A mulher virtuosa

Nos dias de hoje, as revistas de variedades, de circulação nacional e internacional, costumam, através de testes, simplórios e superficiais, do tipo “avalie que tipo de mulher você é”, compulsar certos parâmetros da condição humana, como grau de inteligência, capacidade afetiva, desenvoltura diante de crises e problemas, existenciais, etc., fazendo tudo recair no burlesco, no bufo e no deboche que caracteriza essas publicações sensacionalistas, que visam mais o vender do que o formar.

Para esses segmentos, a mulher fica deturpada entre a capacidade profissional (ganhar dinheiro) e a liberalidade de comportamento (a busca do prazer a qualquer preço). Eu acho que existe algo – e alguém – bem mais conciso, real e virtuoso. A mulher não pode ser louvada só pelo palpável ou pelo sensível.

Na literatura mundial, seja nas culturas antigas como nas modernas, vamos encontrar louvores à mulher virtuosa, aquela em quem o marido pode confiar, que alegra sua vida e dá sentido à sua existência. Encontramos referências a ela em literaturas sapienciais como o Talmude, o Tao, o Gilgamesh, os Vedas hinduístas e na Bíblia judaico-cristã, especificamente no capítulo 31 (vv. 10 a 31) do Livro dos Provérbios, que vou usar para enriquecer esta reflexão.

“Mulher virtuosa, quem a pode achar? Pois o seu valor

muito excede ao de jóias preciosas. O coração do seu

marido confia nela, e não lhe haverá falta de lucro. Ela

lhe faz bem...”.

De fato, nada faz mais bem ao coração de um homem do ter a seu lado e amar uma mulher de virtude, que saiba amar, seja fiel, que expresse com clareza suas idéias e seus gostos, que tenha a generosidade de amar mais ao outro do que a si, a ponto de perdoar sem medidas, ressentimentos e cobranças, renunciando a si, passando por cima de seu amor-próprio, às vezes, para acolher o outro, dar-lhe paz e segurança.

Fidelidade não é só a continência sexual. A pessoa fiel o é em todas as dimensões, a partir de seus pensamentos, idéias, palavras e fantasias. Nesta linha de raciocínio me vem à mente a persistência de Penélope e a fidelidade de Desdêmona. Sem ser servil, escrava ou uma mera “rainha do lar”, a mulher de verdade é operosa, sem nunca deixar de hierarquizar sua atividade e sua dedicação. Ela sabe que em primeiro lugar está o marido, os filhos e depois – bem depois – a casa e as coisas materiais. Mesmo assim, seu lar é modelo:

“Quando ainda está escuro, ela se levanta, e dá

mantimento à sua casa, e a tarefa às suas servas”.

A verdadeira mulher, não é egoísta, mas altruísta, amável e benévola, capaz de colocar o interesse daqueles que ama, em primeiro lugar. Não entroniza, pragmaticamente, o marido e os filhos, para tornar-se feliz com isto, mas é generosa com todos, a partir dos seus, e da felicidade deles haure a sua.

“Ela abre a mão para o pobre; sim, ao necessitado

estende as suas mãos. Não tem medo da neve, pois todos

os da sua casa estão vestidos de púrpura”.

Não é verdadeira a afirmação que diz que atrás de um homem vencedor sempre está uma grande mulher. Não! Eu digo: “Ao lado de um homem feliz sempre está uma mulher virtuosa!”. Sua capacidade de ser gente ensina a todos, a partir do marido, dos filhos, da família, dos amigos. Todos se tornam espelho de sua virtude, fruto do seu amor, beneficiários de seu carinho, destinatários de seu desvelo e objetos de seu perdão.

O homem que tem uma mulher com esses atributos, é capaz de ser eternamente feliz e invejado, pois conquistou, sem dúvidas, um incalculável tesouro.

“Conhece-se o seu marido nas portas da cidade, quando se

assenta entre os anciãos da terra. A força e a

dignidade são os seus vestidos; e ela abre a sua boca

com sabedoria, e o ensino da benevolência está na sua

língua”.

Hoje, tantos correm atrás das paixões, da ilusão da matéria, dos sentidos e da moda, buscando o prazer de forma egoísta e desordenada. Com isso – só para usar duas figuras bíblicas – guardam tesouros em vasos de barro, ou carregam água em balaios. É preciso ver, a tempo, a riqueza de uma verdadeira mulher, a qual o passar do tempo só dá sabedoria, tranqüilidade, beleza e paz. Louvar as virtudes de alguém depois que se foi, que morreu, não adianta mais nada.

"Enganosa é a graça, e vã é a formosura; mas a mulher

que teme ao Senhor, essa será louvada. Dai-lhe do fruto

das suas mãos, e louvem-na nas portas as suas obras”.

Sempre que me ocorre a imagem bíblica da mulher virtuosa, eu me lembro com carinho, de Maria, mãe de Jesus, de minha mãe Mercedes, que está no céu, de outras tantas mulheres dignas que conheço, e especialmente de Carmen, minha mulher-esposa, que luta há quarenta anos a meu lado. É a ela que, como o rei Salomão, eu enalteço, dizendo:

“Muitas mulheres têm procedido virtuosamente, mas tu a

todas sobrepujas!

Feliz o homem que, como eu, pode exultar por amar e ser amado por uma mulher assim, amiga e companheira.

Antônio Mesquita Galvão
Enviado por Antônio Mesquita Galvão em 10/11/2005
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