Mães que são pais

Dia dos Pais chegando, as redes sociais se enchem de homenagens e propagandas comerciais emocionantes, exaltando todas as grandes qualidades da figura paterna. Infelizmente, em casos que o homem abandona a família, mães se veem obrigadas a assumir papel dessa figura, além da materna: ela se desdobra para trabalhar, cuidar da casa, levar e buscar na escola, ajudar na tarefa, ensinar o certo e errado, ir às reuniões da escola.

Apesar de não caber à sociedade julgar uma mãe solteira, nada do que ela fizer nunca será bom aos olhos alheios. Prova disso é um post que recebeu muitas críticas, publicado na página no Facebook “Cade você?”, que divulga relatos sobre abandono familiar: “Eu tô cansada de ser mãe, queria ser pai. Ele tem pós, fala inglês, viaja o mundo. Não consigo frequentar meu cursinho, saio todo dia na penúltima aula para pegar meu filho na escola particular que ele paga. Bom pai, paga pensão alta, tem que valorizar. Mãe não presta”.

Parece que para o pai, basta pagar pensão. A mãe sempre vai ter as atitudes reprovadas. E quando ousa reclamar, ela é duramente criticada. Afinal, onde já se viu dedicar parte de seu tempo para trabalhar, estudar, tem que cuidar da criança. Mas ela também precisa ganhar dinheiro para dar um bom futuro ao filho, não dá para viver só de pensão, tem que trabalhar, estudar. Uma contradição que leva muitas mães a sentirem culpa por não conseguirem fazer mais.

Por isso, é necessário que as pessoas pensem antes de dizer que as mães solteiras deviriam ter escolhido uma pessoa melhor para ser pai dos filhos delas, ou que elas não são suficientes no desempenho do papel de mãe e pai. São impiedosos os sacrifícios de quem cria filho sozinho. Sacrifícios muito longe de pegar a criança uma vez no mês e pagar pensão para não ser preso. Afinal, laços afetivos mostrados nas homenagens e nas propagandas só são verdadeiramente construídos através de colaboração, afeto e convivência, não bagagem genética.

Suzannah Harrison
Enviado por Suzannah Harrison em 17/08/2016
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