Filosofia?

"A superstição põe o mundo em chamas; a filosofia as paga." 

— Voltaire 

"A filosofia é o melhor remédio para a mente." 

— Cícero 

A palavra filosofia, quando proferida, ecoa no ar; desmanchando-se e penetrando — acusticamente — os ouvidos alheios. Mas o conceito em si, de uma forma ou de outra, é vazio: pessoas proclamam a palavra filosofia aqui, ali, acolá e...onde está o significado? Sem o significado correto acerca da filosofia, muitas pessoas continuam sem saber realmente o que ela é; e qual  sua utilidade. Assim, um estranhamento é causado nas pessoas. Esse estranhamento é o que alimenta um certo olhar que, infelizmente, faz-se presente em nossa sociedade: a concepção de que a filosofia não serve para nada; é inútil. (Atenho-me a esta concepção porque, acredito, é a noção — o principal preconceito — diluído no imaginário popular). Mas, afinal, o que é, e para que serve, a filosofia?   

O homem moderno parece descartar a filosofia. Porém, trata-se de ignorância porque, todos sabemos o quanto a  filosofia é importante; não é mesmo? Sim? Não? Sim e não? Ora, com a ignorância, e consequentemente um mar de preconceitos e ódio àquilo que é diferente, a reflexão filosófica é uma bússola em tempos chuvosos e tempestuosos. Sim, isso mesmo: a filosofia é um tipo particular de reflexão; de direcionamento reflexivo. Tudo aquilo que temos como verdadeiro, parafraseando Descartes, na reflexão filosófica, pode e deve (com exceção, segundo Descartes, da existência do próprio ser) questionado. Tudo pode ser posto em dúvida. Certo. Agora, e a utilidade disto? Ora, viver uma vida assentada em noções ilógicas e vãs trata-se, equivalentemente, de não viver. Através da reflexão (filosófica) podemos viver uma vida sustentada em conceitos verdadeiros (ou em conceitos ainda não definidos: aberto à reflexão)

Contudo, a definição de filosofia continua vaga: "Um tipo particular de reflexão...". Certo. Mas o que, realmente, significa isso? Simplifiquemos, pois! Há diversas áreas do conhecimento em que a filosofia se faz presente: direito, medicina, matemática, física, história...a lista é ampla. Porém, no que tange à reflexão filosófica, a particularidade da mesma é a capacidade de questionar a si própria, constantemente. Na religião, por exemplo, incontáveis vezes vemos ou lemos casos de coerção à razão e a reflexão filosófica. Sabem por quê? Porque a filosofia busca saber se os alicerces dos conceitos presentes na religião — ou em outras áreas —, existem realmente. Entenderam? Ela procura saber se as bases na qual o conceito se apoia são verdadeiras. Para isso, é necessário transcender o egoísmo e o comodismo e...questionar. Mas é claro que a reflexão, diferentemente da discussão, é solitária: é uma conversa "para-si". 

Entretanto, mesmo elucidando essas simples palavras, a visão errônea acerca do pensamento crítico ainda existirá em alguns cérebros poucos desenvolvidos. Tolos que não reconhecem o poder e a necessidade da filosofia em um mundo cada vez mais robótico: seres, como que programados, seguindo regras estabelecidas sem fundamentos. Mas o otimismo, nesse caso em particular, faz-se presente em minha mente. Acredito que, mesmo em uma sociedade envolta em trevas (ignorância, religião, pseudo-ciências), ainda haverá um pequena chama, esperando para ser propagada. Uma bússola esperando seu viajante. Nesse caso, a ousadia, a desobediência civil, a revolta, todos os elementos da oposição a ignorância, são necessárias para libertar as correntes que os homens nos colam, diariamente. Filosofemos, pois!