A procissão começava no início da rua Dr.Sofrônio Portela. Ali o padre Jesuíno reunia os fiéis e com suas lindas canções religiosas começava a caminhada carregando a santa padroeira da cidade: Nossa Senhora da Conceição. Abdias e Dondinha, adolescentes nos seus 11 e 13 anos, acompanhavam os pais, vizinhos e colegas da fábrica de tecidos.
Os dois adolescentes estavam sempre juntos e iniciaram um namoro que durou quatro anos, emendou num noivado de mais três anos e acabou em casamento. Assim, se casaram cedinho, aos 18 e 20 anos. Ele trabalhava na fábrica de tecidos da cidade como ajudante de tecelão e ela era do lar, mas ajudava com uma barraca na feira e lavando roupas para fora, no velho e bonito rio Jaboatão. O amor deles era tanto que os cinco filhos (um faleceu)tinham pouca diferença um do outro... As meninas eram três e mais o menino. A família era pobre, mas bem estruturada moralmente; eram muito religiosos e cresceram sob o beneplácito social da fábrica, que lhes dava uma casinha modesta para morar. Tinham muitos amigos, a maioria da fábrica e um amigo velho amigo desde os tempos de infância, o Antenor (conhecido na cidade por Tripé, alusão jocosa e dúbia ao, sabe-se lá o quê), que era anão, ajudante de tabelião e muito amigo do Abdias. Tão amigo era que foi padrinho de casamento, padrinho da filha mais velha, Anunciada e, quis o destino, padrasto num futuro que o Abdias não esperava. Antenor fora pescador, mas por ter um pouco de estudo virou funcionário do Cartório.
Dondinha era apaixonada pelo Abdias, e estava nessas recordações quando, Tripé, seu marido comentou: Dondinha, tu tás pensando em que? Já são sete e meia...Faz o café...Hoje tenho dois casamentos para preparar...Dondinha, melancólica, saudosa, calada levantou-se e falou para si mesma.
-Ai ai... Tava pensando na vida!