Memórias de Maria Teresa - Num Carnaval

“Eu devia ter uns 8 anos. O filho da minha mãe adotiva, a quem eu chamava de tio por ter idade de ser meu pai, e sua segunda esposa me convidaram para uma matinê de carnaval num badalado clube da cidade. A esposa dele deu alarme quando pegou meu cabelo pra ornamentar: ‘Nossa mãe, a menina tá cheia de piolho!’- o que na verdade era um exagero. Como o meu ‘tio-irmão’ não perdia uma oportunidade sequer de me avacalhar, só me chamou então de ‘porca-pra-baixo’. Disse que era uma vergonha eu não cuidar direito da minha higiene pessoal.

Todas as crianças que eu conheci tiveram piolhos uma vez ou outra na vida, principalmente quando começavam a freqüentar escola. Eu me cuidava sim, mas a praga é resistente pra caramba e às vezes demora muito pra gente se livrar completamente desses parasitas. Talvez fosse mesmo uma fase, porque mais tarde nunca mais tive piolhos.

Mas o que ele falou - e como falou - me marcou, me magoou muito, principalmente por causa da inferioridade que eu sentia. ‘Pode deixar, tia, precisa me arrumar mais não... Eu não quero mais ir pro Carnaval.’ – disse enquanto tentava me desvencilhar dela.

Mas é claro que eles ficaram zangados comigo: ‘E ainda se ofende?? Deixa de besteira, menina!’ - ele me disse.

Ele contava comigo pra fazer companhia à filhinha dela, uns quatro anos mais jovem do que eu. Queria que eu fosse junto e brincasse com a menina pra que os dois pudessem curtir o Carnaval mais à vontade... Eu também sou tinhosa: bati o pé e não fui! Não tinha porque sair com eles, já que eu era ‘uma porca piolhenta’.”

Helena Frenzel
Enviado por Helena Frenzel em 23/11/2008
Código do texto: T1298970
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2008. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.