Romance, história sem cores, capitulo três.

HISTÓRIOA SEM CORES.

CAPÍTULO 3.

MEDO DE ESCURO.

São Paulo é uma cidade de muito movimento, trânsito intenso, correria de transeuntes apressados, assaltos, tudo acontecendo ao mesmo tempo; mineiro ainda não estava acostumado com toda aquela agitação, fazia mais de seis meses que ele morava em São Paulo, um de seus tios arrumou-lhe emprego na fabrica onde trabalhava, a fabrica fazia peças de carros e o setor onde mineiro trabalhava era na expedição. O salário razoável permitiu-lhe comprar um pequeno apartamento, era simples, mas atendia muito bem as suas necessidades, ele finalmente se livraria de pagar o aluguel e pagaria algo que era seu.

Mineiro vivia dias de intensa correria, o casamento, dificuldades de adaptação, mineiro saiu do apartamento para ir ate a lanchonete que ficava bem de frente, ele escolheu descer pelas escadas, mineiro tinha pavor de lugares fechados e o elevador causava-lhe pânico, ninguém compreendia o motivo daquele medo todo, ele nunca revelou nada sobre a origem desse medo, mas havia algo em seu passado que foi a causa de tudo, todas as vezes que ele se deparava com uma situação de ambiente fechado, era inevitável, o suor correndo frio pela face denunciava seu desconforto; e sua mente logo trazia a memória os acontecimentos do passado.

Quando mineiro desceu o último lance de escadas, que dava na lateral do elevador; ele viu um grupo de garotos adolescentes, que esperavam pelo elevador, entre eles havia um de mais ou menos dez anos, o menino era parecido com ele quando tinha aquela idade, isso fez ele voltar ao baú das memórias pela terceira vez naquele dia.

Lembranças.

Minas Gerais, 1992, mineiro tinha apenas dez anos de idade, em sua casa uma visita inesperada, eram os tios de Belo Horizonte, com eles veio os seus três primos, adolescentes mimados e acostumados às regalias que os pais lhe proporcionavam, crianças mal educadas, crianças baderneiras. Era a primeira vez que eles visitavam o tio do interior; como minero era proibido de brincar com outras crianças, ele era totalmente desprovido de malicia, de maldade, coisas que a maioria das outras crianças possuía, exceto ele. Sua inocência e pureza de coração fazia com que ele acreditasse que todas as pessoas eram boas; e que o mundo era feito de pessoas maravilhosas, mas com o tempo ele descobriria que nem tudo eram flores.

Na casa onde ele morava havia um enorme quintal, onde seu pai tinha plantado todo tipo de árvores frutíferas, de forma que durante todo o ano era possível desfrutar de deliciosas frutas, as árvores frondosas proporcionavam sombras agradáveis, o quintal era todo limpo e varrido, seu Geraldo fazia questão de limpa-lo todos os dias.

Na parte dos fundos, onde o terreno era bem inclinado, seu Geraldo construiu um porão, escavando no barranco e fazendo paredes ao redor, cobrindo com uma laje reforçada que depois foi coberta de terra, na frente ele colocou um portão negro de ferro, com um grosso cadeado parecia a entrada de uma caverna; ali seu Geraldo guardava todas as suas ferramentas. Certo dia quando os primos de mineiro brincavam por ali perto, perceberam que o cadeado foi deixado aberto, eles não pensaram duas vezes em aprontar com o inocente primo. Quando mineiro chegou, não percebeu a aura de maldade que rodeava os primos.

__ Olha só quem chegou, é nosso mascote pessoal__ disse o primo mais velho, Paulo.

__Porque mascote__ perguntou a inocente criança.

__Então elegemos você como o mascote de nosso grupo.

__ Tá bom__ disse mineiro sem ao menos desconfiar que eles aprontariam alguma coisa.

__Venha com a gente, vamos testar você, para ver se é mesmo homem ou mariquinha.

Os primos o levaram até o portão negro do porão, era o começo de tarde e o sol já declinava no horizonte. Paulo dava as ordens e era o mentor do plano, os demais apenas acatavam e concordavam, sem nada contestarem.

O Olhar de mineiro estava fixo nos primos, esperava pelo teste, ele se sentiu importante pela primeira vez.

__ Você quer mesmo fazer isso, e provar que é homem?__ perguntou Paulo.

__ Mas é claro que sim, é o que mais quero.

__ Para você provar que é homem, vai ter que entrar ai dentro e ficar por alguns minutos no escuro, você pode fazer isso?

Mineiro ficou em silencio, pensando se valeria a pena fazer aquilo, no fundo ele morria de medo de escuro, mas não queria que os primos soubessem de seu medo.

__ O que foi, vai amarelar__ disse Paulo em tom de provocação.

__Não mesmo, não sou medroso viu, fique você sabendo que vou entrar ai agora mesmo.

Paulo retirou o cadeado, lá dentro estava um breu só, não era possível ver nada, o coração do pequeno mineiro estava aterrorizado, por ele não entraria naquele lugar escuro, mas ele queria provar que era homem de verdade; ele entrou no porão escuro, de repente seus olhos contemplaram a escuridão diante de si, seu medo era tanto que era possível ouvir as batidas de seu coração. Não suportando de medo, gritou com todas as forças para que os primos abrissem o portão de ferro, mas ele estava trancado e não tinha ninguém do lado de fora.

Mineiro ficou ali até o anoitecer, seu pai ao ouvir seus gritos e seu choro o socorreu, aquele episodio nunca mais sairia da sua mente.

Mineiro estava incomodado com aqueles seguidos surtos das lembranças de seu passado, mil pensamentos veio a sua mente, uma sensação estranha lhe corroía por dentro; como se algo de ruim estivesse para acontecer, ele terminou de descer as escadas, no momento em que ele se dirigia para a lanchonete o seu telefone tocou, era sua noiva, Berenice, minério ficou parado na calçada conversando distraidamente com sua noiva, acertando os detalhes do casamento, do outro lado era possível ver a lanchonete, mineiro estava feliz.

Tiago Pena
Enviado por Tiago Pena em 15/10/2015
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