Era uma vez uma linda Rainha, que vivia sozinha em seu florido e arejado castelo, nos arredores de uma aldeia bem distante.
Era querida por todos e de uma simplicidade assombrosa. Mas tinha um defeito: confiava sempre em tudo e todos.
Num anoitecer de trovoada, como sempre fazia, cuidava de seu jardim, quando viu na curva da estradinha de terra, um homem mexendo na roda de uma velha carruagem. Ela então, correu até lá, no intuito de ajudá-lo, já que a tempestade não tardaria. Era um pobre homem, maltrapilho, de ralos cabelos brancos, mas de uma voz macia e palavras cultas que não combinavam com o quadro que se mostrava. Mas no que poderia, uma frágil mulher ajudá-lo???
O convidou a entrar, pernoitar ali e de manhã consegueriam ajuda. Assim foi feito. Foi então que viu que ele não estava só. Do banco de trás da carroça, digo carruagem, saiu uma mulher, que era sem dúvida a criatura mais monstruosa já vista por aquelas paragens. Não apenas pela aparência, mas pelo aspecto geral e, pelo enxofre que exalava. Tentando conter as náuseas, a rainha fez sinal para que a seguissem.
Chegaram e pelo caminho, flores iam murchando - uma coisa estranha - mas a Rainha, generosa que era nem notou. Também não notou quando os dois se deram as mãos, naquele gesto típico de comemoração e resmungaram um estranho "yessssssss"...
Pois bem, após o jantar, a monstrenga foi para os seus aposentos e a Rainha chegou à janela para olhar a chuva, no que se fez acompanhar pelo cidadão. Ele então, num gesto muito cavalheiro perguntou-lhe se poderia ganhar um abraço, já que ela o salvou. Com um leve sorriso, nossa moça o abraçou.
Nem deu tempo de esboçar um gemido. Sob o golpe certeiro da adaga do canalha, a bela mulher sucumbiu direto ao chão, uma vez que ele nem para segurar seu corpo inerte, servia.
Vamos pular os detalhes, mas sabe-se que o belo, colorido e florido castelo passou a ser uma construção obscura, cujo cheiro de enxofre sentia-se longe e seus moradores se diziam nobres. Feios, monstrengos, cruéis, mas nobres.
Reza a lenda que ainda hoje, séculos depois, ouve-se pelas ruinas mal assombradas, uma estranha voz de homem que repete e repete "viu só, como acertei o resultado do jogo?"