O educador baiano definia a escola pública como a raiz da democracia e introduziu, nos anos 20, idéias que ainda hoje influenciam o ensino brasileiro

Anísio Teixeira participou dos movimentos mais importantes do ensino brasileiro, dos anos 20 aos 60. Ele foi o principal articulador da Escola Nova, que deixou profundas marcas em nossa educação, a partir da década de 30. Toda a sua obra se baseia na idéia de que a democracia depende do acesso de todos ao ensino. Só existirá uma democracia no Brasil no dia em que se montar aqui a máquina que prepara as democracias. Essa máquina é a da escola pública, dizia.

Anísio Teixeira implementou uma educação pública democrática para a população brasileira, nas reformas de ensino que liderou e nos órgãos que dirigiu.

O trabalho dele rendeu frutos importantes, como a Universidade de Brasília (UnB). Mas o mais impressionante é que idéias lançadas por Anísio há mais de setenta anos ainda hoje se mostram úteis para nossa educação. Algumas delas estão sendo implantadas só agora.

Ele acreditava, por exemplo, que o governo deveria dar prioridade às séries iniciais. Só assim o direito de estudar estaria garantido para todos, ricos e pobres. É exatamente essa a direção que o Ministério da Educação (MEC) está tomando: nos últimos anos, tem dado prioridade ao ensino fundamental, e agora começa a dar maior atenção ao ensino médio.

Em 1934, foi ele o principal mentor da extinta Universidade do Distrito Federal (UDF), no Rio de Janeiro. Era a primeira vez que nosso país contava com um centro de ensino responsável tanto pela formação de seus alunos quanto pela pesquisa científica. Anísio criou, também no Rio, o Instituto de Educação, a primeira escola de nível superior para formação de professores.

Em 1950, fundou, em Salvador, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, chamado também de Escola Parque. Ali foram colocados em ação os princípios da Escola Nova, como a valorização de atividades práticas e de lazer. Essas idéias influenciaram muitas gerações de professores.

Anísio também montou as bases do sistema de ensino de Brasília, até hoje um destaque entre as redes públicas do país.

Apesar de sua enorme influência, ele enfrentou opositores. Por duas vezes — uma nos anos 30, durante o Estado Novo, e outra em 1964, no período militar —, foi perseguido por ser considerado esquerdista. Ele queria um país democrático, não um país comunista, diz sua filha, Babi Teixeira.

Em várias ocasiões, autoridades da Igreja o criticaram, porque ele queria a extinção do ensino religioso nas escolas públicas. Entretanto, esse homem tachado de comunista era admirado nas universidades dos Estados Unidos, o país símbolo do capitalismo, em plena Guerra Fria. E, embora combatido pela Igreja, era um católico fervoroso e quando jovem pensou em ser padre.

INFLUÊNCIA AMERICANA

Anísio Teixeira trouxe para o Brasil as idéias do pedagogo e filósofo americano John Dewey (1859-1952) e as introduziu em nossa educação a partir da década de 30. Entre essas idéias, as duas principais eram a defesa da escola pública e gratuita e a necessidade da implantação de experiências práticas nas salas de aula.

A relação entre ensino e democracia também estava sendo discutida nos Estados Unidos. Dewey era um ferrenho defensor do direito de todas as classes sociais à educação. Além disso, ele definia a aprendizagem como um processo ativo. Dewey criou a expressão escola ativa para denominar o ensino baseado em experiências práticas. Todo conhecimento autêntico vem da experiência, dizia. Essa foi uma das bases do movimento da Escola Nova.



VELHAS E BOAS IDÉIAS

A principal bandeira defendida por Anísio era a garantia do ensino para todos. Muitas das idéias dele estão no Manifesto dos Pioneiros da Educação Nova, documento lançado em 1932 por um grupo de educadores que, além dele próprio, incluía Fernando de Azevedo, Lourenço Filho e a poetisa Cecília Meirelles. O Manifesto contém os fundamentos pedagógicos da Escola Nova.

ENSINO PRÁTICO

Anísio definiu três eixos nos quais a educação básica deveria se sustentar. São eles: o jogo (recreação e educação física); o trabalho (exercícios práticos, incluindo aulas de marcenaria e de corte e costura, por exemplo); e o estudo propriamente dito.

