A Quadratura do Círculo-cap. 26

Mas o que estou novamente fazendo? Falando do amor entre um homem e uma mulher? Seria essa a coisa mais importante do mundo? Por isso todos os românticos se trucidaram e, todos esses amores nesses moldes foram infelizes; os que deram certo foram aqueles em que não se foi muito exigente, como estou fazendo agora , me corrigindo. Pensassem os homens assim e o progresso do mundo seria infinitamente maior e, não teríamos lamúrias, e, páginas e mais páginas de romances inúteis.

Assim penso agora; que bom que não foi tarde demais; a Rafaela não exige demais de mim, e nem eu dela; a maior parte do que faço ela nem entende e, na sua simplicidade, tem como algo importante, de gente sabida; o mesmo com a família dela; se ,antes, era tido como chinfrim pela família de Paloma, agora me consideram com certa distinção e respeito; me chamam de “senhor professor”; algo meio inatingível e de certo respeito, apesar do pouco prestígio que essa profissão vem tendo ao longo dos anos, aqui e em outro lugar.

Cansei-me do Apolônio; todas essas indagações pseudofilosóficas me entendiam; não quero saber de autoajuda; parece que o sonho desse indivíduo era escrever um livro nesses moldes; que horror! Nada mais distante de mim; não pretendo ajudar ninguém a ser “feliz”; o que é esse sentimento pobre e pequeno-burguês de felicidade? Disse isso, francamente , a Apolônio:

-Mas o que é ser feliz? Se um dia atingir esse sentimento, vai ser uma morosidade; o que vou fazer depois? Não há certa graça no sofrer, para depois atingir uma satisfação? E como ela será grande por isso?

Ele pensou, depois disse:

-não deixa de ter razão, porém os homens visam a felicidade e buscam evitar o sofrimento, senão a vida seria um tormento e não teria sentido.

Admirei-me da resposta tão singela e sofrível; estava agora duvidando da capacidade desse indivíduo e me iludindo. Olhava para a pilha de gibis da Mônica pelo casebre; ele era fã inveterado desse personagem; nada contra, mas o que poderia esperar de um marmanjo que tinha essa idade mental?

Tirei duas notas do bolso e coloquei em cima da mesa:

-Agora chega; é melhor encerrarmos nossa “amizade” por aqui; já deu?

Ele ficou branco e vermelho:

-Mas...como?

-Sei que suas informações são tiradas, principalmente do Vade Mecum e do Conhecer, com um pouco de Seleções; eu também lia; meu pai as colecionava. Mas, já chega; isso não me basta. Você nunca teve um sentimento de inquietação com a vida? Nunca? Acha que tudo um dia vai ser maravilhoso e encantado? Ainda tem esperanças....Não, não me serve; adeus!

Ele ficou estupefato; eu também;mas foi melhor assim. Nunca mais voltei àquela cabana.