As duas Marias

As duas Marias

 

Não sei bem por que hoje eu decidi olhar o álbum de retratos que meu pai montou para mim, na minha primeira infância. O hobby dele era a fotografia e ele fotografava tudo, gostava de registrar os acontecimentos e fazia isso com poesia. Atrás de cada fotografia ele registrava o acontecimento e mencionava o nome de cada pessoa que aparecia na imagem, bem como o local aonde se deu o evento.

 

Meu pai era uma pessoa especial, Amarílio era o seu nome. Foi de certa forma a minha herança artística. Era escritor por excelência, desenhava como poucas vezes eu vi alguém desenhar e era dono de uma emoção ímpar. Meu pai tinha um senso de justiça e de ética profundo. Nada para ele passava em branco e tudo tinha o seu comentário, sempre feito de uma forma consciente, filosófica e prática. Imagine uma pessoa culta. Ele era um homem culto e tinha um profundo conhecimento sobre a filosofia, física, química, matemática. Versava o meu pai amado ainda sobre história, conhecia a geografia do mundo e tinha no dicionário um companheiro inseparável. Nada ficava barato quando ele estava por perto, tudo tinha uma hora a mais de prosa. E eu amei aquele homem, com o ardor de um anjo que adora o seu criador.

 

Mas como eu dizia, fui olhar o álbum de retrato que ele montou para mim e me deparei com a foto de duas criaturas que eu amei também intensamente. Ainda jovens numa foto meio passada pelo tempo, estava registrada a imagem de duas Marias conversando. As duas eram amigas inseparáveis e sempre que elas estavam juntas nós éramos testemunhas de um carinho especial. Uma era Sonnhilde Maria, minha mãe de saudosa lembrança e a outra era Maria simplesmente, minha tia querida que Deus abençoou com o seu poder, lhe dando uma sapiência ímpar e uma consciência exemplar.

 

Estas duas mulheres me ensinaram de formas diferentes a amar e respeitar as pessoas. Com minha mãe eu aprendi que nada no mundo é mais importante do que amar as pessoas de forma desinteressada e a minha tia me ensinou a respeitar as pessoas, a ter sensibilidade no trato com o ser humano e saber me comportar corretamente em todos os lugares aonde ia.

 

Eram duas mulheres bonitas, tanto por dentro como por fora. Eram duas mulheres vividas e que sabiam tirar da vida as lições que a vida tinha para lhes dar. São duas lembranças queridas que eu guardo com carinho e ternura dentro do meu coração.