Física Quântica como novo paradigma de vida

A CONTRIBUIÇÃO DA COMPLEXIDADE E DA FÍSICA QUÂNTICA COMO NOVO PARADIGMA DE CONCEBER A VIDA

Aline Cristina C. Oliveira

RESUMO

O presente estudo tem como meta elucidar um breve diálogo entre a complexidade apresentada por Edgar Morin e a física quântica por Fritjof Capra aplicadas a uma abordagem Holística em saúde A metodologia é um estudo reflexivo, de análise qualitativa, desenvolvido através da pesquisa bibliográfica e análises/discussões realizadas no decorrer da disciplina “Educação Ambiental e Complexidade” do Programa do Mestrado em Educação Ambiental da Fundação Universidade Federal do Rio Grande, durante o primeiro semestre de 2006.

Palavras-chave: complexidade, física quântica, qualidade de vida e holismo em saúde

I- Introdução

Todos nós, independentes do país em que vivemos, raça, cor, sexo, idade, somos partes integrantes desse grande macrocosmo chamado planeta Terra. Sendo assim nossas ações interferem em proporção direta no espaço em que estamos. Essa concepção de um superorganismo vivo e essa unidade com o ecossistema terrestre é uma idéia indispensável para que tenhamos saúde e qualidade de vida.

O Filme “O Ponto de Mutação”, baseado no livro de Fritjof Capra traz justamente uma nova concepção de mundo, em que precisamos nos libertar da visão mecanicista que segrega e leva a mente humana aos extremos. Como enfermeira, percebo que as doenças, em sua etiologia básica, relacionam-se diretamente com nosso modo de vida como já explica a psiconeuroimunologia. Trabalhei com muitos pacientes utilizando o toque terapêutico do Reiki como forma alternativa de cura e os resultados são fantásticos. Essa terapia tem base na física quântica e utiliza as mãos e o pensamento para transmitir energia.

Então na grande maioria das vezes tratamos os efeitos das patologias, tendo o corpo “nada mais do que uma máquina”. Essa visão reducionista leva a medicina alopática a tratar órgãos e não pessoas, haja vista a grande iatrogenia e os efeitos colaterais sofridos com tal tratamento. Temos em nosso corpo físico o reflexo do que acontece com a própria natureza. Somos um corpo só e todos nós sentimos na pele as alterações climáticas que a terra vem sofrendo. Sabemos que muitas dessas conseqüências é a própria ação humana que age destruindo e segregando.

O nosso sistema de vida planetária é contraditório, pois chamamos de avanço tecnológico e progresso a maciça destruição e exploração do ambiente em que vivemos. Gastam-se milhões para se chegar numa tecnologia de ponta, como por exemplo, na elaboração de órgãos artificiais e por outro lado milhões de crianças morrem de fome, sem falar que o modo de vida que a sociedade global leva converge mesmo para o adoecimento. Dessa forma a teoria da complexidade entra como uma nova forma de compreensão de mundo e um desafio constante na busca dessa compreensão.

II- Revisão de literatura

Torna-se indispensável para o tema desse artigo buscar o conceito do que é saúde. Com a abertura política no Brasil e já a partir da 8ª Conferência Nacional de Saúde, realizada em 1986, as leis vieram a reconhecer a saúde como direito de cidadania. Nesse contexto o conceito de saúde abrange:

Condições de alimentação, habitação, educação, renda, meio ambiente, trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade, acesso e posse da terra e acesso aos serviços de saúde. É assim, antes de tudo, o resultado das formas de organização social da produção, as quais podem gerar grandes desigualdades nos níveis de vida.

Como podemos perceber a saúde não é apenas o antônimo de doença, pois as condições para que ela ocorra depende de uma intrincada rede de interconexões que vai além do escopo individual e insere-se nas relações diárias de vida em sociedade. Não precisamos muito para ilustrar o propósito desse artigo, pegamos apenas as condições de alimentação e meio ambiente para pensar em nossa qualidade de vida. Quem de nós hoje podemos responder afirmativamente a essas duas assertivas?

