OS GRANDES DESAFIOS DA VIDA CONSAGRADA NA COMUNIDADE FILHOS DO CÉU

A missão profética da vida consagrada vê-se provocada por três desafios principais, lançados à própria Igreja e esses desafios tocam diretamente os conselhos evangélicos de castidade, pobreza e obediência, estimulando a Igreja, e de modo particular as pessoas consagradas, a pôr em evidência e testemunhar o seu significado antropológico profundo.

Na verdade, a opção por esses conselhos, longe de constituir um empobrecimento de valores autenticamente humanas, revela-se antes como uma transfiguração dos mesmos.

Os conselhos evangélicos não devem ser considerados como uma negação dos valores inerentes à sexualidade, ao legítimo desejo de usufruir de bens materiais, e de decidir autonomamente sobre si próprio. Essas inclinações, enquanto fundadas na natureza, são boas em si mesmas, mas a criatura humana, enfraquecida como está pelo pecado original, corre o risco da as exercitar de modo transgressivo.

A profissão de castidade, pobreza e obediência, torna-se uma admoestação a que não se subestimem as feridas causadas pelo pecado original, e, embora afirmando o valor dos bens criados, relativiza-os pelo simples fato de apontar Deus como o bem absoluto.

“A vida consagrada, profundamente arraigada nos exemplos e ensinamentos de Cristo Senhor, é um dom de Deus Pai à sua Igreja, por meio do Espirito.

Através da profissão dos conselhos evangélicos, os traços característicos de Jesus – casto, pobre e obediente – adquirem uma típica e permanente “visibilidade” no meio do mundo, e o olhar dos fiéis é atraído para aquele mistério do Reino de Deus que já atua na história, mas aguarda a sua plena realização nos céus.

Ao longo dos séculos, nunca faltaram homens e mulheres que, dóceis ao apelo do Pai e à moção do Espírito, escolheram este caminho de especial seguimento de Cristo, para se dedicarem a ele de coração “indiviso”. Também eles deixaram tudo, como os Apóstolos, para estar com Cristo e colocar-se, com ele, a serviço de Deus e dos irmãos. Contribuíram assim para manifestar o mistério e a missão da Igreja, graças aos múltiplos carismas de vida espiritual e apostólica que o Espírito Santo lhes distribuía, e deste modo concorreram também para renovar a sociedade.

O papel da vida consagrada na Igreja é tão notável que decidi convocar um Sínodo para aprofundar o seu significado e as perspectivas em ordem ao novo milênio, já iminente.

Cientes, como estamos todos, da riqueza que constitui, para a comunidade eclesial, o dom da vida consagrada na variedade dos seus carismas e das instituições, juntos damos graças a Deus pelas Ordens e Institutos religiosos dedicados à contemplação ou às obras de apostolado, pelas Sociedades de Vida Apostólica, pelas Institutos Seculares, e pelos outros grupos de consagrados nas novas formas de vida comunitária e evangélica, como também por todos aqueles que, o segredo do seu coração, se dedicam a Deus por uma especial consagração.

A presença universal da vida consagrada e o caráter evangélico do seu testemunho provam, com toda a evidência que ela não é uma realidade isolada e marginal, mas diz respeito a toda Igreja. No Sínodo, os Bispos confirmaram por diversas vezes: “é algo que nos diz respeito”. Na verdade, a vida consagrada está colocada mesmo no coração da Igreja, como elemento decisivo para a sua missão, visto que exprime a íntima natureza da vocação cristã “e a tensão da Igreja-Esposa para a união com o Esposo. Diversas vezes se afirmou, no Sínodo, que a função de ajuda e apoio exercida pela vida consagrada à Igreja não se restringe aos tempos passados, mas continua sendo um dom precioso e necessário também no presente e para o futuro do Povo de Deus, porque pertence à sua vinda, santidade e missão.

O Sínodo recordou esta obra incessante do Espírito Santo, que vai explanando ao longo dos séculos, as riquezas da prática dos conselhos evangélicos através dos múltiplos carismas, e que, também por este caminho, torna o mistério de Cristo perenemente presente na Igreja e no mundo, no tempo e no espaço (JOÃO PAULO II, Vita Consecrata).

“Desde os começos da Igreja Houve homens e mulheres que, pela prática dos conselhos evangélicos, propuseram-se a seguir a Cristo com mais liberdade e imitá-lo mais estreitamente e, cada um a seu modo, levaram vida consagrada a Deus. Dentre eles, muitos, pela inspiração do Espirito Santo, viveram vida solitária ou fundaram famílias religiosas que a Igreja recebeu e aprovou de bom grado com sua autoridade. Daí nasceu, por divina providência, uma admirável variedade de grupos religiosos, a qual muito contribuiu para que a Igreja não apenas esteja aparelhada para toda boa obra e organizada para as atividades do seu ministério em vista da edificação do Corpo de Cristo, mas apareça também ornamentada com os vários dons de seus filhos, como uma esposa adornada para o seu esposo e por ela se manifeste a multiforme sabedoria de Deus” (Vaticano II,, PC 1).

Painho
Enviado por Painho em 23/06/2017
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