Wall-e – um estudo a respeito da educação atrelada à inovação tecnológica.

Resumo

A tecnologia vem exercendo um papel muito importante e significativo na vida de todos. Wall-e, o filme relacionado neste trabalho, tem como principal ideia a de transformar a tecnologia na principal chave para o conforto e sobrevivência.

Sendo assim, a educação atrelada ao uso de recursos digitais tem capacidade de transformar e adaptar os processos educacionais antes utilizados, visando a formação do indivíduo moderno complementado pela complexidade tecnológica.

Dessa maneira, o trabalho efetuado tem como princípio a análise da distopia de Wall-e e a demasiada utilização dos recursos tecnológicos vinculados ao processo pedagógico, além de ressaltar possíveis intervenções que o conforto e a praticidade decorrentes do uso excessivo da tecnologia podem gerar no homem, como o sedentarismo e a dificuldade de aprendizagem dos ensinamentos básicos de alfabetização.

A educação moderna atrelada à tecnologia e recursos digitais

De acordo com Celestin Freinet (1977, p. 46)

Toda a pedagogia se baseia em instrumentos e técnicas. São eles que alteram a atmosfera da aula, e também o próprio comportamento do professor, e tornam possível este espírito de libertação e de formação que é a própria razão de ser das nossas inovações. Porque é evidente que este material e estas técnicas devem ser empregues com um determinado objetivo que é o que já definimos: formar o indivíduo culto e rico de possibilidades, portanto, dentro de um determinado espírito.

Baseando-se em tais ideais e relacionando-os à educação demasiada tecnológica empregada em alguns colégios hoje em dia, pode-se compreender que toda ação empregada na sala de aula e pelo professor definem e almejam um objetivo. Sendo assim, pode-se compreender que ao explorar e inserir os alunos em um universo sustentado pelos recursos digitais torna-se cada vez mais anacrônico o ensino efetuado de maneira mais tradicional.

Visando uma educação que investe em aparelhos tecnológicos e busca a inserção de seus atuais educandos em futuros profissionais capazes de adaptar-se à demanda digital a que somos submetidos diariamente, torna-se evidente que o processo de aprendizagem passou por diversas mudanças.

Por exemplo, ao implantar em salas de aulas tablets e computadores busca-se um aproveitamento do aluno no que diz respeito ao seu desenvolvimento tecnológico e sua capacidade de lidar de forma adequada aos recursos digitais que lhe são ofertados. Assim, é evidente que cabe às escolas o dever de modificar e adaptar-se à demanda digital atual.

Segundo Moran (2007, p.167)

Quanto mais avançadas as tecnologias, mais a educação precisa de pessoas humanas, evoluídas, competentes, éticas. São muitas informações, visões, novidades. Assim, a sociedade torna-se cada vez mais complexa, pluralista e exige pessoas abertas, criativas, inovadoras, confiáveis.

É possível encontrar diversos registros relacionando as tecnologias como ferramentas importantíssimas para o desenvolvimento econômico e da inclusão social no Brasil. Sendo assim, não podemos fechar os olhos para o papel que a inclusão digital ocupada na sociedade, menos ainda no que diz respeito à educação.

Mas, em contra partida a esses fatores que fazem da tecnologia e da inclusão digital como algo de extrema importância e benéfica para a atual “sociedade digital” que vivemos, está a crescente problematização referente ao desempenho dos alunos em quesitos que, antigamente, eram tidos como essenciais para a boa formação.

Não é raro evidenciar crianças que, ao estarem inseridas no âmbito tecnológico, seja por meio dos computadores, dos vídeogames ou dos celulares, têm um desempenho absolutamente satisfatório e conseguem atingir níveis inacreditáveis de compreensão e habilidade com os softwares e hardwares. No entanto, será que essas mesmas crianças conseguem ler um livro inteiro com o nível antes alcançado?

É cada vez mais difícil presenciar uma criança sem contato demasiado com os recursos tecnológicos, uma vez que isto acarretaria em uma possível exclusão social de grupos em que convive ou o estranhamento dos demais. Assim, é completamente aceitável que, cada vez mais cedo, o uso da tecnologia faça parte da vida de todos.

Diante disso, uma pergunta surge: Qual o papel da inclusão digital no que diz respeito ao aprendizado e convívio social?

