ISABEL IRACEMA FEIJÓ DA SILVEIRA

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR

Pedi café a Iracema, mas a confreira enganou-se... café dado por poetisa mesmo sem açúcar é doce. (Euriclides Formiga).

É pura verdade que Santa Rita e nossa gente é por demais surpreendente em todos os sentidos da vida e da cultura humana, claro, tudo é relativo, não precisa de exagero. É um fato histórico que o censo comum não sabe que a primeira mulher paraibana a requerer o título eleitoral ainda quando as mulheres eram legalmente submissas aos seus esposos e não tinham o direito de votar e muito menos de serem votadas, partiu justamente de uma mulher oriunda de Santa Rita, ex-vi:

[...]

Não se tem notícia de quem tenha sido o primeiro eleitor do sexo masculino do estado, antes do surgimento da Justiça Eleitoral, em 1932, mas há registro da primeira eleitora. Trata-se da professora Isabel Iracema Feijó da Silveira, escritora, poetisa e uma das fundadoras do Comitê Feminino da Aliança Liberal na Paraíba, e da Associação Parahybana para o Progresso Feminino. A referida eleitora era oriunda do Município de Santa Rita, cujo Juiz de Direito da Comarca, à época, Celso Novaes, deferiu o seu requerimento de alistamento eleitoral”(TRE/PB, 28/05/2013¹). Grifamos.

Assim sendo, ficou conhecida como Iracema Feijó, nasceu na Paraíba, atual João Pessoa, em 25 de dezembro de 1893, filha de Emidio de Oliveira Feijó e Maria Carolina de Lima Feijó, fez sua instrução primária pública tendo como professora Maria Amélia Cavalcante de Avelar, enquanto a instrução secundária foi realizada na Escola Normal do Estado da Paraíba e foi diplomada professora no dia 26 de março de 1908.

Em fevereiro de 1930 Santa Rita recebeu a visita da Aliança Liberal e o discurso de saudação foi por ela proferido. (Pequeno Dicionário dos Escritores/PB, 2009, p. 136).

Seus escritos poéticos e ou não foram publicados pelos jornais paraibanos: A União, A Imprensa (página feminina) e nas revistas: Era Nova, Manaíra e Almanaque da capital da Paraíba, além do Rio de Janeiro e dos estados vizinhos, dentre os quais: Alagoas, onde suas poesias eram publicadas. É certo que Iracema Feijó foi à primeira mulher a tirar o titulo eleitoral em 1929 e votar no Estado da Paraíba, alistada na Comarca de Santa Rita em 1930.

Em 1º de maio de 1937, Iracema Feijó publica a poesia “Flores, estrelas e mulheres” (Revista HISTEDBR, 2013, p. 202).

A professora e poetisa Iracema Feijó é a primeira mulher de Santa Rita a se destacar no cenário das letras ao escrever e publicar poesias, marco importante para nossa história lá pelas décadas de 20, 30 e 40. Valendo salientar de que tendo em vista problemas de ordem meramente ideológica ela teve que procurar um centro intelectual mais evoluído do que Santa Rita e João Pessoa, levando-se em consideração a turbulência ideológica em relação aqueles tempos vividos em nossa Pátria e de modo particular na Terra que nos é comum.

Deixou tudo para trás em Santa Rita e na Paraíba, mudou-se para Maceió, Estado de Alagoas, fixou residência à Rua Silvério Jorge, nº 126, Bairro de Jaraguá, cuja casa era freqüentada pelos intelectuais da Academia Maceioense de Letras, valendo destacar os poetas e escritores: Jucá Santos e Manoel Cícero do Nascimento, segundo Rosa e Silva e Acioli Bomfim, página 153 (2007).

