Observação da normalidade (publicado originalmente em 20/5/2017)

A atriz parisiense Isabelle Huppert, 54 anos recém-completados, concorreu ao Oscar 2017 pelo filme ‘Elle’ (2016). Não é propriamente uma obra europeia. Ao contrário. Pelas suas características, com o tom taciturno, quase esbarrado no noir, mas sem as fumaças dos cigarros, pode-se dizer que se trata de um thriller de suspense, com alta carga dramática e empolgante.

O diretor é Paul Verhoeven. Este holandês comandou, por exemplo ‘Robocop’ (1987), ‘Instinto Selvagem’ (1992), e ‘Tropas Estelares’ (1997), e estava meio sumido do show de Hollywood. ‘Elle’ o fez por o pescoço para fora d’água, após alguns anos com a batuta virada a obras de qualidade duvidável.

Em ‘Elle’ Isabelle é Michele, diretora de uma empresa de videogames. A fita já começa com a personagem sendo estuprada em sua própria casa, vítima de um desconhecido coberto por uma máscara. Sem se abalar, a jovem senhora segue as suas atividades, como se nada tivesse ocorrido.

Aos poucos, conta o crime a amigos. Por que você não denunciou?, questionam. Michele não sabe dizer. A vida dela é levada com mão de ferro, e a frieza dá a medida de seu cotidiano. Por trás da mise en scène, a figura de Michele destoa do lugar-comum. Só se cerca de pessoas que a odeiam, por exemplo. Isso vai desde os adolescentes funcionários da loja, e passa por vizinhos e parentes próximos. Se personalidade complicada, possui traumas de infância, e neles a figura do pai é presente.

Verhoeven soube usar bem a classe e a delicadeza de Isabelle. Toda a elegância da atriz salta aos olhos na telona e desta forma ‘Elle’ fica mais balanceado. No tempero, os demais artistas do cast se saem bem, muito por conta do bom roteiro escrito por David Birke. Foi só a primeira vez em que Isabelle esteve entre as finalistas da maior festa do cinema.

E mesmo com sua derrota (a vencedora foi Emma Stone pelo modorrento ‘La la Land’) o episódio valeu para provar que existe vida fora dos blockbusters americanos. ‘Elle’ é violento, precisa ser. É provocativo, precisa ser. Aliás, o título desta coluna pegou emprestada uma frase de Verhoeven sobre a película. É na mosca. O resultado que temos é o conjunto de seres potencialmente ‘anormais’ que, no todo, é isso mesmo.

Rodrigo Romero
Enviado por Rodrigo Romero em 01/06/2017
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