-  Hipócrates ?
                                          -  Ausente !




Prefácio :
Revendo velhos guardados encontrei o texto que se segue e que me sugere entender Shakespeare : “Por que fiquei velho antes de ficar sábio ?”
Resolvi publicá-lo uma vez que a minha predição foi, como diria Nelson Rodrigues :“Batata “. O que admito não precisaria também ser nenhum Nostradamus ou o famoso ( que Deus o tenha) Walter Mercado, “Lique Djá”, ou a pitoresca Mãe Dinah, para prever que, como no Brasil “tudo acaba em pizza”, uma de mussarela a mais ou a menos não fará a menor diferença e ainda leva uma “brotinho” (com todo o respeito).

Por incrível que pareça estão querendo abrir novas Faculdades de Medicina no Brasil .Se isso acontecer será mais um atentado que o povo brasileiro sofrerá.
Como médico, sou do tempo ( 1968 ) em que não haviam tantas faculdades de Medicina.Os alunos passavam no vestibular,faziam a faculdade, mas já não tinham o mais importante : hospitais onde pudessem por em prática seus conhecimentos.
O governo militar,na época, para conter a grita, começou então a criar faculdades de Medicina para absorver esses “excedentes”,ou seja, aqueles estudantes que tinham nota para entrar na faculdade mas não tinham vagas para estudar.
Certamente aí, ainda estavam faltando faculdades de Medicina para suprir ao então escasso mercado de médicos.
Na formação do médico,uma das partes mais importantes,senão a mais, é o Internato e a Residência,que devem ser feitos em Hospitais Escola.
Neste período de 1 a 4 anos,dependendo da especialidade escolhida passa a freqüentar mais assiduamente o hospital para treinar e aprender. A chamada Residência,é o período que se segue,no qual o médico recém formado,freqüenta o hospital,começando a fazer então fazendo então a especialidade a que se propôs (este é um período de 1 a quatro anos ou mais,dependendo da especialidade).Nunca se esquecendo que o acesso à Residência é sempre através de exames de seleção.
Note-se que aí,o estudante recém formado, tem que receber a supervisão de outros médicos, professores e especialistas para orientá-lo e instruí-lo,na sua futura especialidade.
Construir faculdades de Medicina é facílimo.Um prédio com algumas salas,alguns microscópios,alguns tanques de formol,professores ganhando mal e mensalidades altíssimas (algumas faculdades chegam a cobrar R$2500,00 de mensalidade).
Quem conseguir do governo a aprovação para a construção de uma Faculdade de Medicina,sabe lá Deus porque meios e critérios,se não for, será mais um milionário brasileiro.
Baixíssimo investimento,altíssimo lucro!
A grande dificuldade é criar hospitais que dêem suporte para que esses novos médicos possam treinar e se aprimorar.Sem este treino,o médico pode sair da faculdade com um grande conhecimento teórico de Medicina,mas na prática, que é o mais importante, ele é zero.
Os hospitais, em condições de fornecerem esse tipo de treinamento aos médicos, fazem então,um concurso para a sua seleção , haja vista a grande demanda.
O que acontece? Há um número enorme de médicos, recém formados, procurando uma vaga para estudar e se aperfeiçoarem. Acabam sendo os “excedentes” de antigamente.Têm o diploma mas não têm as mínimas condições para entrarem no já saturado mercado de trabalho.
Poder-se-ia pensar:mas por que esses médicos não vão por esses “Brasis” trabalhar?
Quem nasceu nas grandes cidades,e já está acostumado a elas,não quer se meter pelos rincões brasileiros para levar o seu conhecimento médico,mesmo que inexperiente,também porque as condições nesses lugares são precárias e é óbvio que não há nem um estímulo ou incentivo do governo.
No máximo, o recém formado médico (a) faz o curso numa faculdade da capital ou do interior e uma vez terminado o curso volta à sua cidade para tentar trabalhar.Sem contar o acúmulo dos estudantes que vêm de outras regiões Brasil como o norte,nordeste,
principalmente e que quando conseguem, acabam se fixando nos
grandes centros,não querendo mais voltar à sua cidade,o que ainda
sobrecarrega ainda mais o mercado..
Ao final, temos todo ano,nos grandes centros, um afluxo de uma nova e enorme quantidade de médicos desesperados à procura de trabalho num mercado super saturado e sem condições de absorve-los.Então ,com o tempo,começaram a aparecer os convênios que intermediando esse bom negócio,contratam médicos por valores irrisórios, e preços altíssimos do seus conveniados.
