Os Loucos que Conheci no Hospício

Os Loucos que Conheci no Hospício

Fui internado na unidade psiquiátrica da Fhemig em Barbacena.

Antes dos anos 90 os hospícios eram um verdadeiro inferno, mas nos dias de hoje

a comida é gostosa e tem até sobremesa!

O Administrador

Conheci Solon, um homem com faculdade, não lembro qual, acho que era administração

ou economia, mas, achava a profissão estressante, por isso abriu um salão de cabeleireiro,

a família dele não gostou, falou que ele estava louco e mandou interna-lo.

O Filosofo

Conheci também um filosofo, mas agora não lembro o nome.

Lembro que eu fumava cigarro da marca Free com ele,

Ele ficava a maior parte do dia fazendo cálculos e anotações,

Ele não deixava a gente ver, mas parece que ele também sabia física.

Quando a gente perguntava o que era aquilo, ele não respondia.

Mas também, imagine que ele esteja descobrindo algo parecido com

a Energia Livre de Gibbs ou a Teoria da Relatividade, quem acreditaria?

Se ele tentasse explicar, ninguém entenderia, e riria mais ainda.

Esse velho filosofo no hospício conversava pouco, mas quando

conversava, falava de um jeito digno de um filosofo.

Eu perguntei a ele qual livro ler para aprender filosofia, ele respondeu:

Filosofia é a arte de pensar, se você tentar aprender filosofia em algum livro,

vai aprender a arte de copiar pensamentos.

O Viajante

Também conheci no hospício um homem chamado Edson, ele só andava com a bíblia,

mas, um dia, pra minha surpresa, descobri que ele não sabia ler. Fiquei mais

surpreso ainda quando descobri que ele não compreende, não conhece, nem mesmo

os números! Ele era uma criança que nasceu nas ruas e nunca teve nem 1 dia de escola.

Cresceu, viajou o Brasil inteiro enfiado embaixo de caminhões e carretas,

sabe cantar todas as músicas sertanejas de caminhoneiros.

O Homossexual

Por um breve período em que eu estive internado, houve um homossexual na Fhemig.

Mas ele era um gay louco mesmo! Falava pro Coordenador da Fhemig que o achava lindo,

que queria chupa-lo, usando a linguagem mais depravada que poderia haver.

O Cartomante

Rubens, o meu melhor amigo na Fhemig, já tinha sido internado 5 vezes, essa era a 6ª vez.

Eu perguntei a ele o motivo da internação dele, fiquei sabendo que ele é internado por

motivos completamente banais como por exemplo não arrumar a cama depois de acordar.

Mas, se ele arrumar a cama todos os dias, a mãe dele acha que tem algo estranho, diz

que ele está louco e manda interna-lo. Conversando com ele eu descobri muitas coisas,

coisas que ninguém da Fhemig sabia, como por exemplo que ele sabe interpretar as cartas

do Tarô. Usando um baralho, a gente fez várias sessões de tarôt e eu recebi iluminação.

Muitas pessoas curiosas quando viram as sessões, também quiseram experimentar, tanto

pacientes como médicos. Rafael, um enfermeiro, pediu para fazer uma sessão a sós com

o Rubens, então todos saíram mas eu fiquei escondido assistindo a sessão.

O Rafael perguntou sobre a enfermeira gata que tinha lá, quais as chances dele ficar com

ela, então o Rubens mandou ele tirar uma carta, a carta retirada do baralho era uma

dama em busca de riquezas, Rubens respondeu que a enfermeira só ficaria com ele se ele

fosse mais rico. Hahahaha...

O Perturbador da Paz

Eu fui internado na unidade psiquiátrica da fhemig pois tinha um som de 1.500 Watts,

a noite eu ia para os fundos da casa que era um local semi aberto, ligava o vídeo game

em um data show que projetava a imagem em mais de 100", também ligava no som,

Então jogava jogos de tiro, as pessoas que passavam na rua pensavam que estava

acontecendo um tiroteio de verdade dentro da minha casa, mas era muito surreal

para ser real, pois havia sons de explosões das granadas, sons altos dos passos dos

personagens... O vizinho pedia para eu abaixar o volume, mas se não fosse altíssimo,

para mim não tinha graça, então o vizinho enfiava o braço pelo portão da minha casa

e desligava meu padrão. Um dia eu passei um cadeado no padrão pra ele parar de fazer

isso, mas o meu vacilo foi no dia que eu liguei o equipamento de madrugada,

a rua inteira ligou pra policia, de manhã a policia invadiu lá em casa e levou tudo,

disse que só ia devolver o que tivesse nota fiscal, também me levaram pra delegacia,

de lá eu fui encaminhado pro hospício.

O Tráfico de Chocolates

No inicio desse texto eu disse que na Fhemig de hoje em dia tem até sobremesa,

mas são sobremesas light como salada de frutas, mousse de leite ninho,

doce de gelatina, essas coisas. Nenhum visitante pode levar chocolate

pois tem muitas pessoas diabéticas lá dentro que não se controlam.

Então a gente pedia nossos amigos que nos visitavam para estacionar

nos fundos da unidade e passar as caixas de bombom pela janela. Hahahaha...

Escritor Mascarado
Enviado por Escritor Mascarado em 20/02/2017
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