O CHILIQUE E O AUSENTE

O CHILIQUE E O AUSENTE

 

É engraçado ouvirmos chiliques,

Por não gostar ou se incomodar,

E os letrados já não são chiques,

Por não mais saberem andar.

 

Eles invadiam as bibliotecas,

Mas também cada mesa de bar,

Só que hoje não há mais canecas,

Nem a vida é mais livre no mar.

 

Um poeta hoje é logo banido,

A não ser que se venda barato,

Pois sonhar já não é permitido,

Só o pesar em morrer caricato.

 

Tudo agora revolta no tempo,

Pois as trevas já se anunciam,

E não há mais um Renascimento,

Mas a fala dos que denunciam.

 

Os cagoetes hoje vão ter razão,

Se as bruxas resistem ao agouro,

E esquecem de quem deu sermão,

Atirando em pobres ou mouros.

 

E além da ciência e da poesia,

Querem ler tudo ao pé da letra,

Sem noção do que se fantasia,

Ou até se tem anjo ou capeta.

 

Certo é que nem tudo eu vejo,

E também que raiz eu não crio,

Pois os dias que eu antevejo,

Servirão como um sopro vazio.

 

Tudo aqui tem início e um final,

Como os dias, os ciclos e a vida,

Mas há quem pense que capital,

Compre tempo, além de comida.

 

Quem não sabe que tudo se acaba,

Tem o Sol, mas não sabe ser gente,

Como um velho pajé sem ter taba,

Não governa e é índio ausente.