Marxismo Teoria e prática

Marxismo

Teoria e Pratica

Abençoado por uns e amaldiçoado por muitos, o pensamento marxista tem sido objeto de estudos e de praticas em todo o mundo. Como se trata de um sistema de regime social, econômico e de governo bastante abrangente e controverso, elaboramos o presente trabalho para que o simples mortal possa entender o que na prática propunham Karl Marx, Frederich Engels e posteriormente alguns dos seus seguidores.

Sabemos que desde a Antiguidade, a pirâmide social sempre foi dividida em pelo menos três classes. No topo a classe minoritária dos que mandam e não trabalham, no meio a classe média dos chamados liberais que não mandam, mas também não trabalham, e na base da pirâmide a grande maioria que trabalha e obedece.

Depois do estágio nômade, em que viveu da coleta de frutos e da caça, o homem se fixou na terra para plantar e criar animais para a sua subsistência. Nessa fase que poderíamos marcar como feudalismo as pessoas construíam suas moradias em grandes áreas de terra pertencentes a um Senhor e produziam ali praticamente tudo o que precisavam.

Nesse antigo sistema os trabalhadores eram livres, não se tinha dia ou horário fixado para a jornada de trabalho e muito menos classes de patrões ou de empregados, visto que cada um tirava da terra o seu próprio sustento ou produzia bens e serviços que trocava por outros produtos.

Quando o empreendimento era grande ou em situações especiais como o plantio, a colheita ou uma obra maior era feito em forma de mutirão e ao final todos eram beneficiados com a partilha da produção ou pelo uso comum do bem construído.

Apesar dessa aparente liberdade laboral, a classe da nobreza, que nunca trabalhou, mas como era a proprietária da terra, indiretamente, sempre mandou nos que trabalhavam, salvo, nos artistas, comerciantes, artesãos, religiosos, filósofos, ciganos e viajantes que, teoricamente, não deviam qualquer obediência à nobreza.

Tudo ia relativamente bem até que o sistema produtivo manual da sociedade pré moderna, foi substituído pelo uso das máquinas que surgiam com a denominada revolução industrial.

Se antes os trabalhadores eram livres, a industrialização forçou os operários a um regime de trabalho com horário pré fixado de entrada e de saída nas fabricas e criou a classe dos patrões e a classe dos empregados, que seriam mais tarde, denominadas por Marx de burguesia e proletariado.

Pela nova relação empregatícia os trabalhadores têm que permanecer mais tempo dentro das fábricas a disposição dos patrões para gerar mais produção e conseqüentemente mais lucros.

Inconformados com a situação, considerada exploratória, que se repetia em cada nova fábrica ou unidade industrial, Karl Marx e Frederich Engels começaram a questionar e combater essa prática que, segundo eles, não remunerava com justiça o tempo e o esforço de trabalho dos empregados que denominaram “Mais Valia”.

O primeiro passo concreto nesse sentido foi dado em fevereiro de 1848 em Londres quando eles publicaram o Manifesto Comunista que fazia duras críticas ao sistema produtivo capitalista que forçou a mudança de hábitos e criou uma nova forma de organização da sociedade.

Esse Manifesto que pregava, inclusive, a luta armada, como forma de reverter à situação, não causou de imediato grande impacto na classe empresarial nem na classe trabalhadora. No entanto, serviu para despertar a consciência do proletariado e da burguesia de que se não houvessem os trabalhadores as indústrias também não sobreviveriam.

Podemos dizer que a partir desse Manifesto começou a surgir o Marxismo que, com o correr do tempo, se popularizaria como uma nova forma de ver a relação entre o capital e o trabalho e confirmaria que as transformações só acontecem através dos movimentos sociais.

O tempo passava e os dois estudiosos continuaram a acompanhar e contestar o novo sistema, sempre aperfeiçoando as suas teorias, estudando e prescrevendo formas e meios de livrar os trabalhadores da crescente opressão da burguesia que, a essa altura, já estava sendo considerada como uma escravidão.