Há também o fato de que nas cidades do interior a “panelinha” local dos médicos tenta impedir de todas as formas o acesso de outros médicos que venham de fora,mantendo assim um monopólio.Mesmo que médicos , altamente gabaritados queiram se fixar em suas cidades serão quase que automaticamente rechaçados.O povo nem ficará sabendo...Tem gente que ainda fala em cooperativismo médico.
E ainda querem fazer mais Faculdades de Medicina?
A quem poderia interessar criar mais e mais médicos inexperientes além é claro do maravilhoso retorno financeiro na criação de escola de Medicina?
É evidente que o maior beneficiado não seria o povo brasileiro.Nem os que moram nas grandes capitais,muito menos aos que moram longe delas.
Esses iludidos seres humanos “vocacionados para salvarem ao próximo” trabalhariam até de graça...
Acho que atingi o ponto! De graça!
Nisso entram os convênios que vão, a preços escorchantes para o médico,sugando o seu sangue e o suor do seu trabalho.Pagam quantias irrisórias por consultas e cirurgias.Assim o médico tem que se desdobrar em 2 ou 3 empregos para poder manter a família.Sem esquecer ainda que esses convênios costumam cobrar “luvas” altíssimas para o médico poder trabalhar sob sua “bandeira”.
Tentem imaginar o médico que assume toda responsabilidade operacional de fazer diagnósticos, cirurgias, tratamentos,dar consultas e ficar pulando de emprego em emprego e lidando com vidas humanas.
Para os convênios é uma posição muito cômoda.Só interessa que o médico tenha um nº,o cadastro no CRM (após cursar a Faculdade terá o registro,do Conselho Regional de Medicina do seu Estado podendo exercer livremente a profissão.).
Não importa a experiência do médico,seu conhecimento,os cursos que tenha feito e sua capacidade profissional.A “eles” ,os donos de convênio, só interessa a inscrição no CRM.
Para “eles” um médico experiente formado há 20 anos,com cursos e especialização até no exterior, representa o mesmo que um outro formado há 1 mês.
Daí já se percebe o descaso do convênio para o atendimento dos seus conveniados.
A responsabilidade sobre o paciente é pura e exclusiva do médico.Se ele eventualmente errar,as punições caem única e exclusivamente sobre ele.A ele,e só a ele, cabe se defender do porquê do ocorrido,não importando as condições (ou falta delas) que acarretaram num insucesso.
O convênio não tem responsabilidade nenhuma...Porisso tanto faz para “eles” quem seja o médico.
O negócio “deles” é ficar fazendo propaganda em revistas,televisão e até estádio de futebol e arregimentando cada vez mais clientes para o seu tão decantado Plano de Saúde,com seus contratos em letrinhas miúdas.
Como no Brasil,o Sistema de Saúde é totalmente falido, a maior parte das pessoas que trabalham,e até os aposentados,são OBRIGADOS a terem um desses convênios para, numa fatalidade, poderem pelo menos, conseguir um leito em um hospital,pois se se internarem como particulares,certamente morrerão pela doença ou então pela conta que lhes será apresentada no final do tratamento.
E nisso, podem ter certeza, destes custos altíssimos a maior parte corre por conta do hospital e não pelos honorários médicos.
Num país miserável como o nosso, a lei da oferta e da procura,faz os convênios ficarem rindo às pampas,e faturando alto.Quanto mais médicos melhor,mais baixo o pagamento...
”Ué!Por que você não abre a sua clínica particular e trabalha por conta própria?”.
E neste país alguém tem dinheiro, salvo poucas e raras exceções, para arcar com os custos hospitalares os honorários médicos decentes e compatíveis?
Então pra que mais médicos despreparados inchando o mercado de trabalho? Por que os convênios,junto com o governo,não constroem Hospitais Escolas,não só para darem treinamento aos novos médicos como também atenderem a essa grande massa de excluídos da sociedade que não tem acesso nem ao falido INSS?
Não sou contra os convênios mas sim a favor de que eles façam uma seleção rigorosa de seus médicos e os paguem como merecem:dignamente.
O que aqueles pobres médicos recém-formados não sabem é que, além disso tudo, estarão sendo presas fáceis dos “advogados excedentes” ,especialistas somente nessa área (criar mais Faculdades de Direito ninguém reivindica pois já tem uma em cada esquina).
Criar-se-ão cada vez mais, “Especialistas Jurídicos” em “Erros Médicos”!
O acaso e o imprevisto,como as vidas humanas,se tornarão erros médicos.
Pobre de ti doutor! Hás de abominar Hipócrates.
E nessa briga entre o mar e os rochedos quem continuará sofrendo será sempre o marisco:o já tão desamparado e combalido povo brasileiro.
Quem viver,verá!