Nesse sentido, Capra(1982, p. 315) traz que

O pensamento sistêmico é pensamento de processo e por conseguinte a visão sistêmica encara a saúde em termos de um processo continuo. Enquanto a maioria das definições, incluindo algumas recentemente propostas por seguidores da corrente holística, descreve a saúde como um estado estático de perfeito bem-estar, o conceito sistêmico de saúde subentende atividade e mudanças contínuas, refletindo a resposta criativa dos organismos aos desafios ambientais.

O pensamento sistêmico está dentro da ótica da complexidade tão brilhantemente abordada por Edgar Morin em suas obras. Se avaliarmos sob esse prisma que a saúde é resultado da organização social de produção podemos entender com facilidade a crise existencial humana na face da terra. O próprio sistema de produção capitalista vigente aparta o ser humano de suas origens, no sentido em que cria um mundo artificial e ilusório, em que o consumismo é imperativo, por que gera crescimento econômico e concentração de riquezas. Esquecemos que para isso, destruímos nosso planeta, poluímos nosso ar, a água que bebemos, e como se não bastasse ceifamos milhares de vidas humanas através da pobreza e desnutrição, a qual leva a morte e a miséria.

Por outro lado se o complexo vai além do modo cartesiano de conceber a vida e se isso constitui um desafio para nossas mentes é hora de começarmos. Somos responsáveis por nossas ações e dentro de nosso microcosmos (corpo físico e espiritual) existe um verdadeiro universo que precisa ser constantemente lapidado em processo dialógico com o todo.

Voltando ao tema inicial, da mesma forma que cuidamos de nosso corpo, da mesma maneira cuidaremos de nosso planeta. A medicina alopática, a qual estamos habituados a usar, é sintomática, tratando somente da doença. Um dos grandes problemas do tratamento médico sintomático é a iatrogenia, como já mencionado anteriormente. Isso pode ser exemplificado no dizer de ( CARDOSO, s/d, p.12 -13), quando salienta:

Se você está sentindo dor de cabeça, vai a farmácia e compra comprimidos para dor de cabeça. A dor cessa e você acha que está bem. Na pior da hipóteses, quando a dor se torna mais freqüente, você vai ao médico e fala de sua dor de cabeça constante. Ele faz uma série de exames em seu corpo físico e obtém um diagnóstico, a partir do qual, lhe será ministrado um tratamento. Neste itinerário, não paramos para perguntar ao nosso próprio corpo por que estamos sentindo dor. Nós nos colocamos como vítimas de uma doença e passamos toda a responsabilidade de cura para o médico. Não participamos do processo de modo ativo e consciente, somos apenas o sujeito através do qual a dor se manifesta, a vítima.

Desde Hipócrates a saúde já é vista como um estado de harmonia/equilíbrio entre as influências ambientais, modos de vida e os próprios desejos/sentimentos que nos compõem enquanto seres humanos. Mas o que a nossa medicina atual preconiza é o tratamento dos efeitos das doenças, pois esse modelo hospitalocêntrico não leva em consideração o indivíduo como um todo e além disso fragiliza o sistema de defesas do corpo.

Nei ching dentro da filosofia chinesa traz

Administrar remédios para doenças que já se desenvolveram é comparável ao comportamento daquelas pessoas que começam a cavar um poço muito depois de terem ficado com sede, e daquelas que começam a fundir armas depois de já terem entrado em batalha. Não seriam essas providências excessivamente tardias? Capra (1982, p.309)

Por tudo que se vem abordando percebe-se que a saúde envolve aspectos físicos, psicológicos e sociais. É uma questão de reencontro com nossa própria natureza e da capacidade de reconhecermos que somos partes inseparáveis dessa teia de relações. Podemos buscar Bertalanffy citado por Capra (1996, p.54) que dedicou-se a substituir os fundamentos mecanicistas da ciência pela visão holística:

O organismo não é um sistema fechado estático ao mundo exterior e contendo sempre os componentes idênticos; é um sistema aberto num estado (quase) estacionário....onde materiais ingressam continuamente vindos do meio ambiente exterior, e neste são deixados materiais provenientes do organismo.