Esse tripé fazia parte da pedagogia da Escola Nova Até então, pensava-se que a educação deveria se limitar a estudos teóricos. Os escolanovistas defendiam, ainda, que o aluno deveria ser o construtor de seu próprio conhecimento, não apenas um receptor de idéias lançadas pelo professor.

UNIVERSIDADE PARA OS PROFESSORES

Anísio acreditava ser necessário dar formação universitária a todos os educadores. A nova Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) incorpora essa idéia. Ela estabelece que, até 2006, todos os professores de 1ª a 4ª série deverão ter curso superior.

Fases de desenvolvimento

Anísio chamou a atenção para a necessidade de vincular o ensino ao desenvolvimento psicológico infantil. Os interesses da criança devem ser a fonte de inspiração das atividades escolares, definia.

APROXIMAÇÃO COM OS PAIS

Ele queria que as escolas fossem verdadeiras comunidades, e não aparelhos rígidos e formais. Para isso, considerava fundamental a participação das famílias dos alunos na vida escolar.


UMA VIDA INTEIRA DEDICADA À ESCOLA

Anísio Spínola Teixeira nasceu em Caetité (BA), em 12 de julho de 1900, numa família de fazendeiros. Estudou em colégios jesuítas em Caetité e em Salvador. Em 1922, formou-se em Ciências Jurídicas e Sociais, no Rio de Janeiro.

Com apenas 24 anos, foi nomeado inspetor geral de Ensino dao Estado da Bahia.
Em 1928, estudou na Universidade de Columbia, em Nova York, onde conheceu o pedagogo John Dewey.

Em 1931, foi nomeado secretário de Educação do Rio. Em sua gestão, criou uma rede municipal de ensino completa, que ia da escola primária à universidade.

Em abril de 1935, completou a montagem da rede de ensino do Rio com a criação da Universidade do Distrito Federal (UDF). Ao lado da Universidade de São Paulo (USP), inaugurada no ano seguinte, a UDF mudou o ensino superior brasileiro, mas ela foi extinta em 1939, durante o Estado Novo.

Em 1935, perseguido pelo governo de Getúlio Vargas, Anísio refugiou-se em sua cidade natal, onde viveu até 1945. Nesse período, não atuou na área educacional e se tornou empresário.

Em 1946, ele assumiu o cargo de conselheiro da Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura (Unesco). No ano seguinte, com o fim do Estado Novo, voltou ao Brasil e novamente tomou posse da Secretaria de Educação de seu Estado. Nessa gestão, criou, em 1950, o Centro Educacional Carneiro Ribeiro, em Salvador, a Escola Parque.

Em 1951, assumiu o cargo de secretário-geral da Campanha de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior (Capes) e, no ano seguinte, o de diretor do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos (Inep), onde ficou até 1964.

Anísio foi um dos idealizadores da Universidade de Brasília (UnB), fundada em 1961. Ele entregou a Darcy Ribeiro, que considerava como seu sucessor, a condução do projeto da universidade. Em 1963, tornou-se reitor da UnB. Com o golpe de 1964, acabou afastado do cargo. Foi para os Estados Unidos, lecionar nas universidades de Columbia e da Califórnia.
Voltou ao Brasil em 1965. Em 1966, tornou-se consultor da Fundação Getúlio Vargas (FGV)

Morreu em 11 de março de 1971, de modo misterioso. Seu corpo foi encontrado no poço do elevador de um edifício no começo da Avenida Rui Barbosa, no Rio. A polícia considerou a morte acidental, mas a família do educador suspeita de que ele possa ter sido vítima da repressão do governo do general Emílio Garrastazu Medici.

Se você quiser conhecer de perto a obra do educador, pode começar lendo estes quatro livros dele: Educação não é Privilégio, 250 páginas; Educação é um Direito, 221 páginas; Educação para a Democracia, 263 páginas; Educação e Universidade, 187 páginas. Todos foram publicados pela Editora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).

Fonte: http://eaprender.ig.com.br/ensinar.asp?RegSel=16&Pagina=1#materia