QUE VALE PARA MIM A LITERATURA

                                     - Carvalho Branco

 

     Um quarto... meia luz... meu corpo sobre a cama... papel e lápis

     Num impulso, surgem, sobre a folha em branco, letras, palavras, frases e... num ímpeto raivoso, tudo imprestável, tudo destruído...

     Suspiro longo e profundo!...

     Recomeça a investida; agora mais cautelosa: a idéia surge, as frases são arrumadas, retocadas, sujeitas a juízo e, por fim, aceitas e transmitidas à folha.

     Para mim a literatura... ... ... 

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     Literatura!... O quanto é bela e suave esta palavra! Escutem-na e repitam-na devagar, bem devagar: Li-te-ra-tu-ra..

............................................................................................................................................................................................     - Literatura! Isso é tolice!... Beleza, suavidade... Nada disso existe realmente! A literatura faz parte da vida e a vida nada vale; ela se resume em tristezas, maldades, lágrimas e desencantos.

     - Quem és tu, criatura cruel e destruidora de ilusões, que assim me vens maltratar?

     - Não sou cruel, nem destruídora de ilusões, sou, apenas, verdadeira. Sei que me detetestas, mas saibas tu, que sou o teu Pensamento.

     Zangada comigo? Perdoa-me. Sou na verdade, teu amigo: não quero que, ao acordares de teu sonho, vejas a realidade e te decepciones.

     - Compreendo-te e peço-te perdão. A vida é o pélago profundo em que o destino nos lança; nada de bom tem, na verdade, para nos ofertar e somente os braços amigos e piedosos da Morte podem nos salvar.

     - Não! Não deves dar ouvidos ao Pensamento, ele é mau, egoísta e invejoso!

     - Oh! Quem és tú que me surges das sombras, envolta em fulgurante auréola?

     - Sou a tua Cosciência; por vezes tenho-te falado, aconselhando-te: escuta-me novamente. A Razão está contigo: Literatura é suavidade, doçura, ternura... Literatura é POESIA!

    ........................................................................................................................................................................................     -Onde estás, Consciência?... E tú, Pensamento? Onde vos escondesteis?

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     O quarto volta à penumbra.

     Lentamente, meu corpo se move.... o lapís é erguido e... no fim da folha encontramos:

                                   "Para mim, Literatura é a beleza da vida!"

                                                        PONTO FINAL!

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     Sonhos, devaneios de juventrude, como é bom recordar!...

     Mas... para mim, a Literatura ainda é a beleza da vida!