Chico da Silva
FRANCISCO DOMINGOS DA SILVA
(75 anos)
Pintor
* Cruzeiro do Sul - Alto Tejo, AC (1910)
+ Fortaleza, CE (1985)
Chico da Silva ou Francisco Domingos da Silva foi um pintor brasileiro de estilo naïf. Arte naïf ou arte primitiva moderna é, em termos gerais, a arte que é produzida por artistas sem preparação acadêmica na arte que executam, o que não implica que a qualidade das suas obras seja inferior.
A vida e a obra de Chico da Silva são das mais intrigantes da História da Arte brasileira. Também demonstra a falta de apoio por parte do governo a um artista talentoso, ainda que simples. Descendente de uma cearense e um índio da Amazônia peruana, Chico da Silva viveu até os dez anos de idade na antiga comunidade de Alto Tejo. Em 1934, a família embarcou para o Ceará, indo morar em Fortaleza, e lá viveu no Pirambu, um dos mais pobres bairros da cidade. Perdeu o pai logo em seguida.
Chico da Silva teve diversas profissões não relacionadas à arte, consertava sapatos e guarda-chuvas, fazia fogareiros de lata para vender, entre outras para ajudar no seu sustento e de sua família.
Em suas andanças pelo bairro, desenhava nos muros brancos das casas, usando carvão ou tijolo e os coloria com folhas. Semi-analfabeto, autodidata, ele pintava sem regras mas com incrível habilidade. Foram esses painéis que chamaram a atenção do artista e crítico suíço Jean-Pierre Chabloz que passou a procurá-lo pela cidade. Pelos moradores da Praia Formosa, Chico da Silva era chamado de"indiozinho débil mental". Jean-Pierre Chabloz perguntou para alguns habitantes quem era o autor daqueles desenhos, mas a constante resposta que ouvia era: "É um cara meio louco. Um caboclo que veio não se sabe de onde; se diverte rabiscando os muros e desaparece, sem deixar endereço!"
Jean-Pierre Chabloz não encontrou Chico da Silva facilmente pois este ao saber que um estrangeiro alto e forte estava a sua procura, fugiu achando que o suíço fosse um dos donos das casas de muros recém ornados por ele. Após o encontro, Jean-Pierre Chabloz ficou admirado com a simplicidade do artista e passou a incentivá-lo.
Jean-Pierre Chabloz passou a ensiná-lo a pintar com guache e lhe fornecer todo material para suas pinturas além de comprar toda sua produção. Seus quadros eram levados à Europa, antes mesmo de serem conhecidos no Brasil. Por seu intermédio, Chico da Silva expôs, pela primeira vez, no III Salão Cearense de Pinturas e no Salão de Abril de 1943, em Fortaleza. Em 1945, com outros artistas cearenses, expõe na Galeria Askanasy e, durante a década de 50, suas obras foram vistas em várias galerias da Europa, resultado de um artigo a seu respeito no Cahiers d’Art, conceituada revista francesa, que o considerou um pintor genuinamente primitivo.
Chico da Silva foi estimulado por Jean-Pierre Chabloz a desenhar e pintar cada vez mais. Essa amizade e confiança mútua foi o suficiente para tornar as obras de Chico da Silva, peças de qualidade para o mundo das artes.
A fama e o dinheiro fartos fazem Chico da Silva se envolver com álcool e mulheres. Tudo que produzia era supervalorizado. Incapaz de produzir tanto o quanto precisava, Chico da Silva recorreu a meninos e meninas do bairro que pintavam seus quadros e ele apenas os assinava. Aproximadamente 90% de seus quadros após 1972 eram falsos. Os aproveitadores o cercavam e seus quadros eram vendidos no mercado, nas calçadas da beira-mar, nas feiras até nas portas dos hotéis, e por valores insignificantes.
Em 1966, em meio a denúncias de falsificação, Chico da Silva foi convidado a expor na XXXIII Bienal de Veneza, onde recebeu menção honrosa. Com um artigo no Jornal do Brasil, intitulado "Chico da Silva, a ingenuidade perdida", Jean-Pierre Chabloz, decepcionado com o rumo que seu pupilo e sua obra tomaram, rompe com ele em 1969.
O processo de decadência de Chico da Silva era evidente. Em 1976, foi internado com cirrose hepática e tuberculose, permanecendo no hospital durante um ano. Embora recuperado, Chico da Silva, jamais recuperou sua arte. Faleceu em 1985, pobre e esquecido.
O maior artista primitivo do Brasil, que imprimia nas suas pinturas toda a mitologia da região amazônica de um modo quase surrealista, e que está representado nas maiores coleções do mundo - como a da Rainha da Inglaterra - nunca teve suporte para estruturar sua carreira, apenas incentivos isolados, que o jogou em um meio desconhecido que o deslumbrou e, dentro do qual, sem orientação, acabou por perder-se.
Estilo
Seu estilo é incomparável. Seus desenhos surgiam de forma espontânea, como involuntários impulsos de sua imaginação. Chico da Silva não teve nenhuma influência de outros estilos nem muito menos de escolas de pintura. Seus traços, inicialmente feitos a carvão, impressionavam pela riqueza de detalhes e abstração. Eram dragões, peixes voadores, sereias, figuras ameaçadoras e de grande densidade e formas. Pintor de lendas, folclore nacional, cotidiano e seres fantásticos.
Na Europa ele é conhecido como o índio de técnica apuradíssima e traços autodidatas de origem inerente à visão tropical da vida na floresta.
Para alguns especialistas seus trabalhos são individuais mas comunitários, pois muitos dos seus quadros foram apenas assinados por ele, pois na verdade estes teriam sido pintados por seus filhos e parentes para aumentar a produção, já que a procura era cada vez maior e cobiçada devido à valorização dos trabalhos no mundo das artes plásticas. Uma pesquisa estimou que 90%, dos quadros posteriores a 1972, eram falsos. Tal acontecimento cercou o artista de aproveitadores que vendiam essas falsificações em qualquer lugar por pequenos preços.
Exposições
Chico da Silva participou de várias exposições em países como França, Suíça, Itália e Rússia. Algumas de suas pinturas foram expostas em Manaus, a cidade mais próxima de sua terra natal onde os seus trabalhos chegaram, mas nunca seus quadros foram apresentados em Rio Branco, AC. Em 1945, expôs na Galeria Askanasy, no Rio de Janeiro.