O Sem Rumo - Rolando Boldrin





O Sem Rumo
           
   Rolando Boldrin



( Inspirado em mensagem de autor desconhecido ).

Ouça este poema na voz de Rolando Boldrin.
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Um dia, eu tava andando numa estrada poeirenta,
Com minha trouxa de pouca roupa dependurada,
A viola, calada...
E vinha eu, como um caboclo sem rumo,
Sem aprumo de saber pra donde eu caminhava,
Pois naquele tempo, minha vida não valia nada...
Nada dava certo!
Foi quando oiei assustado, pro chão,
E, ali perto, vi a marca de dois pé,
Como se alguém tivesse me acompanhando
Estrada a fora, num jeito invisível!

Eu quis inté correr, amedrontado,
Mas uma Voz, tão doce, me falou, no ouvido:
-- Não se assuste, caboclo!
Sou Eu, que tou aqui, do teu lado!
-- Eu quem?... Eu, mais assustado, perguntei.
Quem é que ta falano ansim, comigo?
E a Voz , ainda mais doce, me respondeu:

-- Eu sou o seu único amigo.
E sou, como vancê, filho de Deus!
Também andei pro mundo – Ele falou –
E fui, como vancê, um pobre vagabundo,
Sem tê ninguém que intendesse o meu amô!
Também chorei, como vancê, às veiz chora, suzinho!
E já andei pur essa estrada, cheia de espinho,
E, na puêra, pisei as minhas dô.

Fui tropeiro, boiadeiro, capinadô, rocêro...
Andei também, como um ismolé!
Já fui chamado de louco e mentiroso,
Já me tiveram na conta de um home pirigoso,
Mas nunca, em minha vida,
Eu perdi a fé.

Porque Eu...
Eu tinha Arguém, como vancê tem Eu, agora.
Pra acumpanhá, istrada a fora.
Um Arguém Invisível,
Pra me dá o braço,
Nas hora triste de cansaço!

E é em nome desse Arguém,
Que Eu, agora, tou aqui,
Pra lhe acompanhá.
Eu tô na sua vida, caboclo,
Tou na sua estrada!
E, mêmo ela cumprida,
Sufrida, dilurida,
Sem nunca lhe cobrá nada,
Hei de enxugá suas ferida,
Pra tudo canto, que vancê andá.

Falô isso... e se calou.
E, desde desse dia, Seus Pé
Continuou nos meu caminho!
Eu nun tava mais suzinho!
As marca tava sempre lá,
O siná dos pé dEle,
Sempre a me acumpanhá!

Um dia, a vida miorô,
Tudo mudô!
Casei com uma cabôca linda, que so vendo,
E tivemo um fiínho que era uma buniteza!
E no meu rancho pobre,
Agora era riqueza, de alegria, e de amô!

Mas, como tudo na vida é passagêro,
Minha muié, tadinha,
Um dia, caiu nun disispêro,
Meu fi aduentou,
E, em pouco tempo,
Aquelas duas criatura,
Que era toda a minha fartura,
Foi-se imbora, nun sei pra donde,
Morreu... se acabou!

Chorei, como quem chora de verdade!
Suzinho!... E daí me alembrei
Que, de uns tempo pra cá,
Nos meus caminho,
As marca dos pé dEle tinha disaparecido...
Eu tava tão abandonado,
Perdido, como nunca tive ante...
Eu tava tão suzinho,
Distante dEle,
Que deu inté pra me arrevortá...

-- Cadê Vancê?
Eu preguntei.
Vancê jurou de nunca me largá!...
Vancê jurou me acompanhá,
Pra todo sempre!
E óia agora,
Como me deixou ficá!

Nas hora que eu mais precisei de Vancê,
As marca dos Teus Pé num apareceu!
E eu só vejo, agora, no chão moiado de tristeza,
A marca dos meu!

Foi aí, que, depois de tanto tempo,
A Voz tão doce vortô, pra me falá:
-- Levanta, caboclo!
Adonde tá a tua fé? Ahn???
Vancê pode me xingá – Ele me disse –
Pode inté me excomungá!
Mas, se percurá as marca dos Meus Pé,
Vai encontrá!...
A sua, é que nun tá! – Ele me disse.

Pode me xingá, que nunca Me amolo!
Pois, na hora que você mais precisou, caboco,
Eu tava com vancê,
No Meu Colo!...

***

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Compadre Lemos
Enviado por Compadre Lemos em 31/07/2008
Reeditado em 01/08/2010
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