do amor na ponta daquele olhar.

Foi apenas uma noite, e de repente ela se foi, sumiu no escuro da noite, deixou no meu peito um rombo, desespero e dor corroendo a minha alma, lágrimas nos olhos, nada mais fazia sentido, nada mais importava, eu não compreendia tudo aquilo, era muito maior do que eu, muito mais forte do que eu.

Por bom tempo vaguei a esmo, nos desertos das movimentadas ruas de Roma, de Veneza e de Gênova, eu procurava em todos os olhos o anjo ledo, nada encontrei, tive vislumbres, visões que quase me levou a loucura, foi então que deixei a Itália.

Com minhas economias comprei de um amigo esse pedaço de terra nesta ilha deserta, tentei me esconder de mim mesmo, fugindo do anjo ledo, das imagens que me pertubavam, tanto que sonhei, de olhos abertos eu sonhei, mas parecia ilusão, achei até que tudo aquilo que vivi na Itália fosse ilusão da minha cabeça.

A tranquilidade dessa ilha e o silêncio que vem com a brisa, o som harmonioso dos pássaros, por um tempo tive paz, mas bastou alguns dias e tudo retornou, as lembranças retornaram, as visões retornaram, a insônia retornou, com mais força do que antes, muito mais força.

Mas de repente, quando eu menos esperava lá estava eu, diante de uma misteriosa casa, toda enfeitada de Tulipas e rosas negras, linda casa do outro lado da praia, a princípio eu não acreditei, me questionei, a verdade no entanto se revelou, então fui surpreendido com a mais bela visão, a de um anjo ledo.

Ela surgiu na minha vida, Surgiu não como uma visão do pensamento, não como uma ilusão da memória, ela surgiu como o luar em noite escura, verdadeiramente era ela, sim era ela, em carne e osso. Meu coração se regozija, ela está próxima de mim, eu a amo e sinto que ela me ama também.

DIA 44.

Era uma vez certo guerreiro que vivia nas montanhas da china, nas mais altas montanhas, esse guerreiro era forte e valente, ninguém podia derrota - lo, seu escudo era o mais forte, a lâmina da sua espada era a mais rápida e afiada, ele defendia o seu reino com todas as forças.

Deram a esse guerreiro o nome de sol por ele ser tão implacável em suas conquistas, não havia inimigo que permanecesse de pé diante dele, nas montanhas da china esse guerreiro era temido, muitos fugiam só em ouvir falar de seu nome, soberano o sol reinava nas alturas sem ser vencido.

Certo dia, quando o sol fazia a sua jornada costumeira, com escudo e espada nas mãos, avistou no vale de seu reino algo diferente, alguém que escalava seus domínios, uma brilhante armadura reluzente, toda feita de prata, espada nas mãos, passo por passo o oponente se aproximava.

O sol achou um insulto tal coisa, quem ousaria desafia - lo, quem teria a audácia de invadir seus domínios sem a sua permissão, de espadas em punho, o sol foi ter com aquele misterioso e destemido guerreiro, era a primeira vez que o seu reino era invadido.

Quando o sol se aproximou, quando estava face a face com aquela armadura de prata, ele que era portador de uma armadura toda feita de ouro, arrancou seu capacete, cabelos negros como a noite, olhos azuis como o céu, ele pediu que o desafiante mostrasse sua face também, que revelasse quem era antes de morrer.

Quando aquele guerreiro arrancou o seu capacete, os cabelos soltos e logos se derramaramcomo uma cascata sobre a armadura, os olhos verdes, a face perfeita irradiando luz, os lábios carnudos e vermelhos, o doce aroma de perfume, não era um guerreiro, era muito mais, aquela bela donzela o surpreendeu.

Conhecida como lua, aquela bela face feminina vivia do outro lado da china, nas alturas de outras montanhas, ela também era guerreira, era temida por seus inimigos, e não havia quem a vencesse em toda a China, mas ela, assim como o sol, não conhecia o amor, nunca tinham se apaixonado.

Os mais poderosos magos daqueles domínios, ao saberem que o sol e a lua estavam apaixonados, que os dois haviam se Unido, e que juntos seriam invencíveis, temeram muito, e reunidos tomaram uma importante decisão, algo que mudaria o destino dos dois corações apaixonados, e assim os magos fizeram.

O guerreiro chamado sol foi confinado em uma parte do céu, enquanto a guerreira lua foi confinada em outra parte, de forma que durante toda a vida, eles procurariam um pelo outro sem nunca se encontrarem, o guerreiro sol governou o dia, e a guerreira lua governou a noite, desde então foi assim.

Não sei por qual motivo me lembrei dessa história, um monge chinês que morava nas montanhas de Gênova me contou essa história, e olhando para mim, me sinto assim em relação a Safira, o que o monge não sabe, é que o sol e a lua pode se encontrar, pelo menos uma vez em um eclipse de amor.

DIA 45.

Hoje a noite se fez mais bela,

O luar desponta no horizonte,

As estrelas seguem o seu curso,

Desfilam no céu toda sua beleza,

Cintilando elas dançam no negro véu.

O amor é o maior que tudo,

É maior que meus medos,

É maior que minhas incertezas,

O amor é senhor soberano,

Ninguém pode vencer esse amor.

Ela veio de repente,

Como uma estrela apareceu,

Brilhou no céu do meu coração,

Naquela noite e naquele bar,

Depois ela se foi, assim como as estrelas.

Lágrimas vieram aos meus olhos,

Angústia tomou meu coração,

Loucura dominou minha mente,

Então eu deixei meu país,

Em terra estranha me refugiei.

