Sérgio Sampaio: quem é cruel?
(Artigo publicado no site www.armadilhapoetica.com)
Nome Completo: Sérgio Moraes Sampaio Nome Artístico: Sérgio Sampaio
Nascimento: 13 de abril de 1947 Natural de: Cachoeiro de Itapemirim/ES
Falecimento: 15 de maio de 1994, na cidade do Rio de Janeiro.
Muito se perdeu sobre Sérgio Sampaio, e mais ainda se perderia sem o empenho de Rodrigo Moreira (autor da biografia), Sérgio Natureza (amigo e parceiro de Sérgio), Zeca Baleiro (que recuperou material inédito), Charles Gavin (que realiza a recuperação de obras nacionais esquecidas pelas gravadoras) entre outros. Nascido na mesma cidade que Roberto Carlos (cidade onde foi muito mais visto que seu conterrâneo, “O Rei”), mudou-se definitivamente para o Rio de Janeiro aos vinte anos. Boêmio por natureza, chegou a passar fome na cidade maravilhosa, dormir na rua e outras coisas mais. Mas sua sorte começou a mudar, quando certo dia entrou na gravadora CBS, e mostrou suas músicas para o então produtor, um tal de Raul Seixas. De imediato, Raulzito viu em Sérgio Sampaio uma promessa para a música brasileira, e ele estava certo. Gravou um compacto e foi contratado como músico da gravadora.
Em 1971, Raulzito e Sérgio Sampaio, acompanhados de Edy Star e Miriam Batucada, gravaram o antológico “Sociedade da Grã-Ordem Kavernista apresenta Sessão das Dez”. Naqueles dias, o Brasil era obrigado a engolir a Ditadura, e em 1972, no Festival Internacional da Canção, surge “Eu quero é botar meu bloco na rua”, defendida pelo próprio autor no palco, acompanhado apenas de seu violão. Sua canção não venceu o festival, mas o compacto vendeu assustadoramente bem. Era como se Sérgio dormisse boêmio e anônimo e acordasse como o maior cantor do país. Mas com a melhora financeira, veio também o aumento intenso da vida noturna.
O brilhante compositor também teve suas mágoas, pois seus discos venderam abaixo do esperado. O público parecia gostar apenas de um “Bloco”. Sampaio era intransigente quanto a pressão das gravadoras, que tentavam tornar suas músicas prontas para o consumo imediato, e não se iludia com a mídia que tentava transformá-lo em um novo “Roberto Carlos”. Estes fatores, somados a intensa vida boêmia, alcoólica e entorpecida do cantor, fariam-no desaparecer de cena a partir de 1982, quando lançou seu terceiro e último LP, de forma independente.
A verdade é que em suas composições, Sérgio alfinetou grandes nomes como Roberto Carlos (Meu Pobre Blues), a indústria musical brasileira (Cantor de Rádio), ao mesmo tempo em que gravou com Altamiro Carrilho, teve arranjos de João de Aquino, foi gravado por Erasmo Carlos, tem parcerias com Sérgio Natureza, gravou com Luiz Melodia, dividiu vocais com Jane Duboc, trabalhou com Roberto Menescal, ganhou troféu imprensa de Silvio Santos, fez show com Jards Macalé, Dona Ivone Lara e Xangai, entre tantos outros feitos notórios.
Em 2007, ano em que completaria 60 anos, na então conhecida cidade-natal do “Rei Roberto”, não houveram passeatas, nem festejos, não possui uma rua ou praça com seu nome e nem teve um único evento que lembrasse a data, a não ser um breve comentário numa festividade feita para homenagear o carioca Vinícius de Moraes. Seja em Cachoeiro ou em qualquer outra cidade brasileira, ouve-se muito mais o adjetivo “maldito da MPB” do que qualquer outro, quando se referem a Sérgio Sampaio. Os próprios conterrâneos parecem querer apagá-lo da história.
Mas em 1993, quando declarou ter parado com as bebidas, o compositor trazia planos consigo. Começava a apresentar uma lista de 50 canções, das quais escolheria o repertório do CD “Cruel”, que seria lançado pelo selo paulista “Baratos afins”, projeto que ficou inacabado por conta de sua morte, no ano seguinte. Este projeto foi retomado por Zeca Baleiro, quando conheceu a ex-mulher de Sampaio, Ângela, e ganhou dela uma fita contendo músicas inéditas. Após isso, ele começa a buscar por outras gravações inéditas e faz a recuperação dos respectivos áudios, material lançado no CD “Cruel”, em 2006, que traz violão e voz original com Sérgio Sampaio, e arranjos de acompanhamento, trazendo músicos como Bocato, entre outros. Eu, autor destas palavras, que desconhecia este disco, ouvi todas as músicas antes de escrever este artigo, e confesso-lhes que tímidas lágrimas desceram em meu rosto, diante de tamanho brilhantismo e maturidade musical que Sérgio Sampaio havia atingido, num trabalho que jamais seria conhecido sem o empenho dos já citados, além de outros que colaboraram com o projeto.
Para finalizar esta pequena homenagem, gostaria de lamentar a grande maioria dos artigos que li a respeito de Sérgio Sampaio, onde alguns chegam a dizer que ninguém mais do que ele merecia ser chamado de “maldito”. Alguns jornalistas, do presente e do passado, continuam produzindo “blocos” de lama, julgando muito mais pejorativamente, do que propriamente dando-se ao trabalho de conhecer a fundo sobre o que escreve. Por tudo isso, deixo uma pergunta: quem é cruel?