E a mulher oriunda de Santa Rita na Paraíba brilhou nas terras alagoanas, foi Presidente do Centro Cultural Emilio de Maya, em Maceió, entidade primitiva que foi sucedida pela Academia Maceioense de Letras, inclusive com ela sendo sócia fundadora e cujo nome é atualmente o patrono da cadeira 20 naquela casa da elite intelectual de Alagoas. Mulher forte e brava, sim senhor e sim senhora! Essa Isabel Iracema Feijó da Silveira, a primeira mulher eleitora da Paraíba, sim, oriunda de Santa Rita, sempre manteve contatos com o Jornal “Novo Mundo” de Mato Grosso, onde publicou alguns de seus poemas, sempre usando a linha do mais radical lirismo de cunho amoroso, retratando sua própria trajetória aqui na terra, fazendo-se criar e publicar os seguintes poemas: “Juras quebradas”, “Prece de amor”, “Em noites calmas do estio”, onde o espírito poético dela expressava a dor e angustia pela ausência de seu eterno amor. Sabemos que nossa Iracema mantinha correspondência com o editor Raimundo Maranhão Ayres, do Jornal Cultural de Guiratinga. E a intelectualidade alagoana através de suas bases organizacionais, a indicaram em 1950 para fazer parte de instituições estrangeiras, onde citamos dentre as quais, a “Asociacion Biosofica Universale” e a “Progredire”, ambas sediadas na Itália.

De modo que nossa Isabel Iracema Feijó da Silveira, não foi apenas uma professora primária oriunda de Santa Rita para o mundo, tudo porque o mundo não tem dono assim como o pensamento da criatividade humana, o saber sopra onde quer soprar. Iracema Feijó da Silveira, foi uma educadora de visão abrangente para o seu tempo. Exerceu o magistério em Santa Rita durante muito tempo, inclusive durante em 1937, em pleno surgimento do Estado Novo, da chamada Ditadura Vargas, cujo prefeito era o Dr. Flávio Maroja Filho, o inspetor administrativo (equivale ao cargo de secretário atualmente) era o Dr. Apolônio Carneiro da Cunha Nóbrega e o saudoso professor Luiz de Azevedo Soares, inspetor auxiliar do sistema municipal de educação em Santa Rita. Aqui entre nós no farfalhar do arvoredo do ouro verde e branco da várzea do rio Paraíba, ela foi contemporânea dos professores igualmente ilustres:

Ana Moura Henrique, Celina Gomes da Silveira, Altina Eudocia de Vasconcelos, Maria de Lourdes Araújo, Maria do Carmo Gonçalves, Lauro Gonçalves, Julieta Cardoso de Albuquerque, Clara Cordeiro, Maria Amélia Camelo, Emilia da Silva Costa, Maria de Lourdes Teixeira, Elisa de Alcântara Correia, Francisca Amanda Nóbrega, Severina Cardoso, Anália Ramos, Luiza Vieira Campos, Isaura Fernandes das Neves, Eunice Serrão, Maria das Neves Pires, Severo Rodrigues da Silva, Armindo Santos, Emilia Serrão de Oliveira, Ana Carolina, Assis Pereira da Silva e Eunice Cabral (ANUÁRIO INFORMATIVO DO MUNICIPIO DE SANTA RITA, 1937). Grifamos.

ANUÁRIO INFORMATIVO DO MUNICIPIO DE SANTA RITA, 1937.

E justamente por causa do Estado Novo que vivia a procura das pessoas com ideologia diferente da dele que fez com que Isabel Iracema Feijó da Silveira, mudar-se para Maceió, numa tentativa clara de encontrar o amor que era perseguido pelo sistema político implantado em 1937, pelo Presidente Getúlio Vargas contra os comunistas.

No tocante a versão histórica da fundação histórica de renomados historiadores paraibanos de que:

O nome da poetisa Iracema Feijão também aparece ao lado de Jaime Lacet e Davi Falcão, opositores da tese histórica da fundação do povoado de Santa Rita em 1771 como consequência natural da construção do primeiro engenho de açúcar, o Tibiri e do forte de São Sebastião em seu entorno a partir de 1586 para se defender dos indígenas e invasores, um ano após a fundação da Paraíba em 5 de agosto de 1585 (AGUIAR, 1985, p. 34).

Dentre as poesias de autoria de Iracema Feijó se encontra “Quando eu lhe disse adeus”, citada por Pinto (1953, p.155):

QUANDO EU LHE DISSE ADEUS

Quando eu lhe disse adeus todo o meu ser tremia.

Os meus olhos cheios de agonia

ergueram-se lentamente para os seus.