Por volta de 1872 aparece na Rússia a obra O Capital elaborada pelos dois filósofos, a qual teve sua base no conteúdo do Manifesto Comunista, mas que agora ampliado, aborda com mais profundidade as questões, econômicas, políticas, filosóficas e sociais resultantes da nova ordem.

Nessa obra os autores fazem um profundo e bem estruturado estudo sobre as relações entre o capital e o trabalho, que eram consideradas opressoras, e pregam que a modificação do regime deve ocorrer através de duas etapas.

Na primeira etapa, denominada de Socialismo, o capitalismo deve ser derrubado pela revolução do proletariado, entendida aqui, como a tomada da administração das fábricas e dos meios de produção pelos empregados por meio da luta armada, mas permanece o mesmo sistema de governo. Nesse estágio, na prática, acontece a ditadura política, social, econômica e industrial pelo estado.

Na segunda etapa, denominada de Comunismo, os trabalhadores assumem o governo, e o comando do estado passa para o proletariado, ou seja, para os trabalhadores. Nesse regime é para acontecer o nivelamento de todos os indivíduos tanto em alimentação, moradia, vestimenta, lazer e trabalho. Eliminam-se de vez todas as classes sociais, títulos de propriedades, cargos e as diferenças de salários, nas palavras de Lênin “O objetivo do socialismo é o comunismo”.

Depois de Marx e Engels, muitos de seus seguidores elaboraram novas teorias e métodos práticos para implantar o social comunismo no mundo. Entre esses seguidores que deram nova visão e rumo ao marxismo dois são especiais, o russo Leon Trotsky e o italiano Antonio Gramsci.

Podemos dizer que a partir de Trotsky e Gramsci o marxismo se dividiu em duas alas, uma que implanta o social comunismo por meios violentos de revoluções e de guerrilhas proposta por Trotsky e a outra ala proposta por Gramsci, mais científica e sorrateira que não se utiliza da violência para chegar ao poder.

Trotsky que surge por volta de 1908, como fiel seguidor dos princípios marxistas levou o marxismo a suas ultimas conseqüências na Rússia de Lênin e de Stalin. Em 1917 Trotsky se alia a Lênin, dão um golpe de estado, fundam a República Soviética Russa e sem passar pelo socialismo implantam de imediato o comunismo. No cargo de Comissário para a guerra, Trotsky comandou com violência o extermínio de milhares de anarquistas, inimigos e outros supostos adversários.

Antonio Gramsci, teórico marxista italiano mais filósofo e intelectual que guerrilheiro surge por volta de 1915. Chegou a trabalhar com Mussolini sob as ordens de quem foi mais tarde preso. Assim foi na prisão que Gramsci começou a questionar as formas violentas como se tentava ou se implantava o socialismo, principalmente pelas perdas de vidas e materiais.

Nas suas reflexões Gramsci levou em consideração que toda a vez que o social comunismo foi implantado pela força acabou pegando um estado quebrado com fabricas e lavouras incendiadas, cidades destruídas, meios de produção sucateados e o desânimo geral pela morte de parte do povo dominado além da perda de braços para o trabalho.

A Partir dessas constatações Gramsci formulou teorias e escreveu vários artigos e livros onde propunha que ao contrario da luta armada proposta por Marx e Trotsky o novo regime deveria ser implantado pela via pacífica, sem perdas de vidas nem perdas materiais, mas principalmente para pegar um estado em pleno funcionamento. Esses artigos e livros foram enviados e publicados na Rússia.

