BENEDITO MATIAS

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Devemos encontrar tempo para parar e agradecer as pessoas que fazem diferença em nossas vidas.

John Francisco Kenned

A nossa juventude não conheceu Benedito Matias, nascido aos, 12 de outubro de 1953, natural de Santa Rita, Estado da Paraíba, filho de João Matias (conhecido por Tanana, o sapateiro) e da senhora Severina Feliciano Matias, residentes na Vila Operária Tibiri. O nosso Bené sempre foi um jovem estudioso e idealista, sempre ficava contra os injustiçados. Não aceitava ser descriminado por ser negro e pobre, tinha ótimas amizades e sempre estudou em escola pública municipal e estadual, inclusive fez a universidade pública a federal. Estudou com sacrifício, graduou-se em Ciências Contábeis, um profissional de mão cheia. Exerceu o magistério lecionando no Curso Técnico em Contabilidade do COFRAG – Colégio Francisco Aguiar no período de 02 de maio de 1983 a 14 de janeiro de 1985, onde teve muitos dos atuais profissionais da contabilidade de Santa Rita que se formaram no COFRAG, foram seus alunos, dentre os quais podemos destacar, o ex-vereador e ex-vice prefeito de Santa Rita, Gilvandro Inácio dos Anjos, dentre outros igualmente profissionais importantes e cidadãos realizados de nossa sociedade. E no dia 14 de janeiro de 1985, pediu demissão do emprego no COFRAG, entregou todas as escritas de seus clientes de Santa Rita, Bayeux, João Pessoas e outras cidades que prestava serviços na condição de “guarda livros” e viajou para Boa Vista, RR, visando melhorar de vida social e profissionalmente, deixou seus pais e irmãos em nossa cidade e viajou sozinho, era solteiro, em lá chegando, escreveu para seu ex-patrão dizendo “Francisco: Uma lembrança do sempre amigo. Benedito Matias” e postou a carta nos Correios de Boa Vista/RR em 15 de maio de 1985. O pensamento do grande Cícero onde “a gratidão não é apenas a maior das virtudes, mas a mãe de todas as outras”, pode ser muito bem aplicado ao idealista e comportamento do Bené de Santa Rita. Era um bravo, seus pais ficaram desempregados com o fechamento da Fábrica Tibiri, porém, continuaram morando em Tibiri à Rua Carlos Gomes, nº 3, não se prostituiu ninguém de sua prole, todos são pessoas de bons costumes e tem profissão certa. “Tanana” como era chamado carinhosamente por seus amigos e fregueses que ele conserta e dava brilho nos seus sapatos no centro da Praça Getúlio Vargas, inclusive o autor deste relato. Foi a primeira e a única correspondência que enviou para o diretor do COFRAG.

Infelizmente, misteriosamente o nosso “BENÉ” foi encontrado morto em Boa Vista e não realizou seus sonhos como tinha sonhado. Seus pais na época me procuraram e andei procurando alguns benefícios de ordem previdenciária, a exemplo da pensão do INSS para os mesmos, tendo em vista que ele não tinha constituído prole antes de morrer. Tiveram que esperar a burocracia do governo, porém, foram vitoriosos e receberam o beneficio previdenciário do filho querido que somente na eternidade o encontro do consolo paternal e familiar será um dia possível. Um dia, recebi no meu Escritório de Advocacia que sempre funcionou nas dependências do COFRAG, o nosso amigo Tanana e sua esposa, com o dinheiro que tinha recebido como primeiro pagamento do beneficio por mim requerido tendo em vista à morte prematura e violenta do seu Bené querido. Vieram perguntar quanto me devia e eu prontamente respondi, leve o dinheiro para casa, gaste com o que os senhores estão precisando. Eles ficaram muito agradecidos e disseram que iam pedir a Deus por minha vida e pela vida de minha família enquanto fossem vivos.

Fica aqui registrado o meu sentimento de que convivi com uma pessoa idealista e que tinha ideologia própria, infelizmente o destino lhe traiu, porém, trata-se de um grande exemplo para a juventude de nossa terra, era um rapaz que veio de família pobre e que venceu na vida e foi Bacharel em Ciências Contábeis pela UFPB, quando ainda não existência no Brasil, o Prouni e bolsas para descendentes de negros. De modo que a pobreza não é um câncer que se nasce com ele e se morre com ele, o exemplo de Benedito Matias deve ser copiado pela juventude pobre, humilde e honesta de Santa Rita e do mundo. Honestidade não tem preço nem cor.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 14/07/2013
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