QUANDO SE MATA UM AGENTE PÚBLICO, ASSASSINA-SE O ESTADO

* Por Herick Limoni

“O homem é o lobo do homem” – Thomas Hobbes

Ao escrever sua mais famosa obra - O Leviatã - Thomas Hobbes descreve o homem como um ser egoísta, que para satisfazer seus anseios desconhece a lei e a justiça. Nessa guerra de “todos contra todos”, os mais fortes e astutos se sobressaem, subjugando os demais que não têm as mesmas qualidades. Para solucionar esse impasse entre desejos pessoais e coletivos, Hobbes sugere a adoção de um pacto social, o qual deveria ser seguido por todos e coordenado pelo Estado, o leviatã.

Escrito no século XVII, a obra se mantêm extraordinariamente atual, pois o homem ainda hoje continua sua luta particular de “todos contra todos”, desrespeitando as leis e os poderes constituídos, os quais foram criados para mediar os conflitos cotidianos e evitar o caos. Entre esses poderes estão as polícias, por muitos consideradas como a última barreira entre a ordem e a desordem completa.

Esse desrespeito às leis e à vida do próximo tem sido cruel com os agentes de segurança pública em todo o país. Cotidianamente policiais militares, civis, federais, guardas civis municipais estão sendo assassinados, em serviço ou fora dele, em razão ou não de sua profissão. São dados que assustam, pelo menos a alguns, pois a maioria não parece se importar com essas perdas que lhes representam somente mais um número na estatística. Dados de uma pesquisa realizada no ano de 2012 pela Folha de São Paulo revelaram que, no Brasil, um policial é assassinado a cada 32 horas. Quase um por dia.

No último dia 13, o Soldado da Polícia Militar do Estado de São Paulo, Erick Henrique, foi assassinado por bandidos quando tentava intervir em uma ocorrência de roubo a carro forte. O policial, sabidamente com menos recursos e armamento inferior aos dos criminosos – rotina em todas as polícias do Brasil – não se furtou de sua missão constitucional de preservar, e quando rompida, restaurar a ordem pública, sendo atingido fatalmente com um tiro de fuzil na cabeça. Fora as homenagens dos familiares e companheiros de profissão, não houve manifestações e nem protestos por justiça. Não houve interdição de vias. Não houve pneus queimados. Não houve faixas de luto. Não houve gritos de "assassinos". Afinal, era “apenas” mais um! Já se fosse o contrário...

O silêncio e a letargia dos demais não foi em respeito ao luto dos familiares, mas em desrespeito a uma profissão há muito desvalorizada pela sociedade que defende. Ao se manifestar sobre o ocorrido, uma jornalista de uma emissora afiliada à Rede Globo de televisão chegou ao absurdo de sugerir que o Sd Erick foi assassinado por ter enfrentado os bandidos, ao passo que os vigilantes que não os enfrentaram tiveram a vida poupada. Antes tivesse ficado calada.

Recentemente, com a soltura do goleiro Bruno pelo Supremo Tribunal Federal, houve grande repercussão e diversas manifestações contrárias a sua liberdade. No dia de sua apresentação a um time de futebol da cidade de Varginha, Minas Gerais, houve protestos de grupos feministas que não aceitavam a contratação de um dos acusados do assassinato da até então desconhecida Elisa Samúdio. Mulheres vestiram-se de preto, rostos foram pintados, cartazes de repúdio foram escritos. Tudo isso pelo assassinato cruel e covarde de uma pessoa. Não há vida mais valiosa que a outra. A vida de Elisa não vale mais do que a do Sd Erick, tampouco a dele vale mais do que qualquer outra. Como bem mais precioso que Deus nos concedeu, deveríamos ficar indignados com qualquer assassinato. Mas por que não houve protestos após a morte do Soldado? Por que não há protestos quando morre um policial, um bombeiro ou qualquer outro agente do Estado? É uma reflexão que deixo aos leitores.

Dias após os protestos feministas contrários à contratação do goleiro Bruno, já circulavam pelas redes sociais fotos dele com diversos torcedores, inclusive crianças. Não nos cabe recrimina-lo, afinal de contas, segundo nossas leis, ele faz jus à liberdade concedida e, ao contrário de muitos outros assassinos e bandidos, resolveu procurar trabalho ao invés de continuar na vida criminosa. Mas daí a ser tietado por pessoas que sabem de seu passado é um pouco demais.

Tudo isso me fez refletir em algumas coisas com as quais gostaria que vocês, que se aventuraram a ler esse texto, também refletissem:

1) Com relação à morte do Sd Erick

QUAL É O TIPO DE POLICIAL QUE QUEREMOS? AQUELE QUE ENFRENTA O PERIGO EM NOME DA SOCIEDADE, E POR ISSO MUITAS VEZES PERDE A VIDA OU AQUELE QUE RECUA PARA PRESERVÁ-LA, DEIXANDO A SOCIEDADE À MERCÊ DOS CRIMINOSOS?

2) Com relação às fotos com o goleiro Bruno

QUEM SÃO NOSSOS VERDADEIROS HERÓIS?

Pensem nisso, e quem sabe um dia o homem deixará de ser o lobo do homem.

PS – Aos familiares e amigos do Sd Erick e de tantos outros agentes do Estado que foram assassinados, minhas sinceras condolências.

*Bacharel e Mestre em Administração de Empresas

Email: hericklimoni@yahoo.com.br