Mas foi aqui no Brasil,

Que essa estrela encontrei,

Em um dia inesperado,

O meu anjo ledo voltou,

O amor me surpreendeu novamente.

Assim como a amo,

Ela me ama também,

Hoje desfruto de seus beijos,

Desfruto de noites inteiras de amor,

Que seja eterno enquanto dure.

Que esta noite fique marcada para todo o sempre, que todas as estrelas no céu sejam testemunhas, que o luar seja testemunha, que está noite seja eterna, eu que tanto amei, Perdidamente amei, desmesuradamente eu amei, de forma inconsequente eu amei, anjo ledo dos meus sonhos.

Que fique registrado neste diário, na noite deste domingo, este poeta, Giovanni Marconi, teve sua primeira noite de amor, com a mais bela mulher que olhos humanos podem contemplar, amei como se fosse a primeira vez, me embreaguei do corpo dela, o anjo ledo, Safira del Fiori, o que acontecerá amanhã não sei, a única coisa que sei, que neste momento em que escrevo essa porção no meu diário, o meu anjo ledo dorme, sim ela dorme em minha cama, estou a contemplar toda beleza de sua nudez.

Se o mundo terminar agora, se hoje for meu último dia, partirei feliz, pois amei e fui amado, desejei e fui desejado.

O amor é assim, encantador.

DIA 46.

Eu te amo,

Desmesuradamente eu te amo,

Eu te amo como a abelha a flor,

Com todas as forças do coração,

Eu te amo,

Desesperadamente eu te amo,

Eu te amo como o poeta a poesia,

Como um marinheiro ao mar,

Eu te amo,

Desmedidamente eu te amo,

Eu te amo como as aves ama o céu,

Como a primavera ama as flores,

Eu te amo,

Perdidamente eu te amo,

Eu te amo como ninguém amou,

Com o peito em brasas ardentes,

Eu te amo,

Infinitamente eu te amo,

Eu te amo muito além do horizonte,

Quero apenas te dizer Anjo ledo,

Eu te amo.

Hoje eu me perdi em perigosas curvas, me perdi na extensão daqueles mágicos e encantados seios, meus lábios se perderam em cada centímetro deles.

Hoje as minhas mãos também se perderam, se perderam em cada centímetro daquele divino corpo, a pele macia e perfumada, arrepiando - se aos meus toques, entre gemidos e suspiros, o tempo se perdeu, e as horas passaram sem que a percebêssemos.

Hoje eu não sei mais quem sou, sei apenas que o amor tem uma face bela, a face de um anjo ledo, Sei apenas que minha cama e meus lençóis estão tomados de uma doce e enebriante fragrância, Safira tem um jeito diferente de me levar ao céu e me me fazer voar sem ter asas.

Eu te amo,

E quero ser para você eterna alegria,

Quero te fazer sonhar todos os dias,

E durante todas as manhãs dizer,

Eu te amo,

Eu quero te dar todo o meu amor,

Me entregar para você todos os dias,

Sou tua fênix de fogo a te cantar,

Eu te amo,

Somos muito mais que amigos,

Somos amantes da solidão,

Sou a canção a tua louca paixão,

Eu te amo.

NOTA.

Estas foram as páginas escritas no diário de Giovanni Marconi, é de meu conhecimento que o poeta talvez tenha outro diário, que ficou perdido na ilha, porém o mesmo ainda não foi encontrado, mas é questão de tempo até saber da sua real existência ou não.

A respeito da vida desse poeta, o que sei é o que está escrito neste diário. Ele nasceu na Itália em 1941, viveu em várias cidades, sempre morou sozinho.., veio para o Brasil especificamente para essa ilha em uma data que me é desconhecida, ele não colocava datas em seu diário.

Quem me enviou esse manuscrito deixou também uma carta, nela havia algo que muito me emocionou, a carta foi o motivo que me fez editar esse manuscritos e transforma-lo em livro, bom, para que vocês entendam o que estou a dizer, tenho que revelar algumas coisas sobre minha vida.

Meu nome é Ângelo Zapata, sou filho adotivo de uma família de italianos, alguém disse a minha mãe que eu fui deixado em um orfanato na cidade de Santa Catarina ainda muito criança, por uma mulher muito bonita, de olhos azuis, essa mulher nunca mais foi vista, mas pelo que disseram a minha mãe adotiva, essa mulher talvez fosse a Safira, sim senhores, o anjo ledo de quem o poeta Giovanni Marconi tanto mencionou, e essa carta na verdade era para ele, nela Safira conta da sua gravidez, depois daquelas noites de amor ela engravidou, assustada acabou fugindo, o poeta, possivelmente meu pai biológico, pelo que se sabe, faleceu pouco tempo depois.

Desconfio que quem me enviou essa carta e esse diário seja o senhor que ficava no cais da ilha, não me recordo do nome dele nesse momento,mas Giovanni o menciona no diário, Contei a história a meus pais adotivos, embora eles achem a história toda um pouco absurda, eles permitiram que eu viaje até essa tal ilha, e descubra por mim mesmo, se tudo é de fato verdade, ou se tudo não passe de uma mentira, meus pais adotivos acreditam que seja tudo mentira, uma ilusão da mente de Giovanni, considerando que ele tinha esquizofrenia.

Bom, a verdade só vou saber quando lá estiver, na tal ilha da solidão.

Caso seja verdade e caso esse outro diário exista realmente, prometo fazer outro livro, enquanto isso aguardem.

Tiago Pena
Enviado por Tiago Pena em 06/12/2015
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