Uma dor profunda avassalou-me o peito.

Sombria palidez cobriu-me o rosto

quando eu lhe disse adeus!

Era à tardinha, à hora do sol posto

o momento da nossa despedida.

Dos lábios meus

fugiu-me um ai tão triste e tão sentido!

Dos meus olhos o pranto então corria

e dor intensa o peito meu pungia

quando eu lhe disse adeus!

Abraçamo-nos nest´hora comovidos.

O meu rosto escondi nos braços seus.

E, tremendo de dor ,a mão fria beijar-lhe

quando eu lhe disse adeus!

E falou-me baixinho, comovido:

"Volto, querida, tão triste aos lares meus!"

e eu c'o a voz que num soluço parecia

só lhe pude responder:

"Adeus!"

Entre a existência real e a emocional envolvendo a realidade temporal vivida em seu contexto literário e pessoal pela poetisa Iracema Feijó ao velar seus sentimentos no seu “Adeus”.

Finalmente, diante da saga do amor e da sobrevivência intelectual e pessoal, Iracema Feijó², como era popularmente chamada em Santa Rita e fora dela, se bem que era assim que se apresentava, escreveu o livro: “Meu coração em pedaços”, e nunca perdeu o contato com sua terra natal, a Paraíba, de modo que em uma de suas idas e vindas à João Pessoa/Paraíba em 1970, faleceu vitima de um acidente de trânsito e consigo foram seus sonhos e sua ideologia, que por analogia, todos os dias atualmente, se repetem no seio de outras famílias na guerra do trânsito brasileiro.

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REFERÊNCIAS

AGUIAR, Francisco de Paula. Santa Rita, Sua História, Sua Gente. Campina Grande: Gráfica Júlio Costa, 1985.

ANUÁRIO INFORMATIVO DO MUNICIPIO DE SANTA RITA . João Pessoa: Gráfica A Imprensa, 1937.

Pequeno Dicionário dos Escritores / Jornalistas da Paraíba do

do século XIX: de Antonio da Fonseca a Assis Chateaubriand. /

Socorro de Fátima Pacífico Barbosa organizadora. – João

Pessoa, 2009. Disponível em:

<http://www.cchla.ufpb.br/jornaisefolhetins/ >152p. Acessado em 03/04/20213.

ERA NOVA, Parahyba do Norte, de 1921 a 1926, circulação quinzenal.

JORNAL O NORTE, João Pessoa, quinta-feira, 12 de janeiro de 2000.

JORNAL “A União”, João Pessoa de 1930/1940.

NADAF, Yasmin Jamil. Diálogo da Escrita: alagoanos na Imprensa de Mato Grosso (Primeira Metade do Século XX). Maceió: Mas-Graphy, 2000, 69, v.1.

O EDUCADOR, Parahyba do Norte, de 1921 a 1922, circulação quinzenal.

PINTO, Luiz. Coletânea de poetas paraibanos. Rio de Janeiro: Ed. Minerva, 1953.

Revista Manaíra João Pessoa, abril de 1940. Nº 06 pág. 04. Memorial do IHGP Edição Comemorativa dos 90 anos de Fundação 1905/1995. J.P. 1995.

Revista HISTEDBR On-line, Campinas, nº 54, p. 189-206, dez2013 – ISSN: 1676-2584

ROSA E SILVA, Enaura Quixabeira; BOMFIM, Edilma Acioli (Organizadoras). Dicionário das mulheres de Alagoas ontem e hoje. Maceió: EDUFAL, 2007, 456 p.: Il., fotos.

TRE/PB - Tribunal Regional Eleitoral da Paraíba – Memorial (Site1) – In.:< http://apps.tre-pb.jus.br/memorial/index-menu.php?menu=historia1&conteudo=alistamento-eleitoral >

Acessado em 28/05/2013.

UFAL- CENTRO DE EDUCAÇÃO². In.: <http://www.cedu.ufal.br/grupopesquisa/cea/ABC%20das%20Alagoas%20A-F.pdf>. Acessado em 28/05/2013.

FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Enviado por FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR em 28/05/2013
Reeditado em 04/09/2023
Código do texto: T4313783
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