Menino eclético...

Em tempos modernos, com as mulheres rompendo todas as barreiras possíveis. Trabalham fora, tomam decisões importantes em todos os campos da vida. Governam cidades, estados, e o País. Verdadeiras donas de seus narizes. Eu sou de uma safra intermediária, assim me considero. Nasci em 1970, época em que as mulheres trabalhavam em casa, ao menos no interior do Paraná onde eu morava. Eram prendadas, pelas suas mães e avós. Faziam roupas para toda a família, com bordados a mão, ponto, por ponto. Eram verdadeiras confeiteiras, e quituteiras. Bolachas, pães, cucas os pães doces... Abasteciam os potes, alguns de vidros com bolachas coloridas em confetes. Quantas profissões teriam? Nem ao menos uma, eram consideradas moças prendadas pelos seus pais. Época em que tudo que se precisava, fazia-se em casa por homens ou mulheres. Os meninos seguiam o dia, a dia de seu pai. Eu como não tinha um? Seguia as ordens da mãe. Naquele tempo, tocavam-se animais, construíam-se abrigos e até domar os mais xucros. Uma psicologia aplicada, sem se ter a menor ideia. Subir em cavalos para doma-los, ser lançado ao chão, levantar-se novamente, é semelhante às perdas e ganhos nos negócios. Ou as notas na faculdade, primeiro emprego, demissão e assim se vai... Em meu tempo havia outras modalidades.Trocar lâmpadas incandescentes, que tinham vida curta, comparando com as atuais. Fazia também os serviços das irmãs, caso contrário sobrava cintadas ou varadas para mim também. Lavar roupas no rio, com bacias na cabeça. Muitas profissões! E quanto à geração atual? Tudo informatizado e prático. Maquinas que lavam, secam e passam as roupas. Na padaria da esquina tem tudo que preciso, e complicado fazer as receitas da vovó. Roupa compra aos domingos, enquanto espero a próxima sessão de cinema. Refeições, congelados lasanha, nhoque ou delivres. Serviço geral em casa é só chamar essas empresas de faz tudo, doutor em hidráulica, elétrico e jardinagens. Se, fazem tudo não sei. Sei que cobram por tudo que não fazem. Por isso sou eclético, nasci em uma fase intermediária, ou seja, transição de gerações. Em minha infância! Lavei, escovei, passei, e concertei coisas quebradas. Para arrumar uns trocados, vendia picolés, engraxava sapatos, que por sinal algumas botas eram maiores que eu. Lembro-me que em certa ocasião, pegamos algumas melancias na beira da estrada, hoje BR 277. E fomos vender na zona. Crianças inocentes, eu, e meu melhor amiguinho, com o dinheiro fomos tomar sorvete e lógico. Seguindo em frente, promotor de vendas, repositor em sacolão, garçom, balconista, vendedor de produtos do Paraguai, e Argentina. E a vida segue como diz os poetas. Mecânico, retificador nessa fiquei uns dez anos. Certo dia alguém disse, vender bebidas na praia dá muito dinheiro... Olha água, referi e cerveja gelada. Era meu refrão preferido, isso quando alguém não gritava olha o fiscal de praia.Trabalhava no inicio ilegal, burocracia de uma prefeitura cheia de corrupção. Passei de eclético, para mega eclético. Cansei de correr, e ficar dias e noites em uma porta de prefeitura, para conseguir a licença de uma temporada. Fui estudar, voltei para a escola. Outro dilema, qual profissão escolheria? Conheci um amigo, ele era terapeuta holístico. Não tinha a menor ideia; O que era ser terapeuta holístico? Essa proeza ainda não havia sido anunciada. Bem... Quem sabe? Pedro, você gostaria de fazer um curso? Gostaria, mas não tenho como pagar. Você me falou que foi, ou é mecânico, não é? Sim, á muito tempo. Bom se consertar meu carro, lhe darei um curso de terapia holística. Nessas alturas do campeonato, ou melhor, da vida. Não imaginava ficar com as mãos sujas de graxa. Pensei um pouco... Aceito! Seu carro estava com um barulho estranho, eram válvulas, nem vou entrar em detalhes, se não vai empolar minha derme, sabe como é urticaria. Meu amigo sentado no banco do motorista, só esperando para girar a chave de ignição. Eu, embaixo do capô. Tudo resolvido! Pode girar a chave e ouvir o som dos deuses. Vrum, vrum, vrum. Empolgado começou a acelerar. Não, deixa que acelero, gritei embaixo do capô, todo suado e engraxado. Pensei... Ao menos tinha um professor! De quê, terapia holística? O que era ser terapeuta holístico? Sabia que não trabalhava com graxa, assim não teria urticárias, e eczemas nas pontas dos dedos. Está pronto! Um reloginho de pulso, nem se ouvia o som do motor. Lá vem meu amigo. Você é um mandraque! Pelo ao menos eu, sabia oque era um mandraque. Disseram-me que para consertar iam levar pelo menos uns dois dias, se trabalhassem rápido. E citou uma dezena de peças, e mãos de obra... Como o fez em uma tarde, e perfeito? Novamente exclamou! Você é um mandraque; E deu uma gargalhada. É experiência de trabalho! Respondi. Quer entrar e tomar um café conosco, e lavar as mãos. Que palavrinha mágica, lavar as mãos é tudo o que mais queria naquele momento, já estava começando a reação alérgica em minhas mãos. Lavei as mãos, que alivio... Domingo que vem vou dar um curso, e como combinamos vou inicia-lo em terapias holísticas. Preciso trazer algo? Perguntei: Só a vontade de aprender, caderno e caneta. Apostila fica inclusa no serviço. Domingo chegou, com muitas expectativas. Tudo ocorreu perfeitamente, e no final do dia tinha uma única certeza. Vou ser terapeuta holístico, pelo resto da vida... Meu amigo sorriu com o anto da boca, acho que não acreditou muito. Hoje, quase quinze anos após, estou formando os melhores terapeutas. O menino MEGA eclético continua. Acaso não estariam lendo esse livro de contos, crônicas e poesias...

Pitter
Enviado por Pitter em 02/04/2014
Reeditado em 08/05/2014
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