Evidentemente, a internet assume um papel importantíssimo quando relacionada à pesquisas e construção de conhecimento, mas nem sempre sua utilização é feita para alcançar tais objetivos. O crescente acesso às redes sociais e a conteúdos não tão construtivos revela um caráter muito explorado por todos que utilizam tais recursos.

Pode-se dizer que, em muitos casos, a busca constante pela atualização e visualização das novidades que são colocadas na rede tornam a vida cotidiana em algo exclusivamente tecnológico. Ou seja, a dependência e a utilização feitas de forma excessiva acarretam em uma sociedade demasiadamente digital, o que pode ocasionar diversos problemas.

Entre eles, está o sedentarismo, fruto da predominância de tempo utilizado para permanecer conectado ou desfrutando de tudo o que o mundo digital pode trazer. Crianças, cada vez mais jovens, sofrem com o sedentarismo e a obesidade, muitas vezes relacionados à grande utilização de recursos tecnológicos.

Estes são os mais variados possíveis: televisão, computadores, tablets, videogames, controle remoto, celulares, videogames portáteis, etc. Claramente é muito atraente à essas crianças a imensidão alcançada pela utilização de tais instrumentos em comparação com objetos que, antigamente, eram tidos como brinquedos divertidos. Torna-se, portanto, cada vez mais difícil retirar ou diminuir o uso destes produtos. Sendo assim, o tempo gasto em frente aos recursos tecnológicos é cada vez maior.

Outro importante problema ocasionado/incentivado pela demasiada digitalização e globalização é o processo de aprendizagem. Usa-se muito pouco da leitura e da escrita no dia a dia e, evidentemente, isso agrava-se com o passar do tempo. Tornou-se pouco usual a utilização da documentos, trabalhos ou lições manuscritas, o que prejudica o processo de alfabetização das crianças.

Como a demanda digitalizada é muito mais acessível para todos que têm acesso à tecnologia, o ato de escrever carrega consigo um conceito que beira o anacronismo, transformado em algo quase supérfluo. Sendo assim, será que a inclusão digital carrega consigo apenas prós no que diz respeito à vida em sociedade? Provavelmente não.

Wall-e: a influência da educação tecnológica nas relações interpessoais

Segundo Moran (2007, p. 169):

Encontraremos na educação novos caminhos de integração do humano e do tecnológico; do racional, sensorial, emocional e do ético; do presencial e do virtual; da escola, do trabalho e da vida em todas as suas dimensões.

Evidentemente a educação tem o poder de integrar, seja o homem ao mundo tecnológico, integrar raças, pessoas, sentimentos e concepções, no entanto, o filme Wall-e retrata o contrário.

Na aeronave Axiom as relações interpessoais são meramente tecnológicas. O contato não é valorizado e todo o universo humano é sustentado por intermédio da tecnologia. Mostra-se que a troca de informações entre seus moradores é efetuada através de recursos tecnológicos e não é possível a interação física entre eles.

Em determinado momento do filme é retratada uma “sala de aula”, nela as crianças são treinadas para a utilização dos softwares usados dentro da aeronave e não há incentivo por parte dos “professores”, que são máquinas, em estabelecer atividades físicas e corporais, apenas dando espaço à tecnologia diária.

Desta maneira, o destino dessas crianças certamente será vinculado ao lado tecnológico e as práticas efetuadas com ele. O que pode se esperar desse convívio é a questão mais rasa das relações pessoais existentes.

Tentando aplicar tal visão tida na distopia do filme, pode-se verificar que as relações tornam-se cada vez mais escassas e frágeis. As redes sociais, os emails e a internet, como um todo, vêm tomando o lugar do que antes era feito através do bate papo e olho no olho.

Os celulares, por exemplo, conseguem ocupar uma colocação de prestígio na vida da imensa maioria, sendo explorado minuto a minuto. Programas como Whatsapp e Skype vêm adquirindo uma capacidade estrondosa de conectar as pessoas e mantê-las cada vez mais próximas no que diz respeito à sua vida digital.

No entanto, o contato físico e as relações pessoais são estabelecidas quase sem predominância. Em restaurantes, escolas, faculdades, parques, etc., é nítido o papel ocupado pelos instrumentos tecnológicos e o crescente distanciamento entre os seres humanos.

