MEU HERÓI. MEU VILÃO

MEU HERÓI. MEU VILÃO

Era uma manhã de sol, bela e alegre.

Neste dia perfeito, toda a minha família iria passear em nosso pomar, nossa chácara. O primeiro passeio de meu pai após o coagulo cerebral, por isso os especialistas afirmavam que ele jamais andaria e ele estava andando com bengala, que alegria!

Naquele dia tudo era destaque, meu pai assumindo uma posição de herói em meu pequeno mundo e na minha pequena experiência dos meus cinco anos.

Sua bengala tão pesada, que eu nem podia levantá-la, ambas as extremidades eram de prata com inúmeros desenhos, brasões, era o que o meu dizia. Ela, a bengala, assumia um papel de uma super arma em meu pequeno mundo.

A ida do passeio foi calma, minha mãe sempre ao lado de meu pai, minha irmã, com os seus longos cabelos de uma cor que se confundia com a cor dos troncos das arvores e sua posição era sempre muito adiante ou muito atrás. Meu irmão o “gordo”, sempre a paparicar meu pai. Meu outro irmão sempre a frente de todos e eu perdido entre eles.

Na volta, passamos pelo chiqueiro, vimos os castanheiros todos nus e suas folhas mortas pelo chão e não muito distante do caminho um tacho com água suja de cal.

Meu irmão corre para lá.

-Vem André, vem ver que jóia!

Sigo-o e vejo-o com uma varinha na mão a desenhar na água e o engraçado é que as imagens permaneciam na água.

-Vem André, aproxima mais para você desenhar também! .

E no momento que vou mover os meus pés em sua direção...

-André, vem já aqui!

Viro-me e corro na direção de meu pai, era meu herói que chamava.

O sorriso belo e ingênuo das crianças estampado em minha face por causa de seu chamado. E ele em pé olhando-me firme, meu irmão havia parado de mexer na água na hora que ele, meu pai havia me chamado, agora me olhava e se afastava. O “gordo”, ao seu lado, minha mãe servindo de apoio e “mana” longe, com toda a sua beleza olhava-me a distancia.

Nesta cena, o mundo parou e com uma enorme lentidão ele meu herói, ergue a bengala a começa a bater, uma, duas, não sei quantas vezes, só sei que meu sorriso se apagou como uma vela se apaga ao vento.

Queria morrer, não pela dor que sentia, mas pela decepção do momento, não conseguia gritar, só as lagrimas corriam em minha face para chão.

Minha irmã, correndo, puxa-me fora do alcance de sua bengala, enfrenta o vilão consegue levar-me para casa.

Lá, em casa, ela cuida de meus edemas e me faz dormir.

Neste lindo dia, conheci a morte, a morte do amor e o nascimento do ódio.

Neste dia morreu a criança que me fazia viver.

André Zanarella 24-11-1985