O CRUZAMENTO DA ÉTICA COM A FILOSOFIA NO COTIDIANO

     Desde tempos imemoriais, os seres humanos se perguntam sobre a melhor fórmula de convívio entre si e como é possível acumular um conhecimento sobre o mundo em que vivem de forma que isso resulte para todos num benefício geral. Aristóteles mesmo já colocava essa preocupação, bem como Platão com sua idéia de República.
     Nos dias de hoje, nunca a ética foi tão necessária para ordenar uma sociedade em que os interesses individuais parecem predominar sobre o interesse público e minar valores coletivos fundamentais, como os da solidariedade, da caridade, do amparo social e da relevância do Estado numa perspectiva posta pelo filósofo Jean-Jacques Rousseau no contrato social. Aquela máxima de que os bens são finitos e as demandas infinitas contextualiza bem esse paradoxo.
     A ética é uma compreensão individual de valores que se forjam na atuação social do homem. Essa apreensão vai pautar a conduta moral de cada um. Nesse caso, a moral está para a ética assim como a escuridão está para o facho de luz da lanterna. Ela é subjetiva, mas vai dar o escopo para as ações concretas de um indivíduo que vai atuar numa interação objetiva com a realidade, transformando o seu entorno e o meio externo em que vive. Para os existencialistas, a existência precede a essência porque os seres humanos constroem seus conhecimentos com a ação. Para os adeptos da fenomenologia, esse conhecimento vem da intuição. Para Kant, os juízos individuais só teriam validade se neles estivesse implícita uma possibilidade de universalização. São várias as teorias sobre como o mundo pode ser compreendido.
     A ética como valor necessário nunca foi tão relevante para elidir conflitos num cenário tão conturbado. Além de servir de substrato da ação cotidiana de cada um no âmbito da moral, ela também pode estar por detrás da formulação de leis e ordenamentos jurídicos, estes com força cogente, que possam ajudar em questões sérias de uma sociedade que se debate e se embate com questões que a tornam desigual e injusta, como é o caso da corrupção, do trabalho escravo, da exploração e abuso de crianças e adolescentes, não apenas atingindo quem pratica os crimes como também contribuindo para um clima de reprovação social.
     O tema da ética é um assunto árido em países nos quais a população seja muito empobrecida por conta da desigual divisão de renda, como é o caso do Brasil, uma das maiores economias do mundo, mas com péssimos indicadores sociais. Isso faz com que a população seja mais resistente a desenvolver uma ética mais consistente por conta das necessárias estratégias de que precisa lançar mão para sobreviver. Nestas plagas, isso até ganhou um conceito popular, o famoso “jeitinho brasileiro”, uma maneira que até pode ser inovadora por vezes, mas que encerra também um conteúdo que se pode chamar de “cada um por si”.
     A filosofia, e isso está na sua ontologia, busca clarear a compreensão humana para que as pessoas possam ter a melhor vida dentro do seu momento histórico, ainda que lidando com temas tormentosos como razão e fé, de como extrair o melhor destas duas faculdades do espírito para cumprir a sina das suas estadas no tempo e no espaço. Nisso, a ética não é neutra e está subjacente em tudo, porque ela é um guia imprescindível para a viagem existencial da humanidade.
Landro Oviedo
Enviado por Landro Oviedo em 03/04/2018
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