Nas salas de aulas contemporâneas, por exemplo, a presença dos celulares e dos tablets tornou-se cada vez mais comum, revelando a adaptação humana. Antigamente, com o surgimento do rádio e da televisão, achava-se que as pessoas perderiam o hábito da leitura e que os espetáculos teatrais receberiam possível desmerecimento.

Hoje, o que podemos observar é que a demasiada inserção tecnológica pode, futuramente, fragilizar e interromper um processo importantíssimo para a formação social e pessoal dos indivíduos. Será, portanto, que cada vez mais o distanciamento humano terá incentivo pela adaptação do homem à tecnologia?

Claramente a integração social vem sofrendo mudanças, ocasionando em um processo de “dessocialização”. Ou seja, a valorização do corpo a corpo é quase inerente em comparação com as relações estabelecidas por intermédio das mídias digitais. O diálogo e a troca de informações recebem pouco investimento das pessoas e cultura globalizada vem tomando o lugar das práticas antes utilizadas para conhecer pessoas ou manter vínculos com elas.

Neste aspecto, o filme mostra uma ideia bem contraditória quando analisada a relação entre o robô Wall-e e a recém chegada à Terra, Eva. A ligação amorosa entre as duas máquinas contrasta com a falta de ligação entre os humanos, potencializando a interferência que a tecnologia pode ter sobre eles.

Seja por conta da tecnologia ou não, o que deve ser observado no filme e levado em consideração na vida real é o poder que a globalização e a digitalização têm sobre todos. Neste aspecto, o social e o interpessoal sofrem alterações e mutações de percurso, levando os indivíduos à escassez de relações externas e de prejuízo no processo de socialização.

A relação entre a tecnologia e a distopia do filme Wall-e

O filme Wall-e retrata a vida no futuro (2805) guiada e submetia apenas aos recursos tecnológicos. As pessoas têm seus hábitos modificados para a adaptação a esse universo sustentado pelos recursos digitais. Na nave Axiom, local onde todos os ex-moradores da Terra moram, o nível de inserção digital é tão intenso que até o corpo humano se modificou de acordo com a demanda de atividade física quase nula que lá ocorria.

Todos vivem em cadeiras “flutuantes” e o esforço físico necessário para a realização de atividades corriqueiras não acontece. Para escovar os dentes ou pentear os cabelos não é preciso nem levantar a mão, um simples botão apertado traz a solução.

No que diz respeito à trajetória educacional dentro da aeronave, é possível verificar que a tecnologia recebe incentivo por parte dos mais velhos e as crianças, dessa maneira, recebem algo comparado a um treinamento para que consigam viver com demasiado conforto e sedentarismo proporcionados pela tecnologia.

Fora da nave, na Terra de hoje, tais traços de submissão aos recursos tecnológicos já são nítidos, tanto em pessoas de mais idade e experiência como em crianças que estão em seus primeiros anos de vida. O conforto e a praticidade trazidos por aparelhos instigam o desejo humano, e interferem diariamente nas relações interpessoais, educacionais e físicas.

Dessa maneira, a busca pela adaptação aos tempos modernos e a intenção de alcançar o maior público possível, transforma algumas instituições de ensino em fontes para a vida globalizada e digital.

Como justificativa temos o ideal de preparar seus alunos em futuros trabalhadores, inseridos de forma efetiva no mercado de trabalho. Esse trabalhador, por sua vez, deverá ter domínio de softwares cada vez mais complexos e capacidade de lidar com aparelhos cada vez mais inovadores.

Claramente vivemos em um ciclo. Hoje somos inseridos nas novas tecnologias e amanha serviremos como peça de um sistema ligado à ela.

Referências Bibliográficas

MORAN, José Manuel. A Educação que desejamos: Novos desafios e como chegar lá.

Campinas, SP: Papirus, 2007. P. 167 – 169.


FREINET, Celestin; SALENGROS, Roger. Modernizar a escola. Lisboa, Portugal. Distribuidora Nacional de Livros, 2007

STANTON, Andrew. WALL-E – Pixar Animation Estudio. EUA, 2008.

Julyana Cavalcante Teixeira
Enviado por Julyana Cavalcante Teixeira em 20/04/2017
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