Segundo a teoria de Gramsci o social comunismo deveria ser implantado lentamente e sorrateiramente nos países capitalistas incutindo nas mentes dos incautos, que normalmente são a maioria da população, a idéia de que o socialismo é o melhor sistema. Começar arregimentando e doutrinando os jovens nas escolas, igrejas e núcleos de estudantes e depois convencer intelectuais, organizações sociais e os partidos políticos a aderirem a causa. Nas palavras de Gramsci “A melhor revolução não é através do cano de uma arma, mas através da ocupação cultural”

Nesse ardiloso e bem elaborado trabalho Gramsci, dá orientações de como solapar e desacreditar as instituições, civis, religiosas, jurídicas e os valores morais. Diz que o proletariado deve criticar as decisões legalistas, o judiciário, as instituições públicas, casas legislativas etc. e diz, ainda, que as forças armadas devem ser objeto de constantes críticas e desmoralizações para passarem a serem vistas pelo povo como ditatoriais e desnecessárias. Que o proletariado deve criar, organizar ou abraçar as causas das classes dos trabalhadores, camponeses, minorias, étnicas, ou raciais e contestar todos os valores culturais.

O proletário deve fundar um partido comunista ou se filiar a um partido de esquerda e através deles e de leis lutar para desarmar a população e controlar os meios de comunicação. Deve fazer propaganda pejorativa de perseguições sobre a atuação da polícia e do próprio judiciário para depois o povo, já sem força, crença e moral ética ou religiosa, aceitar pacificamente e com pura convicção tudo o que for decidido pelo partido do proletariado.

Mesmo assim, alguns líderes populistas que seguiram Trotsky, através de revoluções, lutas de classes, muitas perseguições e execuções, implantaram em seus países o denominado socialismo. Isso se deu na China, Coréia do Norte, Cuba, Rússia, alguns países africanos etc.

Outros países, principalmente na América Latina, optaram pela teoria de Gramsci e por meios legais e sem derramamento de sangue o social comunismo chegou e se instalou no poder. Entre eles podemos citar Venezuela, Uruguai, Bolívia e outros como a Argentina onde o social comunismo estava a um passo de ser implantado e no Brasil onde eles já chegaram ao poder, mas ainda não conseguiram convencer a maioria da população de que o regime deles é o melhor.

De qualquer forma, nos países onde o social comunismo foi implantado apenas parte dos meios de produção passou para o estado, visto que a maioria permaneceu nas mãos dos capitalistas que sob a aparência de uma pretensa social democracia continuou a dar sustentação ao regime, em detrimento do proletariado que se tornou refém do estado. E quando os trabalhadores tentaram tomar o poder, foram ferozmente rechaçados, até porque, tomar os meios de produção é relativamente fácil, o difícil é ter força para romper a resistência do estado, coisa que o proletariado não tem.

Outra constatação é que em todos os países aonde o social comunismo chegou ao poder, além de ficar sem comida e material básico o proletariado perdeu a sua liberdade de locomoção, liberdade de expressão, perdeu o direito a propriedade, teve seus direitos individuais restringidos e só não perdeu o emprego porque ficou obrigado a trabalhar por um minguado salário.

Isso aconteceu e acontece ainda hoje em países como a Coréia do Norte, China, Cuba, Rússia, Venezuela, Bolívia e outros, que embora denominemos comunistas, na verdade eles são socialistas visto que em nenhum deles a revolução passou da primeira fase.

Nesses países, o máximo que o proletariado conseguiu foi a criação de sindicatos e órgãos de classe que lutam por melhores salários e condições de trabalho, mas sob o controle do estado e jamais o proletariado assumiu o poder.

Outro aspecto importante a ser observado é que socialismo não é um sistema concebido já pronto, não nasce por si só como o capitalismo. Ele surge dos escombros de um capitalismo que foi destruído pela revolução ou encampado pelo estado, mas continua a se utilizar das mesmas estruturas de sistemas de produção e financeiro que agora servem para manter os ditadores no poder.

Podemos dizer então que não existe regime socialista que tenha começado do nada, em outras palavras, todo o socialismo surge e se mantém sobre um alicerce de capitalismo pré-existente cujos antigos proprietários foram derrubados a força e dos quais foram tomados os seus bens.

