CHARLATÃES, MACUMBEIROS E CURANDEIROS
José Arnaldo Lisboa Martins
A Medicina é uma das mais lindas profissões, principalmente, quando ela é exercida com estudos, conhecimentos, abnegação e, mais do que tudo, com vocação. Se um médico não as tem ou não se esforça para exercer a sua profissão com estas qualidades, deixa enfermo um dos mais nobres sacerdócios. Um médico que sente-se feliz em proporcionar uma cura e ver o sorriso do curado e de toda a sua família, deve se sentir um imitador de Jesus, bem próximo dos evangelhos.
É uma pena que a Medicina e, consequentemente, os hospitais, estejam condenados pelos governos federal e estadual, quando estes não mandam verbas para as universidades e não equipam os hospitais, deixando-os com padiolas jogadas nas enfermarias ou espalhadas pelos corredores imundos. Os governos fazem com que a Medicina fique em estado de coma, pobre em equipamentos, medicamentos e em profissionais. Dentro de poucos anos, todos os consultórios médicos serão fechados, já que todos os procedimentos clínicos, cirúrgicos e operacionais, serão exercidos por missionários, bispos e pastores das diversas igrejas que ocupam ruas, bairros e cidades deste imenso Brasil. Os “milagres” e as “curas” diárias que acontecem e que são mostradas pela televisão, humilham os Conselhos de Medicina, desvalorizam os médicos e fazem com que o curandeirismo e o charlatanismo se tornem oficiais.
O povo já não precisa de laboratórios farmacêuticos, de hospitais, de postos de saúde, de médicos e de medicamentos. Se você estiver doente, com câncer, com “aids”, do coração, dos rins, do fígado, com diabetes, com tuberculose ou já esteja desenganado pelos médicos, vá a uma das igrejas milagreiras, para que de lá saia rico e curado, tudo “em nome do Senhor Jesus”. Ora, pra que médicos, se os aleijados sobem num palco e já descem dele com as muletas nas costas? Pra que ir a um oncologista, se com um simples toque no ombro do canceroso, os missionários e bispos extirpam tumores, por mais malignos que eles sejam ?
Jesus operou 35 milagres, tanto de cura como de ressurreição, além dos de poder sobre a natureza, durante os 3 anos, ou 36 meses da sua vida evangelizadora. Foi, portanto, uma média de quase um milagre por mês. Nas igrejas dos novos ricos, dos empresários recuperados, das madames perfumadas e de carros importados, dos casamentos refeitos, dos meninos pastores, das curas e libertações espetaculares, dos boletos bancários, das viagens internacionais, dos CDs de desafinados, dos hinos com letras horríveis, dos “descarrêgos”, dos “encostos”, das orações com caretas e dos forrós endiabrados, só falta curarem os Conselhos de Medicina, para que eles não se omitam, diante de tanto curandeirismo. Médicos, fechem seus consultórios, seus hospitais e seus Conselhos, pois, se Jesus fez 35 milagres, nas igrejas milionárias, acontecem centenas de curas por dia, as mesmas que só vocês poderiam fazê-las. Deixem a linda Medicina e compareçam às igrejas, para fazerem delas as suas UTIs, com suas mesas de operações, tudo “em nome do Senhor Jesus”.
Obs: Este artigo foi publicado hoje, 14/2/08, no Jornal EXTRA