Divagação

A frustração é efeito da nossa visão limitada sobre o espaço e a maneira pela qual concebemos o tempo.

Traçamos objetivos, metas e planos dentro do nosso efêmero e reduzido campo de visão. Geralmente projetamos percursos que correspondam às nossas expectativas.

Tropeçamos, então, de repente nalgum obstáculo. Não é uma barreira qualquer que possa ser ignorada, ou que possamos nos desviar, não. É algo que nos chama a atenção, é nossa própria limitação têmporo-espacial, porquanto seja qual for nosso desejo é algo que não fazia parte de nosso projeto num determinado espaço do tempo, ou que nunca esperamos acontecer. Ficamos inseguros, porventura nos frustramos.

Recolhemos em nós mesmos, assim, tentando vislumbrar a dimensão do confronto entre nossas expectativas e tal como as coisas são e se dispõem para nós.

Não obstante, a vida é um eterno mistério para nossos olhos infantis, uma vez que nossa visão de mundo está continuamente apreendendo tudo que nos perpassa e nos afeta.

Se felicidade for ter todos nossos desejos consumados, nunca a acharemos, por conseguinte. Seria muito fácil, senão, eliminar as mazelas psíquicas, físicas e emocionais.

Algo que chamou minha atenção, entretanto, foi saber estes “tempos atrás” que somos constantemente interpelados nas relações que estabelecemos, pela visão de Castor Ruiz. Esta maneira de enxergar veio trazer, para mim, uma interpretação diferente para o seguinte trecho do livro ‘Quando Nietzsche Chorou’:

“Antes, abracei apenas pela metade meu conceito de Amorfati: eu havia me treinado - me resignado seria um termo melhor - a amar meu destino. Mas agora, graças a você, graças ao seu lar hospitaleiro, percebo que tenho uma escolha. Sempre permanecerei sozinho, mas que diferença, que maravilhosa diferença, escolher o que faço. Amorfati: escolhe teu destino, ama teu destino”.

O trecho retrata uma interpelação do outro na qual o personagem vê uma possibilidade de escolha: “graças a você, graças ao seu lar hospitaleiro, percebo que tenho uma escolha”. A breve descrição narrativa, talvez limitação da linguagem ou minha mesmo, traz uma noção simplória de escolha, como se fosse uma certeza absoluta e pudesse ser única.

Percebo, porém, as escolhas como lacunas e aberturas para espaços e tempos distantes do nosso campo de visão, que podem ser revisadas de acordo com as circunstâncias que surgem.

Ainda que o livro traga o próprio destino como escolha a ser feita, para que não sejamos um acidente existencial, vejo mais como uma decisão do personagem sua ‘escolha’, porque este é deliberado numa única escolha, ou seja, mesmo diante de outras possibilidades, em meio a outras escolhas e interpelações, sua decisão já fora tomada. Apenas a confirma em meio a outras possibilidades.