Dessa forma, o socialismo não cria riquezas ele se mantém ás custas de uma riqueza que foi construída pelo capitalismo, e é por isso que muitos autores dizem que o socialismo dura até que o dinheiro dos outros acabe.

Outra constatação é que, conforme foi demonstrado, a adoção por um dos regimes apenas muda a classe que esta no poder e tanto faz ser no Capitalismo quanto no Socialismo, sempre haverá uma classe que manda e outra classe que obedece e logicamente a classe que manda sempre será a mais abastada e privilegiada em detrimento da classe dos que trabalham e obedecem.

É exatamente por este motivo que as classes sociais vivem em constantes lutas, se digladiam ferozmente e passam por cima de leis, convenções e doutrinas religiosas. Em outras palavras, é a eterna luta para se chegar e se manter no poder.

Porém, não se pode negar que apesar das críticas que recebeu e de todas as suas modificações de posições, teorias e práticas, muitas vezes até antagônicas entre si, o Marxismo mexeu ao longo do tempo com as bases do capitalismo, da economia, sociologia e da política em todo o mundo.

Mudou o comportamento da classe empresarial e principalmente o da classe trabalhadora, alterando tanto as relações entre capital e trabalho quanto às relações sociais e tornou-se a base da doutrina social de muitos países como o leninismo na Rússia, o maoísmo na China, a social democracia nos países socialistas, teologia da libertação na América Latina e nas várias outras denominações e movimentos como bolchevismo, esquerdismo, anarquismo e o próprio fascismo.

Apesar disso, sabemos que o resultado da opção pelo marxismo foi nefasto para toda a população onde ele foi implantado, principalmente para a classe trabalhadora que jamais pode realizar o sonho de chegar ao poder.

Não queremos dizer com isso que o que o marxismo seja a doutrina de um regime de tirania ou ditatorial, pelo contrário, Marx, apesar de pregar a luta armada, jamais justificou o cerceamento da liberdade de expressão, de locomoção ou qualquer outra medida que impedisse que as pessoas pudessem sair de suas cidades e países ou de retornarem as suas localidades de origem, até porque, socialismo ou comunismo nasceram para serem sinônimos de liberdade.

O que houve, é que falsos lideres, a maioria surgida dentro do próprio proletariado, vendo ser impossível nivelar a classe dos que mandam com a classe dos que obedecem e movidos pela ganância pessoal, traíram seus companheiros de lutas, pisotearam o marxismo, tomaram o poder, instalaram a ditadura militar e econômica e escravizaram ainda mais os trabalhadores. Em razão disso, o que temos visto hoje, nesses países, são ditadores milionários e uma população miserável.

Antes de encerrar esta nossa exposição é importante esclarecer que, na prática, não existe a tal social democracia como muitos países se denominam, isto é, ou o estado é democrático com liberdade plena para todos os seus cidadãos, ou é socialista onde as liberdades individuais e coletivas são restritas.

Da mesma forma não pode existir republica socialista, isto porque, ou o estado é republicano com todas as suas prerrogativas ou é socialista com todas as restrições próprias desse regime.

Ainda na esteira dessas definições, devemos dizer que o capitalismo é um sistema econômico considerado distribuidor. Já o socialismo é um sistema econômico e político concentrador. Em outras palavras, no socialismo o estado concentra para si as riquezas e no capitalismo as riquezas, embora nem sempre iguais, são distribuídas.

Além disso, é bom lembrar que se o socialismo fosse o melhor regime não haveria razão alguma para as pessoas, mesmo com risco de vida, tentar abandonar sua terra e fugir para os países capitalistas.

Para concluir devemos finalmente ponderar que apesar de tudo, o Marxismo, foi mais uma tentativa de se evitar que os mais fortes escravizassem os mais fracos, mas também somos obrigados a admitir que até hoje ele somente foi usado por maus lideres e para fazer exatamente o contrário.

Jhon Macker
Enviado por Jhon Macker em 17/08/2017
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