Apenas talento basta para vencer?

Recentemente, assisti a um filme bastante curioso, “Pegando Fofo”. A trama descreve o drama da carreira de um Chef culinário, agora arruinado e destruído, em seu país de origem, em busca da sua terceira de outras duas estrelas Michellin, conquistadas em sua carreira na França.

Confesso que demorei umas duas semanas para conseguir terminar de assisti-lo. Não porque me faltasse tempo, mas porque me senti dentro da trama, numa tensão e pressão absurdas, vivendo a vida daquele Chef, um cara que começou moleque, trabalhando duro, aqui e ali, economizando, até juntar uma grana e comprar uma passagem, só de ida, do seu país para a França (Paris).

Em Paris, ainda sem saber falar francês, conseguiu trabalhar numa das melhores cozinhas. Era novato, mas ambicioso e talentosíssimo. Logo cresceu, se tornar Chef, com seu mentor, e adquiriu respeito e sucesso. Mas é justamente aqui que as coisas se complicam. Após se tornar chef e conquistar duas estrelas Michellin, se perde na bebida, drogas e dívidas com gente perigosa, destrói sua carreira seu nome e todos a seu redor.

O enredo mostra uma pessoa que tinha talento, construiu os meios para se desenvolver, buscou até encontrar, e aproveitou, a oportunidade certa, mas não se preparou para administrar o sucesso, após a grande conquista. O duro é que essa realidade é facilmente encontrada em diversos ramos de trabalho. As perguntas que ficam são: O que significa de fato ser o melhor, o cara? O que a vida exige dessas ilustres lendas? Trata-se, de fato, apenas de conquistar?

O que fica claro aqui é que talento, por maior que seja, sozinho nunca é o bastante. As relações sociais vão exigir mais que talento de quem quer vencer. É preciso saber administrar, com propósito, todo o novo contexto de uma vitória. No personagem, faltava maturidade para aquela conquista, o que me leva a pensar que talento, mais sucesso, sem capacidade de administrar o novo contexto, com objetivos claros, torna a pessoa, além de arrogante, individualista e fada à autodestruição, porque só enxerga a conquista o os festejos dela.

As perguntas que devíamos nos fazer, quando planejamos alcançar algo grandioso, são: Estamos pontos para isso? Como lidar com o sucesso? Quem serei já tendo sucesso? Estou convencida de que se não houver um propósito maior, além da conquista, trabalhado com maturidade, antes de vencer, fatalmente nos embaraçaremos com as orgias dignas de quem conquista algo.

Vencer é sempre mais que a conquista. A conquista é apenas uma etapa do caminho, mas a partir daí só talento não basta, porque vitorioso é quem sabe o que, como e quando fazer com a conquista, de forma a beneficiar a ele e às pessoas à sua volta, porque ninguém vence sozinho.

Marta Almeida: 26/02/2018