Sob a Luz da Capela x Sob a Luz do Sol e Maktub

Sob a luz da Capela (1)
x
Sob a luz do Sol



I
( pleno )
 

Tu és a água fecunda
de onde a vida brota.
Ignígena, tu és o fogo da paixão
que flama a minha razão.
O amor é terra, fogo, água, ar e sal.
O amor dá forma e alma ao pó.
O amor é árvore e seu fruto é luz.
Sem amor a chama não lumina.
Sem amor não há vida.
Tu és a vida que em mim habita.
Tu és o amor jardineiro de meu coração...




II

( duvidador )
 
Se sofrido assim vivo
e se a razão hoje em mim coabita,
podando a árvore do amor,
roubando e rasgando as páginas de seu livro,
tolhendo seu fruto antes de ser flor,
não é por ausência da paixão,
mas sim consequência do labor vital,
da vida laboral.
 
¿Os elos são de açúcar
e as algemas de papel?
¿O tempo é mesmo cego, mudo e surdo?
¿Qual o sabor do fruto do coração?
 
Mera quimera
de coração sonhador,
a sonhar com o oculto o intangível.
Nesta hominal esfera os elos são de aço
duro e inquebrantável,
e o seu juiz é o tempo,
indolente e implacável.
¿Abnegação e liberdade?
Mera quimera
de coração sonhador.

 

III
( desejo )
 
Abras a porta de tua casa para mim.
Aqui fora sinto fome e sede
, a noite é fria,
estou úmido e sem guia.
O amor tudo dá.
A vida tudo poda,
tudo poda sim...


¿Mas o que fazer...
...com a imagem do brio de teu olhar
(imagem gravada em mim,
como na pele uma tatuagem)?
...com o sentir do perfume de teu hálito?
...com o quê, que de teu corpo eu ainda respiro
e inspira o que desejo do meu no teu?

 

A nitescência de teu olhar
inspira sons, versos e gestos.
Flama minha pele,
aguça meu gosto,
me queima o âmago,
me faz diferente
um amante livre, alado,
a voar leve e sem correntes.
 
Ver teu sorriso,
ver teu púdico pudor,
tocar teus lábios
e beber o leite de teus seios
é viajar no espaço,
é me vestir do azul do céu
e da calma do mar.
É conhecer o bom paraíso.
A teus pés rastejar,
ante tua beleza me dobrar
afligindo meus joelhos,
não é ser perdedor,
é senão ser um feliz vencedor.
 
Carrego em mim pranto
e o medo de ser só.
Após ti,
se do pó viemos
e ao pó voltaremos,
breve quero ser pó,
pois me mostraste que o bom já vivido
pode ser melhor,
que nada é impossível à alquimia do amor.
Conquanto tudo já me bastou,
tudo já vivi.
Destarte,
para o pó estou pronto.



 
(1) Estrela "Capela" do livro "Os Exilados Da Capela" de "Edgard Armond", editora Aliança. O livro fala de uma teoria espírita de que a raça humana foi miscigenada com o povo vindo da estrela Capela. O livro ajudou a inspirar o título, a vida inspirou o tema e os versos. Sempre acredito que há uma razão maior para as coisas que nos acontecem nessa vida hominal, mesmo que não entendamos os motivos. Quando faço referência à Capela quero falar dessa possibilidade, de nossa vida atual sofrer essa influência. Pode também ser interpretado pelo contraponto entre o que idealizamos e o que de fato nos acontece (Sob a Luz da Capela x Sob a Luz do Sol).

Para essa poesia fiz um áudio mixado com a música "Maktub" de
Marcus Viana.

 
(imagens obtidas da internet, todos os créditos e agradecimentos a seus criadores)