Assim nosso desafio enquanto cidadãos que buscam sobreviver em um contexto de caos social é justamente promover ações que visem uma mudança no sentido de melhorar nossa qualidade de vida.

III- Metodologia

Trata-se de um estudo reflexivo, de análise qualitativa, desenvolvido através da pesquisa bibliográfica e análises/discussões realizadas no decorrer da disciplina “Educação Ambiental e Complexidade” do Programa do Mestrado em Educação Ambiental da Fundação Universidade Federal do Rio Grande, durante o primeiro semestre de 2006.

A temática elucidada é um breve diálogo entre a complexidade apresentada por Edgar Morin e a física quântica por Fritjof Capra aplicadas a uma abordagem Holística em saúde. A revisão de literatura consiste em uma visão sistemática e crítica das leituras especializadas mais importantes publicadas a respeito de um tópico específico.

Com a revisão de literatura pode-se: criar uma forte base de conhecimento para realizar pesquisa e outras atividades no contexto educacional especializado; identificar lacunas, consistências e inconsistências na literatura, responder perguntas sobre um assunto, conceito ou problema; revelar novas práticas de intervenções, promover criação de protocolos, políticas e projetos/atividades de práticas novas ou revisadas relacionadas com a prática de enfermagem, entre outras. Dada a sua importância justifica-se o uso da mesma para a realização desse estudo.

IV- Considerações Finais

A Física Quântica apresenta-se nesse começo do século XXI como uma das ferramentas importantes a serem utilizadas no sentido de valorizar a vida. Através dela podemos vislumbrar o mundo subatômico de forma a compreender melhor a constituição dessa intrincada teia da vida e o mais importante de tudo, percebermos que somos partes inseparáveis dela. Compreendendo isso, começaremos a respeitar tudo que nos cerca e teremos uma visão menos egoísta e assim destruiremos menos. Essa crise existencial de percepção ocorre justamente por que nos concebemos como seres “descolados” do todo, e podemos manipular tudo como desejamos.

Dessa maneira a saúde vista como vida que coexiste e se transforma nos leva a ter uma visão sistêmica unificadora. Entendemos que nosso corpo físico, mental, espiritual são instâncias que se comunicam e interpenetram a todo instante, sofrendo influências e influenciando.

Podemos tirar muitas lições da metáfora na poesia de Pablo Neruda abordada no filme O Ponto de Mutação “Caminho, como tu, investigando e estrela sem fim e em minha rede, durante a noite, acordo nu. A única coisa capturada é um peixe preso dentro do vento. Quando nos damos conta dessa interdependência dos sistemas vivos começamos a pensar de uma forma mais integradora. A percepção que evoluímos no planeta e não com o planeta tira o individualismo de cena e gera uma superconsciência, essa sim, transformadora, pois busca através do respeito a existência da criação seu lugar na evolução.

V- Referências Bibliográficas:

ALMEIDA, M.C. Mapa Inacabado da Complexidade. In: Geografia: ciência do complexus: ensaios transdiciplinares. Porto Alegre: Sulina, 2004.

CARDOSO, J. Conheça Reiki. São Paulo: Escala, s/d.

CAPRA, F. O Ponto de Mutação. São Paulo: Cultrix: 1982

CAPRA, F. O A Teia da Vida: Uma Nova Compreensão Científica dos Sistemas Vivos. São Paulo: Cultrix: 1996.

LOBIONDO-WOOD, G e HABER, J. Pesquisa em Enfermagem: Métodos, Avaliação, Crítica e Utilização. Rio de Janeir: Guanabara Koogan: 2001.

MELO, E.C.P. e CUNHA, F.T.S. Fundamentos da Saúde. Rio de Janeiro: Ed. Senac Nacional:2005.

MORIN, E. & LE MOIGNE, J-L. A inteligência da complexidade. Trad. Nurimar Maria Falci. São Paulo: Petrópolis, 2000.

Foca
Enviado por Foca em 13/02/2008
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