UMA COMÉDIA DE HORROR
 
Em uma comédia pastelão dos anos sessenta, o cineasta Stanley Kramer mostra o quanto as pessoas podem ficar enlouquecidas por causa de dinheiro. O filme chama-se Deu a Louca no Mundo (título em português). A estória passa-se na Califórnia, onde um velho assaltante recém saído da cadeia dirige velozmente por uma estrada, em direção a uma pequena cidade no litoral, onde ele enterrou, décadas atrás, o produto do seu último roubo. Mas na estrada ele sofre um acidente e o carro cai em uma ribanceira. Antes de morrer ele revela para as pessoas que o assistem em seus últimos momentos o local onde ele enterrou a pequena fortuna que havia roubado. A partir daí o filme passa a mostrar as loucuras que as pessoas fazem em busca desse tesouro. Infrações de trânsito, destruição de patrimônio alheio, trairagem, safadezas de todos os tipos para tirar os concorrentes do páreo, corrupção policial, enfim, cada personagem viola todos os padrões éticos e morais e faz qualquer coisa para ser o primeiro a chegar ao cobiçado tesouro.
É mais ou menos o que está acontecendo no Brasil hoje. O mad, mad, mad world do filme de Kramer é aqui. Um presidente que antes era amigo íntimo de um empresário que lhe emprestava jatinhos e financiava suas campanhas - aliás tão amigo que o recebia fora do expediente para uma conversa particular na calada da noite- agora o chama de bandido e ladrão. Outro ex-presidente, que institucionalizou a corrupção e jogou o país na maior crise econômica de todos os tempos, continua sendo o preferido da população para um novo mandato. Um senador e seus comparsas que ontem pediam a cassação da chapa vencedora das eleições presidenciais, agora são o sustentáculo dessa mesma chapa que eles queriam ver cassada. Juízes que deveriam atuar como guardas da Constituição do país, despem a toga e sobem nos palanques para defender políticos corruptos, jogando no lixo do descrédito todo o sistema jurídico do país. Um Ministério Público, que deveria dar exemplo de probidade e desvelo na procura pela Justiça, dá uma de Jesus Cristo na cruz e joga no ralo toda a credibilidade conquistada na Operação Lava a Jato fazendo um acordo espúrio com bandidos delatores, como se bastasse uma confissão de última hora para cancelar todos os mal feitos praticados em uma vida inteira.
No filme de Kramer tudo termina numa sonora gargalhada, quando todos os personagens, deitados em camas de hospital, se recuperando das quebraduras e ferimentos sofridos na amalucada caça ao dinheiro roubado, assistem á escorregadela de uma das personagens em uma casca de banana que um deles jogou no chão.
Ao que parece, pelo andar da carruagem, é assim também que vai terminar essa comédia de horror que nós estamos vendo no país. No fim, uma sonora gargalhada dos políticos, juízes, empresários, funcionários públicos e outros que, de alguma forma, se meteram nessa doida aventura de saque aos cofres públicos. Uma sonora gargalhada, não do tombo de uma velha megera que escapara ilesa, mas da nossa cara, pobres espectadores que estamos assistindo a essa comédia de horror, acreditando que no fim, o bem possa vencer o mal.